O mercado de trabalho no Ceará não parece ter sofrido muitas mudanças nos últimos anos em relação aos segmentos com maiores rendimentos médios.
Segundo dados da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica (IBGE), com análise do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), os segmentos que englobam o setor público, educação e comunicação seguem sendo os que pagam melhor em média.
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Em relação aos dados estaduais, o segmento de "Administração pública, defesa e seguridade social" acaba apresentando o maior rendimento médio, com ganhos mensais de R$ 3,077 mil.
Em relação ao cenário na Capital, as coisas mudam um pouco de figura, com o segmento tendo um rendimento médio de R$ 5,1 mil, mas ficando atrás do item "Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e agricultura" (R$ 5,8 mil de média).
A perspectiva diversa é explicada pelo fato de que a maior parte da sede das empresas do setor estão localizadas em Fortaleza, e geram oportunidade de trabalho com remuneração maior por conta do caráter mais técnico ou administrativo.
Considerando a média estadual para o setor, o agronegócio paga em média R$ 614 reais aos trabalhadores.
Segundo o economista Alex Araújo, o cenário registrado em Fortaleza e no Ceará não é tão discrepante do registrado em todo o País, com o setor público apresentando os melhores rendimentos médios na maioria das localidades.
Os maiores salários se justificariam pelo maior nível de escolaridade exigidos, mas também revelariam um cenário um pouco diferente em relação a países mais desenvolvidos.
Segundo o Araújo, em outras regiões do mundo o setor privado acaba oferecendo remunerações mais altas para algumas carreiras em comparação com o setor público, considerando, por exemplo, algumas ocupações de nível técnico.
"É um pouco da realidade brasileira. Quando se compara as cidades, Brasília acaba tendo a renda média mais elevada por conta da presença dos servidores públicos. Mas não é um padrão para o mundo e nos países mais desenvolvidos, os setores privados acabam oferecendo salários maiores que setor público. Mas no Brasil, esse nível médio de salários é por conta do maior nível de formação exigido, mas você tem carreiras em que o setor público paga mais que o setor privado, considerando até as questões de renegociação de remuneração", explicou Araújo.
"Isso termina gerando algum nível de corporativismo. A reforma administrativa atual sofreu tanta influência do lobby de alguns setores públicos que seria até melhor tirar de pauta. Em algumas carreiras, como a tributária, essas posturas até acabam inibindo a inovação", completou o economista.
Ainda segundo o economista, o perfil de rendimentos médios no mercado cearense não deverá mudar se não houver a aplicação de políticas públicas voltadas a favorecer o mercado de serviços de alta tecnologia ou financeiros.
Mesmo com a perspectiva da criação de um novo hub de hidrogênio verde no Estado, Araújo explicou que o potencial de mudança do cenário do mercado trabalho pela indústria ainda é pequeno por conta do avanço tecnológico do setor, responsável por gerar um número menor de empregos com o passar dos anos.
Ele, no entanto, ressaltou a importância dos investimentos em hidrogênio verde que estão sendo anunciados pelo Governo do Estado, e comparou ao resultado gerado pela criação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
Com a inauguração da empresa, não houve uma grande mudança do mercado de trabalho no Ceará, mas o impacto para a economia é inegável, considerando o peso na balança comercial e na movimentação de insumos, dentre outros fatores.
E para incentivar esses novos serviços, o Poder Público municipal ou estadual não dependeria tanto de iniciativas federais, uma vez que as ferramentas tributárias para impulsionar os segmentos estão concentradas nas esferas regionais, considerando Governo do Estado e Prefeitura.
"O setor de serviços, ao contrário da indústria, tem uma tributação, que é o instrumento de incentivo, que está em nível estadual e municipal. A política federal é mais no sentido de educação, mas os incentivos estão nas esferas mais locais, que é isenção de impostos, criação de estímulos pelo IPTU, ter áreas urbanisticamente", disse Araújo.
"E para se ter um impacto no salário médio do nosso mercado, você precisaria ter um setor de serviços com alta capacidade técnica", completou.