Preços da gasolina e etanol ficam no mesmo patamar em Fortaleza; entenda os motivos

Questões de mercado para revendedores, variação cambial e safra do etanol foram apontados como os principais fatores para a manutenção dos altos preços

Legenda: Preços do etanol e da gasolina ficam em patamares muito próximos em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

O mercado de combustíveis no Ceará, e em Fortaleza, vive um momento ímpar, com diversas flutuações e situações notáveis.

Além de ter o litro do diesel sendo negociado por um valor superior aos demais, vários postos apresentam uma paridade de preços para a gasolina e o etanol, reduzindo o potencial econômico do álcool.

O fenômeno, segundo os especialistas, tem relação direta com o período de safra e modelos de negócios que vêm sendo impactados pela cotação do dólar e as margens de lucro das distribuidoras no setor. 

De acordo com Bruno Iughetti, consultor da área de petróleo e gás, como o etanol está fora do período de safra, os preços passam por uma movimentação de alta, fazendo com que os preços nas bombas em Fortaleza registrem valores próximos ao da gasolina. 

Nesta segunda-feira (18), em diversos postos de Fortaleza, o preço do etanol estava em R$ 5,59 enquanto o litro da gasolina era de R$ 5,67, uma diferença de R$ 0,08. 

A opinião é corroborada pelo economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará, Vicente Ferrer, que ainda destacou os ganhos das distribuidoras de combustíveis e as pressões do mercado internacional como pontos importantes para o encarecimento do combustível.

Como as cadeias produtivas estão desreguladas no mundo, as exportações de combustíveis, influenciadas pelas variações do dólar, também registraram alta e aparecem como fator de pressão para os combustíveis em geral. 

"O preço do etanol varia conforme a safra, do dólar, que influencia a produção e comercialização do açúcar no mundo todo. O álcool poderia estar muito barato se não estivesse tão associado a questões do mercado de distribuidoras", disse Ferrer. 

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Tendência de baixa 

Apesar do cenário negativo, a tendência, segundo Iughetti, é que o etanol passe a ter ganhos de competitividade a partir das próximas semanas, com um pico de redução de preços entre outubro e novembro.

Uma das razões para a perspectiva favorável ao bolso dos consumidores é justamente a safra de etanol da região Centro-Sul do País, que pode ajudar a descomprimir a demanda pelo combustível. 

"O preço alto do etanol tem uma razão principal para se manter, que é o efeito da safra no Centro-Sul, que começou em julho, e consequentemente a oferta deverá começar a melhorar a um patamar excelente pela questão de disponibilidade. Essa tendência deve durar por algum tempo e teremos um comportamento de baixa até outubro e novembro desse ano, quando o etanol deverá estar bem mais competitivo", destacou. 

Legenda: Safra do etanol deverá dar mais competitividade ao combustível até o fim de novembro
Foto: Fabiane de Paula

Quando vale a pena usar etanol? 

Ambos os especialistas reforçaram que o consumidor só deve optar pelo etanol quando o preço de revenda do litro do combustível representar 70% do registrado para a gasolina

Ou seja, se o preço do etanol estiver R$ 5,69, e o da gasolina estiver R$ 7,59, é só dividir o valor do etanol pelo da gasolina. Se o número for menor que 0,7, vale mais a pena usar etanol. Se der acima de 0,7, é preferível usar gasolina.

"Com o comportamento das bombas é importante que o consumidor que está buscando economizar faça o cálculo dos 70%, esse é o parâmetro", afirmou Iughetti. 

Estabilização de preços

Outro ponto destacado pelos especialistas é o de estabilização dos preços dos combustíveis nas próximas semanas, considerando que os impactos da última redução tributária do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) já teriam sido assimilados pelo mercado. 

Além disso, boa parte das distribuidoras já teria repassado o restante dos estoques com os preços antigos. Essa configuração no mercado deve ser responsável apenas por uma leve queda, de 0,5%, nos preços do diesel. 

"Eu acredito que ao longo da semana, o preço dos combustíveis se estabilizem. Ainda existia uma parte de revendedores que compraram produtos antes da redução, mas era muito pouco, então as coisas deverão se nivelar e a gasolina deve se estabilizar nesse patamar, enquanto o diesel pode ter uma queda 0,5% porque o ICMS do diesel não foi tão alterado assim", explicou Iughetti. 

Impacto do etanol na gasolina 

Enquanto a safra não volta a influenciar o mercado, contudo, apesar do cenário de estabilização, a pressão sobre oferta e demanda de etanol deve seguir respingando em outros combustíveis, como a gasolina, segundo Vicente Ferrer.

Ele destacou que os preços elevados de etanol, por conta da composição de 25% no combustível comercial, acabam segurando os valores de revenda da gasolina também em um patamar mais alto. 

"Isso tudo é muito complicado e agora que estamos vendo uma queda do preço no barril de petróleo. A tendência é que isso se normalize isso no longo prazo, cabendo até um estudo tributário desses produtos no mercado brasileiro, mas separando os tipos de gasolina e o álcool. Não cabe mais essa relação que existe atualmente, até porque temos de discutir a necessidade do carro elétrico, o que, a longo prazo, deve aumentar a percepção para cada tipo de combustível", disse Ferrer. 



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