O que os movimentos recentes de Roberto Cláudio significam para o xadrez eleitoral de 2026

Longe da centro-esquerda e sem perspectiva de terceira via, ex-prefeito confirma guinada à direita

Escrito por
Inácio Aguiar Inacio.aguiar@svm.com.br
Legenda: Roberto Cláudio faz a mudança em busca de novo espaço político
Foto: Ismael Soares

Os fatos políticos ocorridos nos últimos dias desta semana têm peso significativo para o xadrez eleitoral de 2026. O personagem principal é o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio e o enredo envolve a desfiliação dele do PDT e a explícita aproximação com o PL e o ex-presidente Jair Bolsonaro.  

A decisão de desfiliação foi descrita por ele como "difícil" e fruto de longa reflexão, motivada por "graves e complexas circunstâncias locais da política cearense" e pela "necessidade de se construir um projeto alternativo de esperança e prosperidade" para o Estado. Roberto Cláudio, na verdade, busca um novo espaço político.  

A expectativa de sua saída já se desenhava desde a eleição 2022 e ficou mais cristalina no pleito do ano passado, quando peitou a “tradição pedetista” no campo de esquerda e apoiou André Fernandes (PL) no segundo turno, em Fortaleza. Naquele momento, Roberto conseguiu atrair alguns aliados, mas o ato de apoio ao candidato do PL foi desautorizado pelo presidente nacional da Legenda, Carlos Lupi. Para o então ministro, naquele momento, a decisão do correligionário cearense era “pessoal”. 

Agora, fora do partido, Roberto Cláudio terá maior liberdade para articulações eleitorais, reforçando seu interesse em ser candidato ao Governo do Ceará em 2026. O primeiro ato que prova isso é o encontro reservado que teve com Jair Bolsonaro em Fortaleza, momento descrito pelo presidente estadual do PL, Carmelo Neto, como “muito bacana para eles se conhecerem”. 

PDT tem a chance de se recompor 

Para o PDT, a perda de uma liderança para o cenário político local é relevante. No entanto, a saída de Cláudio também oferece à sigla a oportunidade de se recompor e definir seu posicionamento, cuja tendência é de aproximação com o PT, sem ter em seus quadros uma figura de frontal oposição ao governador Elmano e ao prefeito Evandro Leitão.  

Assim, a decisão, considerada pelo presidente estadual do partido, André Figueiredo, como "esperada" e motivada pelo incômodo gerado pelo diálogo do ex-prefeito com o PL, pode ser o início de um ajuste para o partido se reconstruir como uma força de centro-esquerda. Até porque, o ato deve ser seguido por outros parlamentares da mesma linha, como o deputado Lucinildo Frota, que já indicou ir para o PL. 

O papel do ex-prefeito na oposição 

A aproximação com Bolsonaro e o PL, descrita pelo deputado André Fernandes (PL) como uma "paquera que se inicia", faz parte de uma articulação que tenta unir a oposição no Ceará, em meio a alguns desencontros recentes. Mais do que isso, o movimento sugere que Roberto está pulando de fato para a direita, de olho na aproximação com o grupo bolsonarista, que atualmente encarna a narrativa de oposição frontal aos governos do PT. 

Na conjuntura de polarização nacional atual, está claro que não há espaço, ao menos neste momento, para nomes de uma chamada “terceira via”. Roberto Cláudio parece ter percebido isso e escolhido o campo de atuação. 

Ciro Gomes é ponte ou muro? 

O fator Ciro Gomes adiciona complexidade ao cenário. Roberto e ele permaneceram juntos no rompimento com o PT em 2022. Mais recentemente, o ex-ministro exaltou o nome do ex-prefeito e fez acenos fortes à oposição. Ele disse até querer votar em Alcides Fernandes para o Senado.  

Entretanto, Ciro tem um histórico de duros embates com o bolsonarismo e, nacionalmente, pelas declarações recentes de figuras como o senador Rogério Marinho (PL-RN) e o presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, a aproximação não é fácil. 

De uma forma ou de outra, Ciro é uma figura política de peso no Ceará. Todos na oposição sabem que o poder retórico dele e o recall podem impulsionar os planos do grupo. A questão de Ciro estar ou não nesse palanque bolsonarista é incerta, assim como sua permanência no PDT. 

Desafio: reverter a imagem de governista 

Por fim, a histórica proximidade de Roberto Cláudio com figuras do grupo governista estadual, como o ministro da Educação, Camilo Santana, tem sido um desafio desde o rompimento em 2022. 

Agora, mais investido do personagem de opositor e mais longe do campo de centro-esquerda, o ex-prefeito de Fortaleza vai poder atuar de maneira mais contundente para tirar da cabeça do eleitor a proximidade dele com o passado.