O que diz Elmano de Freitas sobre futuro de PT e PDT, relação com Sarto, gestão e meta de legado
Governador do Ceará inicia governo com posições firmes sobre os diálogos políticos que precisa estabelecer para ser bem sucedido nos próximos 4 anos
Elmano de Freitas (PT) é agora o nome no mais alto cargo político do Ceará: o Governo do Estado. É uma liderança política que atravessará as mais diferentes articulações partidárias e que ocupa um papel de destaque nas tratativas dos dois maiores grupos do Ceará: PT e PDT.
A jornada de Elmano à frente do Executivo passa, fundamentalmente, por entender quais leituras ele faz do cenário político atual e quais expectativas têm do cenário que ajudará a construir.
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Nesta terça-feira (3), passadas as festas de posse e os atos simbólicos de início de gestão, o governador concedeu as primeiras entrevistas no Palácio da Abolição. Ao Diário do Nordeste, ele falou sobre os ajustes pendentes no secretariado, a relação com o PDT, especialmente em Fortaleza, e sobre as expectativas para o mandato.
Confira a entrevista com Elmano de Freitas na íntegra:
Na segunda-feira (2), houve uma primeira leva de nomeação do secretariado, mas ainda há pendências em secretarias importantes, como a das Mulheres, do Trabalho, da Igualdade Racial (que não foram criadas, aguardam reforma administrativa). Quando o senhor deve mandar a reforma para a Assembleia Legislativa, quando essas secretarias devem começar a atuar?
Nós vamos fazer uma reunião com todo o secretariado, inclusive com os que serão futuramente nomeados, para que nós possamos, em algumas áreas, delimitar bem qual é o foco de cada secretaria. Então, a depender desse debate, nós vamos apresentar a mensagem à Assembleia. Eu quero me dar tranquilidade para que tenhamos tempo bem tranquilo para conversar com os secretários.
Em algumas questões, precisamos ouvir cada secretário, seus entendimentos, e eu acho que, para não ter nenhum tipo de modificação do funcionamento da Assembleia, no comecinho de fevereiro, a gente manda a mensagem para Assembleia.
No anúncio do secretariado, os nomes ligados a partidos políticos surgiram na reta final, casos do PP, do PDT. Houve algum impasse? O diálogo com o PDT foi travado nessa definição?
Não, não foi travada por isso, foi travado porque eu tinha um (trabalho) complexo a realizar. Eu tenho que fazer a combinação de pessoas com capacidade técnica, essa mesma pessoa tem que ter capacidade de liderança, ela tem que ter sensibilidade política, então nós fomos conversando com cada um, e eu tinha o compromisso de garantir paridade de homens e mulheres no secretariado, então eu fui buscar mulheres absolutamente reconhecidas nas suas áreas, estou muito feliz de termos um governo paritário no Estado do Ceará.
E quero dizer que (não houve) nenhuma dificuldade de encontrar (homens e mulheres para o secretariado). A dificuldade que eu tenho de encontrar a pessoa no perfil, seja homem ou mulher, é exatamente a mesma. Nós temos um secretariado muito num perfil técnico, um perfil de pessoas que conhecem suas áreas e, evidentemente, também fazendo a acomodação política daqueles que nos ajudaram a ganhar eleição. Isso faz parte de quem governa.
Então nós tivemos uma negociação com o PDT tranquila. Tive reuniões com o presidente do PDT, o André Figueiredo, absolutamente republicanas. O PDT com a postura de que sabe da importância que tem para o nosso projeto.
Fizemos chamados de pessoas do PDT para compor o nosso governo, são muito qualificados, parlamentares, pessoas que eu conheço já há um bom tempo e que eu tenho certeza que vão dar uma grande contribuição. Todos eles com experiência administrativa participaram de governos municipais e, portanto, carregam experiência política e experiência administrativa. E vão dar uma grande contribuição ao povo do Ceará.
O presidente do PDT, André Figueiredo, chegou a dizer que os nomes do partido que estão no secretariado não são indicações partidárias, são indicações pessoais do governador. Ainda não está fechado esse apoio do PDT?
Olha, o que eu tenho ouvido dos deputados estaduais do PDT é de uma participação apoiando o nosso governo, mas nós vamos descobrir isso paulatinamente. A reunião com o PDT foi muito positiva e, efetivamente, nós temos uma relação assim. PDT participou da discussão conosco e da participação de apoio à base do nosso governo. Agora, eu, como governador, quero ter o direito de poder escolher quais são as pessoas para determinado perfil de secretaria, que eu acredito.
A consequência que nós tivemos: temos a alegria de ter um deputado federal de Sobral assumindo (mandato na Câmara), o nosso querido deputado Leônidas (Cristino, do PDT). Vamos ter o nosso deputado Antônio Granja (do PDT, também ficou na suplência e deve assumir vaga).
Isso tudo favorece que nós tenhamos mais unidades no nosso relacionamento, mas conciliando isso com o perfil técnico. Eu tenho o deputado federal Robério Monteiro (PDT), que foi um dos prefeitos mais exitosos do estado do Ceará, uma pessoa absolutamente aprovada como prefeito de Itarema e que, não tenho nenhuma dúvida, vai fazer um grande trabalho na Secretaria de Recursos Hídricos, mantendo a equipe técnica que aquela secretaria tem.
