Gestos políticos e revogação da taxa do lixo: como começa a gestão de Evandro Leitão
Revogação da taxa do lixo, composição do secretariado e foco nos primeiros 100 dias: os primeiros atos de Evandro Leitão mostram presença, sinalizam para mais diálogo e busca por apoios
Os primeiros passos de Evandro Leitão à frente da Prefeitura de Fortaleza sinalizam uma gestão em busca de equilíbrio entre o pragmatismo político e a resposta a pressões populares. A revogação da polêmica Taxa de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, conhecida como "taxa do lixo", é o movimento mais simbólico até agora, atendendo a uma demanda forte da população. Embora a medida tenha potencial de agradar eleitores, gera um desafio fiscal: como repor a perda de R$ 120 milhões anuais sem comprometer serviços essenciais?
Outro aspecto relevante é a promessa de diálogo com o Legislativo. A entrega do projeto ao presidente da Câmara, Léo Couto, acompanhada de gestos de aproximação, indica a intenção de pacificar a relação com os vereadores — postura diferente da adotada pela gestão anterior, de José Sarto.
A composição do secretariado também revela o esforço de ampliação e contemplação de alianças. Evandro nomeou vereadores e figuras de destaque em partidos como PSD, PT e PSB. Até o União Brasil, sigla que esteve em campo oposto durante a eleição, garantiu espaços na gestão. Esse movimento indica busca por governabilidade, mas carrega o risco de desalinhamento programático e possíveis tensões na condução administrativa.
O foco nos primeiros 100 dias de governo, com a orientação clara para que os secretários "estejam nas ruas", reforça a tentativa de construir uma imagem de gestão participativa e próxima da população. Priorizar áreas sensíveis como saúde, limpeza urbana e mobilidade, além do reforço em ações sociais, aponta para uma abordagem voltada às demandas cotidianas, o que pode fortalecer a conexão com a base eleitoral.
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O desafio, no entanto, será equilibrar o discurso de proximidade com a entrega efetiva de resultados. A expectativa gerada por essa promessa inicial é alta, e uma possível execução ineficaz, somada à perda de arrecadação provocada pela revogação da taxa do lixo, pode comprometer a capacidade de investimento em políticas públicas e nas respostas objetivas à população.
O que se observa, portanto, é um governo que inicia pautado pelo simbolismo da conciliação: escutar a população, dialogar com o Legislativo e formar uma base ampla. Mas a conciliação política não pode ser confundida com a ausência de decisões difíceis. O verdadeiro teste virá com a gestão das expectativas criadas e o equilíbrio entre alianças políticas e eficiência administrativa.
Em suma, os primeiros atos de Evandro Leitão refletem um governo que busca legitimidade em gestos políticos e no atendimento de pautas populares. No entanto, o sucesso da gestão dependerá menos das promessas iniciais e mais da consistência e coragem para enfrentar os desafios fiscais e administrativos ao longo do mandato.