Não que eu goste de ser arauto de más notícias, mas as constantes altas no preço da energia no Brasil deverão continuar durante o próximo ano, elevando a pressão sobre os gastos das famílias. Segundo economistas e especialistas do setor de energia, existem vários fatores para explicar esse cenário de encarecimento, desde a crise hídrica a erros de planejamento de governos nos últimos 5 a 8 anos.
Segundo Daniel Queiroz, diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), a tendência hoje é, se não houver uma resolução da crise hídrica — com bons níveis de chuva e reabastecimento dos reservatórios no País —, de que as taxas de energia continuem elevadas e com possíveis altas.
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"Estamos acionando o cheque especial, que são as térmicas por conta da crise hídrica e os reservatórios estão sendo preservados porque as recargas não aconteceram. Se a recarga acontecer e usarmos as reservas hídricas, devemos ter uma redução, mas o consumidor precisa entender que, porque investimos em uma matriz energética concentrada em água, quando há um problema de falta de chuva, a energia sobe", explicou
Contudo, além da crise hídrica, existem outras razões pressionando o mercado de energia no Brasil. Entenda ponto por ponto e como se proteger dessas elevações.
Como os níveis dos reservatórios no Brasil ainda estão muito baixos, segundo o economista Alex Araújo, nem uma boa temporada de chuvas seria suficiente para recuperar a capacidade de geração de energia nas hidrelétricas
"A tendência é o preço aumentar porque temos uma combinação de fatores que compreende tanto a questão hídrica e por conta do percentual das reservas, mesmo se tivermos um período intenso de chuvas não seria suficiente", explicou.
Outro ponto que deve pressionar o mercado de energia no Brasil é a alta de demanda no cenário internacional por gás natural e diesel. Com a elevação da procura, os combustíveis, que podem ser utilizados para abastecer as usinas térmicas, também devem encarecer.
A consequência clara disso, é um novo potencial aumento do preço na energia brasileira.
"Temos uma pressão na capacidade de geração de energia que coloca uma grande pressão na capacidade de abastecimento de energia além de uma pressão internacional por alta de demanda que leva alguns investimentos que viriam para cá para outras economias", explicou Araújo.
Esse cenário poderá fazer com que o Governo Federal precise recorrer às fontes de energia menos convencionais, como o carvão, para solucionar os problemas de demanda no mercado.
Além das questões de mercado, o Brasil ainda deve encarar consequências de estratégias erradas que foram aplicadas em governos anteriores. Como o setor de energia depende muito de investimentos e planos de longo prazo, alguns reflexos dos últimos 5 a 8 anos estão sendo observados só agora.
O Nordeste, por exemplo, tem gerado mais energia do que de fato precisa, a partir da utilização de energias renováveis, mas a falta de mais linhas de transmissão ainda impedem um envio maior de energia para outras regiões do País.
Araújo destacou que, como investimentos em linhas de transmissão levam muito tempo para serem implementados, essa questão não deve ser solucionada no curto prazo.
"Esse setor, em função dos prazos para os investimentos, requer uma ação de médio e longo prazo, estamos pagando por erros de planejamento que aconteceram ha 5 ou 8 anos, então a capacidade do governo acaba sendo limitada", comentou.
Com as previsões negativas, há possibilidade do Governo Federal implementar algumas medidas para controlar o consumo de energia nacional, como desligamentos programáticos em algumas regiões.
Mas, para se proteger do encarecimento das tarifas, o consumidor ainda pode estar atento a alguns detalhes.
Reduzir o uso de eletrodomésticos em horários de pico ou que forçam mais a conta de luz, podem ser uma dica. É importante estar atento ao uso desnecessário de ar-condicionados, chuveiros elétricos, ferros de passar e máquinas de lavar.
Além disso, o consumidor, se tiver reservas financeiras, pode recorrer ao mercado de geração própria de energia a partir de painéis solares. Essa medida, no entanto, requer investimentos altos e que se pagariam apenas no longo prazo.