Fazer o Carmed Fini em casa é seguro? Especialistas explicam riscos de receita caseira

Collab da farmacêutica Cimed com a Fini foi lançada em maio em três versões da bala: Beijos, Dentaduras e Bananas

Legenda: Receitas caseiras usam artigos alimentícios para fazer hidratante labial e gloss
Foto: Reprodução

O sucesso do Carmed Fini fez zerar o estoque das farmácias e instigou uma verdadeira caça nas farmácias para encontrar o lip balm com cheirinho e sabor das balas. Nas últimas semanas, diversos vídeos viralizaram no TikTok com pessoas ensinando receitas caseiras do produto. Apesar de ser tentador customizar o cosmético, existem vários riscos que envolvem a prática.  

Na maioria dos vídeos, as receitas consistem em derreter a bala Fini escolhida e misturar com um lip balm já pronto. Em outros, as pessoas misturam ainda manteiga, açúcar e óleo, todos itens destinados ao consumo alimentar.  

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Um dos produtores do conteúdo afirma que, se não acrescentar uma pomada com dexpantenol na composição, é possível ingerir o hidratante labial feito em casa. Outra, que usa óleo e corante alimentício para fazer um gloss, diz que o produto “dura bastante, mas não pode colocar num ambiente nem muito quente nem muito frio”.  

Mas será mesmo que é seguro seguir essas recomendações? Receitas caseiras ou mesmo misturas que utilizam produtos não tóxicos são seguras apenas por serem ‘naturais’?  

Compromete propriedades  

A professora do curso de Farmácia da UFC e orientadora do Centro de Estudos sobre os Efeitos Adversos de Cosméticos, Tamara Gonçalves, é assertiva ao afirmar que não é seguro fazer esse tipo de procedimento, já que manipular o cosmético dessa forma faz com que ele perca todas as propriedades, a garantia da segurança da eficácia e da estabilidade daquele produto. 

“Quando você faz um cosmético, você garante que aquele produto vai ter uma eficácia, estabilidade e segurança pro consumidor, nas concentrações adequadas, com insumos comprados de fornecedores com laudos, com fabricação em um ambiente seguro e controlado, com todas as boas práticas de fabricação cumpridas”, detalha.  

Amanda Romanholi, professora do Curso de Estética e Cosmética da Universidade de Fortaleza (Unifor), pontua ainda que o produto finalizado passa por vários testes para atestar a eficácia, conservação e estabilidade.  

"Todos os ingredientes são pensados para agirem em sinergia garantindo uma estrutura cosmética e formulação única. Quando pegamos um produto finalizado e misturamos a outro produto, estamos modificando a estrutura, alterando a estabilidade e o sistema de conservação, levando a possíveis riscos de quebra de formulação que podem gerar danos”.  
Amanda Romanholi
professora de Estética e Cosmética da Unifor

Alguns desses ingredientes colocados nas receitas caseiras são utilizados em produtos cosméticos como umectantes e emolientes, explica a professora de Estética e Cosmética, porém são ingredientes que foram selecionados para a indústria cosmética. “As manteigas são um bom exemplo disso, existem vários tipos de manteigas na indústria de cosméticos, mas não alimentares”. 

Fácil contaminação  

A doutora em Química e pesquisadora da UFC em pós-doutorado, Louhana Rebouças, acrescenta que nenhuma das matérias primas usadas oferecem risco quanto à composição química, uma vez que são compostos de materiais de uso alimentício não tóxico. “Se preparado em condições de higiene adequadas e se for usado logo após o preparo não apresenta risco”.  

“No entanto, a produção de cosméticos deve atender as Boas Práticas de Fabricação de acordo com a RDC 48 de 2013 da Anvisa e passa a ser preocupante pois como não é adicionado conservante e antioxidante o produto dias após o preparo pode provocar problemas pois tem prazo de validade reduzido”. 
Louhana Rebouças
doutora em Química

Louhana pontua ainda que esses produtos alimentícios são facilmente contamináveis por fungos e bactérias e pode representar um risco à saúde quando usados desta forma em formulações cosméticas sem conservantes.  

Além disso, a professora Tamara pontua que é necessário usar insumos certificados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para desenvolver um produto cosmético.  

“São insumos que passam por certificação, análises químicas, microbiológicas e físico-químicas, são vendidos com laudos com informações completas, como se interage ou não com outras substâncias e quais”.  
Tamara Gonçalves
professora de Farmácia da UFC

Danos na pele?  

Conforme Amanda, por não ser possível saber como esses ingredientes irão se comportar dentro na nova formulação, podem gerar danos quando aplicados na pele íntegra, tais como alergias de contatos, dermatites, até manchas na pele e sensibilização nas áreas que tiveram contato com o produto. Óbvio também que essas misturas não são seguras para ingestão. 

As receitas que utilizam açúcar, por exemplo, também podem danificar a pele. “O risco de sua utilização está no formato da partícula que é irregular, por isso, ao ser utilizada sobre a pele, pode gerar arranhões e até manchas na pele derivadas dessa agressão”.   

Fora os riscos de contaminação microbiológica, afirma Louhana, pela presença de vírus, leveduras, fungos, bactérias e parasitas.  

Por isso, cuidado, não acredite nem saia reproduzindo qualquer receita caseira da internet. O custo pode ser maior caso você tenha alguma reação.  

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