Nem lembro a última vez que tinha ido ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, mas a visita de sexta-feira (21) certamente permanecerá na minha memória. Guardado numa sala preparada somente para ele, sobre uma mesa preta envidraçada, estava o fóssil do Ubirajara jubatus, raridade que finalmente pude ver de perto.
O Ubirajara tem o tamanho de uma galinha. Por meio do olhar de palentólogos e paleoartistas, descobrimos que ele exibia uma crina nas costas e espécies de varetas nos ombros. Por isso o nome que, na tradução de idioma indígena, significa senhor da lança de juba. É um exemplar único e passou décadas do outro lado do oceano.
Os vestígios petrificados do animal jurássico, finalmente, voltaram para Santana do Cariri, onde foi encontrado e de onde sumira por meio do tráfico de fósseis. Na solenidade desse fim de semana, estavam o público, políticos e os pesquisadores, estes os principais responsáveis pela luta que conquistou a repatriação.
O Ubirajara estava num museu do interior da Alemanha. Era quase impossível vê-lo. É muito pior do que a tela Abaporu, de Tarsila do Amaral, num museu de Buenos Aires. O fóssil do Cariri estava em outra dimensão para os nossos bolsos sertanejos. Mas a partir do momento em que foi descrito numa revista científica, começou a campanha pelo retorno para o Brasil.
A luta foi gloriosa e celebrada quatro vezes. Em junho, já em solo brasileiro, passou por solenidades no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília; no Palácio da Abolição, em Fortaleza; no campus do Pimenta da Universidade Regional do Cariri, no Crato; e agora no museu de paleontologia em Santana do Cariri.
A exposição, que é temporária, porque depois ele vai ficar em laboratório, chama-se "Ubirajara jubatus pertence ao Brasil". E, estando aqui, podemos também dizer que pertence ao Sertão. Afinal, além de termos conseguido retirá-lo de um museu na Europa, ele foi poupado de ficar entre Rio de Janeiro e São Paulo. Conseguimos provar que, no Cariri, no miolo do Nordeste, podemos, sim, cuidar das nossas riquezas e, a partir daqui, compartilhá-las com o mundo.