O que vivi com Rita de Cássia: entrevistei, cantei e me emocionei

A canção "O Amor e a Loucura" marcou minhas experiências com a forrozeira

Legenda: Entrevista com Rita de Cássia em 2017
Foto: JL Rosa/SVM

A partida repentina de Rita de Cássia despertou momentos únicos que estavam guardados em minha memória. Por conta de um programa de TV transmitido em uma emissora pública do Ceará, ainda na adolescência, virei fã da forrozeira. Já adulto, por meio do jornalismo, tive encontros de braços abertos com ela. 

Conheci o trabalho de Rita de Cássia aos 16 anos. Gostava de assistir especiais de música da TV Assembleia. Foi onde também descobri outra paixão musical, o cantor Vander Lee.

Zapeando a TV, em um sábado, me deparei com Rita de Cássia cantando a composição "O Amor e a Loucura", com voz e violão, acompanhada de um dos filhos. Simplesmente, parei tudo o que estava fazendo. A partir daquele momento, fui pesquisar e entender que ela era a dona de "Saga de Um Vaqueiro", "Meu Vaqueiro e Meu Peão", "Onde Canta o Sabiá", entre outros hits do forró. 

Minha primeira entrevista com Rita de Cássia em 2015
Legenda: Minha primeira entrevista com Rita de Cássia em 2015
Foto: Reprodução/Diário do Nordeste

Após 13 anos do primeiro encantamento pela TV, tive o prazer de encontrar Rita de Cássia. Em uma casa de eventos com temática nordestina, na capital cearense, acompanhei a gravação do DVD da cantora Bete Nascimento —  ex-vocalista da banda Mastruz com Leite. 

Em um dos camarins montados no DVD fui avisado da chegada de Rita de Cássia. Ainda "verde" em entrevistar artistas, no primeiro momento, travei os movimentos em saber que eu estaria com ela.

Ao entrar no camarim, me deparei com uma mulher alta, de sorriso largo e voz mansa. Me identifique sendo do Diário do Nordeste. De imediato, ela logo sorriu. Rita de Cássia lembrou ter dado algumas entrevistas e comentou o fato em eu ser tão jovem. 

Por um momento, ela duvidou que eu saberia alguma canção dela, mas logo cantarolei uma música que não era tão conhecida do grande público: "O Amor e a Loucura". Logo ganhei Rita de Cássia na primeira conversa. Trocamos números de telefones e um laço foi criado.

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Em datas especiais como o Dia do Forró e em períodos de São João, o canal era ainda mais aberto para conversar com a forrozeira. Por diversas vezes liguei para ela com objetivo de tirar dúvidas de rotina. "Rita, quem é o autor de música tal?", "Rita, quando foi criada tal casa de forro?", "Rita, tem lembrança quando aconteceu aquele festival?", foram alguns dos questionamentos mais persistentes em cada pesquisa com ela.

No ano de 2016, Rita de Cássia me convidou para ir ao apartamento dela em Fortaleza. O motivo? Conversar sobre os 20 anos da música "Meu Vaqueiro, Meu Peão". A ansiedade tomou conta de mim.

Ainda saudável, Rita de Cássia me mostrou o apartamento, conversou sobre a vida, me perguntou sobre mercado musical e até fez questionamentos pessoais. Depois da conversa, um café carregado com queijo de Jaguaribe. Já perto de ir embora, pedi um vídeo para minha mãe. Sim, da música que mais escuto, "O Amor e a Loucura".

Assista "O Amor e a Loucura":

Em 2020, na pandemia do coronavírus, Rita de Cássia dividiu relatos e saudades do período junino em gravação do podcast É Hit. Ela também aprofundou a história do nascimento de músicas, como "Saga do Vaqueiro". O que era um trabalho de 20 minutos, alcançou mais de uma hora de conversa. 

Senti um distanciamento e um "sumiço" da forrozeira em 2021. As ligações já não eram atendidas rapidamente, muitas vezes apenas respondidas por texto. Aquilo me deixou encucado. Logo, busquei ter informações sobre se algo teria acontecido com ela. 

Os relatos sobre a fibrose pulmonar de pessoas próximas a ela me assustaram. Até um dia chegar para ela e questionar: "Rita, você está doente? Precisa de ajuda?". Ele foi rápida e respondeu: "Estou me tratando, mas logo terei tempo para nossas conversas". Daquele ano em diante, as respostas ao celular foram ainda menos frequentes. 

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Nessa terça-feira (3), com a notícia da morte de Rita de Cássia, lembrei de cada segundo ao lado dela. Rita de Cássia não tinha preconceitos musicais. Sim, dava valor ao repertório romântico, traçado na vida do homem do campo, das vaquejadas. 

O legado de Rita de Cássia seguirá vivo. Antes mesmo da partida da forrozeira, muitos cantores de forró já homenageavam ela em repertório. Blocos musicais com hits dos anos 1990 sempre foram presentes em shows de nomes como Xand Avião, Wesley Safadão, Taty Girl, entre outros nomes da atualidade. 

O que é fato, a canção "Pra Viver Eternamente", letra de autoria de Rita de Cássia, terá um sentido ainda mais forte aos amigos, familiares e fãs.