Com cassação e disputa de poder, como a inelegibilidade de Bolsonaro afeta os planos do PL no Ceará

Ex-presidente da República está inelegível até 2030, seis meses após deixar a presidência da República

Legenda: Bolsonaro em visita ao Ceará, com André Fernandes à direita, e Carmelo Neto à esquerda
Foto: Presidência da República

O principal nome do PL está inelegível por oito anos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formou maioria, nesta sexta-feira (30), para cassar parte dos direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. 

O revés não fere apenas o protagonismo individual de Bolsonaro. Celebrado ao se filiar ao PL no final de 2021, às vésperas da sua campanha de reeleição, o enfraquecimento da força do ex-presidente deverá ter desdobramentos diretos na estratégia eleitoral do partido e de seus aliados pelos próximos anos. 

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No Ceará, a teia que amarra o ex-presidente a forças políticas no Estado é cada vez mais emaranhada. A inelegibilidade se soma a outros revezes: a perda de força com a saída da presidência da República, a cassação do mandato de quatro deputados estaduais, o aceno de correligionários à base governista e a queda de braço de bolsonaristas-raiz com o presidente estadual, o prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves.

Para o futuro, essas crises podem desaguar em pelo menos três pilares do partido no Ceará:

Planos para disputar a Prefeitura de Fortaleza

Desde que Bolsonaro se filiou ao PL, gerando uma avalanche de adesões de bolsonaristas ao partido no Ceará, pairam sobre o grupo político insatisfações com a presidência de Acilon. Até então, tradicional governista no Estado, o prefeito venceu queda de braço e conseguiu se manter à frente da sigla, ainda durante as tratativas eleitorais de 2022.

A tensão voltou, neste ano, quando o PL foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado por fraude à cota de gênero.

Poucos dias após a crise da cassação do mandato de quatro parlamentares, uma decisão nacional colocou à frente do PL Fortaleza o principal opositor de Acilon, o deputado federal André Fernandes, com uma composição de nomes fiéis a Bolsonaro.

Palanque de Bolsonaro no Ceará em outubro de 2022
Legenda: Palanque de Bolsonaro no Ceará em outubro de 2022
Foto: Camila Lima

A busca por mais autonomia e controle do partido passa pelo interesse de Fernandes em ser candidato à Prefeitura de Fortaleza no próximo ano. Outros nomes do partido, também ligados a Bolsonaro, tentam fazer páreo na disputa, como o deputado estadual Carmelo Neto e a deputada federal suplente Priscila Costa — ambos integrantes do novo diretório.

No Estado, Acilon é o grande articulador partidário do PL que tem, atualmente, o comando de sete prefeituras. O interesse em ampliar o alcance passa por administrar o relacionamento de gestores municipais com o Governo do Ceará, que tem à frente o petista Elmano de Freitas.

A preço de hoje, não se vislumbra interesse do presidente estadual em articular uma campanha bolsonarista na Capital, com um líder partidário que se opõe ao seu comando. 

A inelegibilidade de Bolsonaro o coloca mais diretamente sob o controle do comando nacional do PL. Há planos de que o ex-presidente se torne um cabo eleitoral engajado em 2024, mas ainda não se pode descartar a possibilidade de que ele "jogue a toalha" e se recolha, semelhantemente ao que fez após a derrota nas eleições de 2022. Se Bolsonaro submergir, terão forças, sozinhos, os aliados do ex-presidente numa arena contra petistas e pedetistas que, aliás, foram autores do ação que resultou na inelegibilidade? 

Em 2022, o PL foi vice na chapa de Capitão Wagner, pelo União Brasil, com apoio de Bolsonaro
Legenda: Em 2022, o PL foi vice na chapa de Capitão Wagner, pelo União Brasil, com apoio de Bolsonaro
Foto: Camila Lima

Força com prefeitos do Interior

Os planos de Acilon Gonçalves para 2024 são de "chegar" com a estrutura partidária do PL em "120 ou 130" cidades, com quadros tanto para o Executivo como para o Legislativo.

Em possíveis disputas diretas contra governistas nessas prefeituras, o cenário para o PL, sem a máquina do Governo Federal que pareceu promissora até o ano passado, é árido, bem como na Capital. 

A ameaça à capilaridade do partido que, no ano passado, garantiu prefeitos e deputados apoiando explicitamente Bolsonaro na campanha presidencial, especialmente no 2º turno, pode minar os projetos de longo prazo do PL. Afinal, é a eleição municipal que consolida as lideranças que buscam os votos diretamente nas bases. 

Perda da representação na Assembleia Legislativa

Além do processo que o tornou inelegível até 2030, Bolsonaro é alvo de 15 outros processos que ainda tramitam na Corte. Dentre eles, há um que investiga o uso de programas sociais, como o Auxílio Brasil, em favor do ex-presidente; e outro que analisa suposta rede de desinformação.

Quando ganharem fôlego no debate público, os processos em tramitação têm potencial para atingir estratégias de narrativas políticas dos aliados do ex-presidente, como as próprias ações do período no Governo.

Nesse possível cenário, a perda de aliados nos poderes legislativos se torna mais cara ao PL. Na Assembleia Legislativa, o partido pode perder os quatro eleitos em 2022. Dos quatro, três são fiéis bolsonaristas: Carmelo Neto, Dra. Silvana e Pastor Alcides, pai de André Fernandes.

É menos um espaço de poder para a defesa do ex-presidente. A cassação, atualmente, está submetida ao Tribunal Superior Eleitoral.

Há muitos planos em jogo que passam pela liderança que Bolsonaro conseguirá manter após sucessivas derrotas.

Nesta sexta-feira (30), depois do resultado no TSE, o ex-presidente disse, em entrevista coletiva, que "não está morto" politicamente e que avalia recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Ainda assim, é inegável que a inelegibilidade de um recém-ex-presidente é um baque para estratégias de retomada de poder, especialmente, quando elas carecem de projeto partidário sólido e se baseiam numa figura populista. Para a conta de quem está focado em planos estaduais e municipais, pode custar mais caro ainda.

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