Estrela do vôlei, Fabi Alvim não descarta se tornar técnica: 'As mulheres têm que estar onde quiserem'

Ex-líbero da seleção brasileira contou em entrevista sobre transição da carreira e analisou cenário do vôlei nacional

Legenda: Desafios como comentarista e futuro como técnica estiveram entre os assuntos abordados com Fabi Alvim
Foto: Ares Soares

Quantas jogadoras de vôlei você conhece com menos de 1,70m? Quantas jogadoras de vôlei você conhece com menos de 1, 70 m, que ganharam quase todas as competições possíveis de se imaginar, duas Olimpíadas e 10 campeonatos nacionais? Certamente, esse feito não é muito fácil de ser conquistado. Em um esporte, cada vez mais, de gigantes, a 'pequena' Fabi Alvim, de 1,67m, se agigantou dentro de quadra por 20 anos. Dominou a posição de líbero, que surgiu, praticamente, quando ela se profissionalizava como atleta. 

Semana passada, Fabi esteve em Fortaleza para participar do Desafio Unifor de Escolas 2021, um evento que incentiva o esporte, como 'motor transformador' de uma série de possibilidades.  A ex-atleta deu uma entrevista descontraída para a coluna, onde falou sobre a experiência nas quadras, fora dela, a relação com o esporte, perspectivas de carreira e muito mais. 

Projeto elas

Para fortalecer a luta das mulheres, fomentar a valorização e reconhecimento de suas conquistas e, principalmente, da preservação de suas vidas, o Sistema Verdes Mares deu início, neste mês de outubro, ao "Projeto Elas", que atuará como agente transformador da realidade de várias mulheres cearenses, com o objetivo de construir um Ceará mais igualitário e seguro.

O projeto busca refletir, discutir, informar e, acima de tudo, combater essa realidade. Através de seus veículos de comunicação, o SVM vem discutindo temas como desigualdade de gênero, desafios do mercado de trabalho, empoderamento, conquistas femininas e também dará voz a relatos da vida real, dentro de uma programação que segue até dezembro.

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Referência

Fabi é referência no vôlei, dentro de quadra e agora também fora dela, comentando jogos. E para quem pensa que é tarefa fácil, afinal, a ex-jogadora domina o assunto, não é bem assim. Ela destaca que é uma dedicação tão intensa quanto a que dispendia quando era atleta.

Confira mais no vídeo: 

Sobre o jogo mais emocionante que já comentou, ela opta por uma partida recente, mas carregada de história. Brasil x Rússia, no vôlei feminino nunca é apenas um jogo, traz à tona uma rivalidade, principalmente, olímpica. Na última edição dos Jogos, em Tóquio, não foi diferente.E Fabi destacou a partida como momento decisivo, onde a coletividade fez a diferença para a caminhada que terminou com a medalha de prata para o Brasil.

 "O final foi o melhor possível, foi uma olimpíada mágica pro vôlei feminino do Brasil[...] A gente trouxe um pouco do resgate desse orgulho de vibrar e comemorar com uma medalha de prata. É uma conquista, não é pra qualquer um ser medalhista olímpico." 

E de medalha olímpica Fabi entende bem, afinal são dois ouros conquistados nas edições de Pequim (2008) e Londres (2012). Títulos em condições bem distintas, inesquecíveis. A medalhista dá detalhes de como foram as duas caminhadas até o topo olímpico. 

Adeus às quadras

A tão sonhada medalha olímpica em casa não veio. Antes da Rio 2016, Fabi resolveu se aposentar da seleção em 2014. Sobre o processo ela destaca a importância do autoconhecimento e que sentia que aquele seria o momento.

“É claro que eu vislumbrava jogar aquela olimpíada, mas eu já percebia que tava difícil. Eu sou uma pessoa muito intensa, não consigo fazer nada 85% [..] Vi que tava na hora.” Além disso, sentiu na sucessora Camila Brait a segurança que precisava para ser substituída com louvor (apesar de que ela não foi a convocada para as Olimpíadas no Brasil). 

Nos clubes, a ex-líbero se firmou no Rio de Janeiro. Era muito difícil pensar na equipe e não remeter à Fabi, por exemplo. Foi lá onde fez história e conquistou 10 títulos da Superliga. Em um período em que a hegemonia nacional era dividida entre os times de Rio e Osasco. Hoje, a configuração do vôlei nacional mudou. Os times mineiros vêm dominando o cenário e a comentarista ressalta o que levou a essa mudança. 

Volei de praia ou técnica?

A carreira nas quadras foi até 2018, quando aos 38 anos, Fabi se aposentou. A transição de carreira para a praia não foi opção para ela, que ressalta que teria dificuldades por conta da altura. Ainda destaca um talento cearense na modalidade de estatura bem próxima:

"Pra ser fora de série só a Shelda mesmo” 
Fabi Alvim
ex-jogadora de vôlei e comentarista

Outra possibilidade para a transição de carreira seria gestão ou o comando de alguma equipe. Sobre essa alternativa ela se mostra insatisfeita com a pequena quantidade de postos ocupados por mulheres e não descarta a possibilidade.  

A ex-atleta se envolveu com o esporte desde cedo, no Rio de Janeiro, e destaca a importância de ter percorrido esse caminho, não apenas por seguir na profissão, mas para sua formação como pessoa. 

A ‘maior’ do País na posição é exemplo para gerações, importância reafirmada, inclusive, por quem se espelha nela para seguir caminho parecido, como as atuais líberos da seleção brasileira, Natinha e Nyeme. 

Muito além disso, é espelho também para quem ama o vôlei e como ela não alcançaria um espaço por conta da altura. Digo por mim, que desde cedo a citava como exemplo de que também seria capaz de seguir pelo esporte, apesar da pouca estatura. É representatividade e incentivo para que tantos outros vejam que são capazes de se destacar onde quer que seja, mesmo não estando  exatamente no padrão.