Piora da qualidade do ar pode influenciar saúde mental e casos de ansiedade; veja dicas de cuidado

Em meio ao Setembro Amarelo, a coluna conversou com especialistas sobre os cuidados e os efeitos psicológicos e psiquiátricos da poluição do ar

Legenda: Desde agosto, diversas cidades registraram mudanças na coloração do céu, que passou para uma versão acinzentada e encoberta por uma camada leitosa de poluição
Foto: Thiago Gadelha

A combinação entre estiagem, baixa umidade relativa do ar e prolongadas queimadas tem aumentado a concentração da poluição atmosférica, reduzindo a qualidade do ar em parte do Brasil. Nos últimos meses, estados como São Paulo e Ceará observaram o céu ficar acinzentado e com presença de fumaça, gerando prejuízos à saúde. Tosse, olho seco, falta de ar, alergias na pele e sangramento nasal são alguns dos sintomas relacionados ao fenômeno. No entanto, especialistas alertam que ele também pode influenciar negativamente a saúde mental.

Estudos científicos indicam que a exposição aos gases poluentes presentes na atmosfera, como o monóxido de carbono (CO), pode piorar o desempenho cognitivo, provocando confusão mental, e, a longo prazo, aumentar a incidência de demências, de doença de Alzheimer e do número de suicídios. O psiquiatra Pérsio de Deus detalha que o evento pode ainda causar efeitos imediatos como cansaço mental, perda de atenção, esquecimento, fadiga, dor de cabeça e dificuldade em aprender.

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Segundo o médico, essa relação entre a baixa qualidade do ar e o declínio da saúde mental é explicada pela reação química inflamatória provocada por essas substâncias poluentes no cérebro, além do clima seco alterar a microcirculação sanguínea no órgão. 

Componentes de metais pesados, como alumínio, ferro, mercúrio, substâncias da lavoura, que são os agrotóxicos, e outras inúmeras substâncias que, não sendo dispersadas ou melhoradas pela chuva, podem, sim, atingir a bioquímica cerebral diretamente, competindo com as substâncias cerebrais, que são a serotonina, dopamina, noradrenalina, histamina, entre outras. E podem produzir, sim, um prejuízo até de confusão mental." 
Pérsio de Deus
Psiquiatra

Além dos fatores fisiológicos e químicos, o especialista destaca que a piora da saúde física em consequência da poluição, por si, já impacta negativamente a saúde mental. "O principal problema são doenças respiratórias, porque o ar seco resseca as mucosas, havendo risco de mais gripes, infecções, pneumonias, sinusites, rinites, e quanto mais infecções nós temos, menos energia mental ou cerebral nós temos para pensar e termos saúde mental", afirma.

Redução do prazer e aumento do medo

Desde agosto, diversas cidades do País registraram mudanças na coloração do céu, que saiu de uma versão azul característica, para uma acinzentada, encoberta por uma camada leitosa de poluição e fumaça. A professora e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Zulmira Bomfim, especialista em Psicologia Ambiental e Social, explica que esse tipo de cenário pode influenciar negativamente o humor e a sensação de felicidade

A saúde mental não está dissociada da saúde geral e do bem-estar. Um ambiente poluído com ar contaminado com fumaça e acinzentado dificulta a sensação de prazer e de desfrute do ambiente e do lugar. Um ambiente agradável, com boa luminosidade, sol, qualidade do ar, natureza, é fundamental para o bem viver e sua consequente conexão com a motivação para a vida e saúde psicológica."
Zulmira Bomfim
Professora especialista em Psicologia Ambiental
 

O psiquiatra ainda completa que a baixa qualidade do ar, muitas vezes acompanhada da redução da visibilidade, também pode despertar sentimentos negativos e piorar quadros psiquiátricos, como ansiedade e síndrome do pânico, além de aumentar a preocupação com doenças e a possibilidade de desenvolver novos medos. 

10 dicas de como se cuidar

À coluna, Pérsio listou alguns cuidados que podem ser realizados para reduzir os efeitos negativos da piora da qualidade do ar. São eles:

  • Manter a casa limpa e bem arejada, evitando o acúmulo de partículas de poeira no ambiente; 
  • Hidratar-se, consumindo pelo menos 2 litros de água por dia; 
  • Umidificar o ambiente, seja usando um aparelho umidificar ou espalhando bacias com água, ou toalhas molhadas no ambiente; 
  • Evitar sair ao livre em horários de picos de sol intenso;  
  • Hidratar os olhos com colírios lubrificantes ou soro fisiológico;  
  • Usar máscara, reduzindo a aspiração de partículas de poluição; 
  • Hidratar a pele;  
  • Evitar aglomerações
  • Evitar isolamento
  • Praticar exercício físico, de preferência em ambiente à sombra e aberto. 

Zulmira Bomfim ainda acrescenta os benefícios do contato com ambientes menos poluídos e com a presença da natureza. "Quando possível buscar os ambientes restauradores que permitem a conexão com a natureza distante da poluição e da destruição; o engajamento em grupos que podem dar suporte e respeitem os ritmos e diferenças de cada um; assim como, ser um participante de movimentos sociais e políticos que lutam pela proteção da vida em sua totalidade, olhando a terra como um grande organismo vivo", finaliza.