O prefeito José Sarto (PDT) recentemente defendeu uma parceria institucional, inclusive fez vários elogios, lembrando que o senhor foi candidato a prefeito de Fortaleza, então tem um carinho pela Capital. Mas é uma relação que, pós-eleição, ainda tem alguns desafios. Como deve ser a relação com Sarto, qual a expectativa que o senhor tem?
Relação de quem tem compromisso com o povo de Fortaleza. O prefeito Sarto tem compromisso, como prefeito, com o povo de Fortaleza, e eu tenho como governador. Nós vamos efetivamente sentar para discutir projetos para Fortaleza. Tenho a missão de garantir, por exemplo, universalização do esgotamento sanitário em toda a região metropolitana de Fortaleza e evidentemente que eu vou fazer isso conversando com a prefeitura. Não vamos fazer todo um trabalho de instalar o sistema de esgotamento sanitário de Fortaleza sem dialogar, sem planejar com a Prefeitura de Fortaleza.
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Nós colaboramos com o Instituto José Frota, o IJF, tão importante pro povo de Fortaleza e para o povo do Ceará. Nós vamos continuar ajudando o IJF, porque essa ajuda é para o povo de Fortaleza e eu tenho um compromisso com todo e toda cearense e efetivamente também pro povo de Fortaleza. Então nós vamos nos reunir com todos os prefeitos, da Capital à menor cidade do Estado do Ceará. Essa relação será institucional, sem olhar o partido político.
O senhor acredita numa aproximação entre o PT e PDT em Fortaleza?
O PT de Fortaleza tem sua autonomia, que eu devo respeitar. Se tem uma coisa que eu não quero é ser um governador que quer mandar no partido. Eu quero ser um governador que respeita os partidos, que tem sua autonomia, efetivamente nós vamos dialogar em todo momento. Agora o PT aqui tem já uma trajetória em Fortaleza, como o PDT. Quando decidiu ir para base do nosso governo, o PDT estadual me comunicou que o PDT de Fortaleza teria independência em relação ao Governo Estadual.
Nós temos realidades diferenciadas, uma coisa é a política estadual, outra situação é a política de cada município. Cada município do Ceará tem uma realidade que nós temos que respeitar.
Agora, efetivamente, em algumas situações, estou absolutamente aberto a ouvir uma ponderação do prefeito. Se for preciso colaborar no PT para construir o entendimento daquilo que eu considerar importante para população de Fortaleza, estarei absolutamente aberto a fazê-lo, porque, independente das questões de disputa eleitoral, tem interesses do povo de Fortaleza que são maiores do que essas disputas.
Na questão eleitoral, é muito cedo. E eu fui eleito governador do Ceará, eu aqui só estou pensando naquilo que eu me comprometi com o povo do Ceará. É mutirão de cirurgia, melhorar a segurança pública, escola em tempo integral, eu não posso, digamos assim, agora, utilizar meu tempo a pensar em eleição e deixar de pensar naquilo que interessa ao povo do Ceará, que é a melhoria da sua vida.
No discurso de posse, o senhor ressaltou o papel do hoje ministro da Educação, Camilo Santana, como líder. O governo do Estado tem um Conselho de Governadores do Ceará, o senhor pretende manter esse conselho, manter um diálogo com outros nomes, como Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Cid Gomes?
Ele vai se manter e vai se reunir. Considero muito importante que o governador tenha capacidade de ouvir e penso que tem uma questão estratégica para o Ceará.
É muito mais fácil eu acertar se ouvir quem já foi governador, das mais variadas opiniões políticas.
Tenho, por exemplo, três obras de estrutura que o presidente Lula estava dizendo que eu leve para apresentá-lo. Vou acertar muito mais se eu chamar os ex-governadores e perguntar: “Que obra de infraestrutura os senhores, que já governaram o estado do Ceará, acham que agora seja mais importante pro nosso Estado se desenvolver?”.
Eles vão dar sugestões. A gente ganha ouvindo esse ex-governadores, como ganha ouvindo o cidadão e a cidadã que eu encontrar na rua, quando eu conversar com um jornalista, quando eu conversar com a Assembleia Legislativa... O governador, acima de tudo, tem que manter humildade e capacidade de ouvir seu povo.
Qual o senhor pretende que, daqui a quatro anos, seja o legado dessa gestão?
Que a vida do povo mais simples do Ceará tenha melhorado e que o povo que precisa de emprego, que está esperando uma cirurgia, que quer uma escola de qualidade pro seu filho, que tenha uma escola em tempo integral pro jovem, que esse jovem não tenha o risco de estar sendo aliciado por uma organização criminosa, que ele vá trabalhar de manhã e saiba que seu filho vai passar o dia inteiro na escola, numa escola de qualidade, seu filho estudando, com bons professores, com atividade cultural, com atividade esportiva, ele voltar de casa em segurança, e a gente possa ter, portanto, uma vida mais pacífica e pessoas acreditando que aqueles sonhos que elas têm poderão se realizar.