As tensões entre Estados Unidos e China envolvendo em Taiwan podem não ter se transformado em conflito, mas um embate direto, ainda que apenas diplomático, poderia trazer impactos importantes para as economias brasileira e cearense.
Segundo especialistas, pelo lado negativo, o preço dos produtos importados tende a subir por conta de choques de mercado, prejudicando alguns setores locais, mas as exportações no Estado poderiam ser favorecidas.
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De acordo com Ricardo Coimbra, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon) no Ceará, as chances das tensões em Taiwan descambarem para um conflito real entre os Estados Unidos e a China são improváveis. Contudo, ele destacou ser importante estar atento ao impacto ao mercado de condutores e semicondutores, do qual Taiwan é um dos maiores players.
Os últimos choques diplomáticos, explicou Coimbra, podem fazer parte de uma estratégia do país norte-americano de tentar reduzir a dependência do fornecimento desses insumos nos próximos anos.
Uma crise de abastecimento de semicondutores, como já aconteceu durante a pandemia, poderia gerar uma nova pressão inflacionária nos produtos eletrônicos, como celulares e notebooks e nos veículos novos e seminovos.
Com um possível embate, o economista destacou que cadeias produtivas podem ser travadas por conflitos concretos ou até por embargos econômicos.
"Essa última crise no fornecimento de semicondutores impactou o crescimento inflacionário no mundo, e a movimentação dos Estados Unidos pode ter relação com essa produção de semicondutores e pulverizar isso no mundo para ter mais polos e tentar diminuir os impactos de uma possível crise", disse.
"Computadores, veículos, celulares, isso pode ficar mais complicado. Podemos ter uma queda de produção e comercialização e isso pode gerar impacto na produção mundial. Boa parte dos computadores precisa de semicondutores e se tivermos um problema no escoamento, os produtos novos e seminovo podem ficar mais caros. Na pandemia nós vimos isso com questões relacionadas ao mercado automobilismo", completou Coimbra.
Já o economista Eldair Melo, também membro do Corecon, projetou que um choque entre Estados Unidos e China poderá afetar a importação de produtos manufaturados no Brasil, vindos principalmente da Ásia. A lista inclui tecidos, roupas, acessórios, eletrônicos de pequeno porte e peças, por exemplo.
Atualmente, os principais parceiros comerciais do Ceará para importação são EUA, China, Emirados Árabes, Índia e Argentina. Enquanto os principais compradores de produtos cearenses (exportação) são EUA, México, Itália, Espanha Canadá e Argentina.
Esses possíveis entraves nas cadeias produtivas, segundo Melo poderiam ter um reflexo direto na economia brasileira, esfriando parte da atividade econômica e prejudicando o desempenho do Produto Interno Bruto brasileiro durante o próximo ano.
Uma nova crise dos semicondutores e uma pressão inflacionária dos produtos importados, que ainda podem gerar um enfraquecimento do câmbio no Brasil, podem ser definitivos para zerar as taxas de crescimento em 2023.
"A tendência, caso haja um conflito ou entraves diplomáticos, é de freio da economia porque os investidores parariam por completo os investimentos. Apesar dessa crise gerar oportunidades, o conflito é ruim no momento de recuperação econômica", explicou Eldair.
"O ano de 2023 poderia ser perdido. Temos algumas medidas do governo Bolsonaro até dezembro, então o efeito inflacionário já deve vir a reboque, chegando com mais força em fevereiro. Além disso, ainda temos a piora da inflação, já que algumas medidas tributárias não tiveram o efeito esperado, e o Auxílio Brasil também acabaria no fim do ano. Então uma nova crise, teria impactos profundos", completou.
Apesar das perspectivas negativas, ambos os economistas destacaram haver a possibilidade de impactos positivos nas exportações cearenses a partir de embates diplomáticos entre Estados Unidos e China.
Os especialistas destacaram um cenário semelhante ao de anos passados, quando o ex-presidente Donald Trump criou embargos à entrada do aço chinês nos EUA.
A medida acabou potencializando as relações comerciais de empresas no Estado com a China, ampliando os resultados da balança comercial a partir da venda de aço e alguns outros produtos.
"Com certeza, caso essas tensões se elevem, e haja a aplicação de embargos entre China e Estados Unidos, vamos exportar mais para os Estado Unidos, mas é preciso esperar todas as definições políticas para se ter uma visão mais clara do que pode ser gerado de efeito mais concreto na nossa economia", disse Eldair Melo.