Os investimentos que superaram a inflação em 2021 e as previsões para 2022

Com cenário econômico mais instável neste ano, fundos de investimentos ligados a energias renováveis e títulos de renda fixa poderão virar opções atrativas, segundo analistas

Legenda: Em 2021, apenas o Bitcoin e os BDRs superaram a inflação no Brasil
Foto: Agência Brasil

Apenas dois tipos de investimentos renderam mais do que a inflação no Brasil durante o ano passado: os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) e o Bitcoin (criptomoeda). Mas essa tendência poderá ser alterada durante 2022, com os investimentos em renda fixa ganhando força por conta da atuação do Banco Central sobre a inflação e o cenário econômico. 

De acordo com Fábio Castelo Branco, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE) no Ceará esse cenário pode ser explicado pela forte desvalorização cambial do real frente ao dólar, já que os BDRs estão atrelados à moeda americana, e também a dinâmica própria de funcionamento do Bitcoin no mundo.

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"Apenas o bitcoin e os BDRs apresentaram rendimentos superiores à inflação brasileira em 2021.  O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) encerrou o ano com alta de 10,06%, o maior avanço anual desde 2015. As aplicações deixaram para trás outras como dólar, fundos imobiliários e o próprio benchmark brasileiro, o Ibovespa, que tiveram rendimentos negativos de 2,43%, 11,21% e 19,98%, respectivamente, já descontando a taxa de inflação", explicou.

"Quanto ao bitcoin por ser um produto novo, o qual não tem lastro igual às outras moedas e não seguir a mesma lógica do resto do mercado, ocorreu no ano passado uma fuga de capital às criptomoedas, com uma maior busca por investimentos de risco e interesse na própria tecnologia em si", completou. 

Empresas de tecnologia

Esta perspectiva foi corroborada por João Lucas Pinheiro Frota, analista de finanças corporativas da Arêa Leão Consultoria Empresarial.

Contudo, ele alertou que o resultado acima da inflação para os BDRs foi puxado pelo desempenho de empresas de tecnologia, considerando os avanços forçados para o mercado durante a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. 

"Os BDRs subiram por conta do dólar, mas não foram todos os BDRs, esse crescimento se deu principalmente por conta das empresas de tecnologia, como Apple e Microsoft, que foram os grandes impulsionadores desse crescimento", destacou. 

Volatilidade e diversificação 

Sobre as variações de cotação do Bitcoin, que flutuaram muito durante o ano passado, João Lucas ponderou que, apesar da criptomoeda continuar indicando como um bom investimento, é preciso ter cautela e estar preparado para lidar com o risco.

O analista apontou a diversificação de investimentos com uma boa solução para quem deseja limitar as perdas em casos de variações muito bruscas como as registradas para o Bitcoin durante alguns períodos do ano. 

"Ele (Bitcoin) realmente teve a maior valorização, mas vale ressaltar que a volatilidade continua a mesma, que é muito alta, então é preciso se perguntar como você vai reagir se seu investimento cair 50% em 2 meses. O ideal, então, é buscar a diversificação. É interessante ter um pouco de Bitcoin na carteira, se você tem apetite ao risco, mas é bom ter investimentos nacionais e outras coisas também.

Previsões para 2022 

Já para este ano, outros investimentos, segundos os analistas de mercado, poderão ganhar mais força, dando novas opções para os investidores. 

Para Fábio Castelo Branco, os fundos de investimentos com foco em energia renovável ou ligados a empresas de tecnologia com exposição de longo e curto prazos, além das empresas ligadas a temática ESG (ambiental, social e governança) devem ganhar força. 

"Esperamos que o ano deva ser marcado por uma assimetria positiva, ou seja, o mercado já admitiu um cenário ruim para 2022. Estima-se um PIB próximo a zero, taxa selic em dois dígitos, inflação na casa de 5% ao final do ano e, caso surja algo mais positivo, os retornos devem ser significativos. Um ponto relevante é a atratividade dos investimentos atrelados à taxa de juros", afirmou. Fábio.

Por outro lado, João Lucas destacou que, pelas tendências do cenário econômico brasileiro, os investimentos em renda fixa poderão ganhar mais força e superar a inflação em 2022. 

"A renda fixa perdeu para inflação em 2021 por conta do CDI, que fica muito próximo ao patamar da Selic. As tendências indicam, no entanto, que o CDI vencerá a inflação em 2022, fazendo com que os investimentos em renda fixa como um todo sejam bons investimentos neste ano. Mas seria interessante buscar títulos como Tesouro IPCA+, que está atrelado à inflação e que estão fora do risco inflacionário", explicou.