Como antecipado pela coluna, o Conselho de Administração do Banco do Nordeste do Brasil comunicou a mudança no comando da Instituição. O atual presidente do Banco, Romildo Rolim, deixou o cargo, dando lugar ao então diretor de negócios, Anderson Possa, que assume interinamente.
O Banco do Nordeste, uma instituição pública, patrimônio do povo nordestino e brasileiro, tem papel central na concessão de microcrédito com uma penetração em toda a região, portanto com forte componente econômico e eleitoral. Trata-se de uma das políticas de crédito de maior êxito no Brasil.
Guerra política
É essa política exitosa que faz o BNB estar hoje no centro de uma guerra política que envolve caciques partidários, gente de muita influência junto ao presidente Bolsonaro e um forte lobby do mercado financeiro, que vê com olhos brilhantes o programa de microcrédito avaliado em R$ 30 bilhões. Nos bastidores, há articulações para que o banco faça mudanças nesta parte e depois venda este ativo à iniciativa privada.
Nos últimos meses, as disputas políticas cresceram e a temperatura subiu na instituição com a atuação de personagens de envergadura que tentam mudar o comando da instituição a qualquer custo. Romildo Rolim, nomeado ainda no governo Michel Temer, também encontrou os aliados políticos que o deram sustentação para ir se mantendo no comando, de onde resiste de sair.
Cargo de total interesse do centrão, a presidência do BNB passou a ser cobiçada e foi justamente no microcrédito que apareceu o álibi para convencer Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes a trocar o comando. Trata-se de um contrato firmado há 18 anos para a gestão do programa de microcrédito com o Instituto Nordeste e Cidadania (Inec) no valor de R$ 600 milhões.
Embora não haja confirmação de indícios de corrupção, a narrativa criada foi para dizer que trata-se de uma organização social cujos diretores são petistas. Foi a senha. Os contratos, ao longo dos anos, foram sendo renovados sem concorrência, embora haja mais de 100 instituições atuando no ramo atualmente.
Após a circulação das informações, o PL, responsável pela indicação, pediu ao palácio do planalto e ao ministério da economia a destituição do atual presidente e apresentou até um nome para a substituição.
Diante das suspeitas levantadas com interesses políticos claros, o Ministério enviou informações para os órgãos de fiscalização no intuito de apurar as possíveis fraudes. Caso avance, essa providência poderá fazer o banco virar um caso de polícia.
No Ceará, um dos parlamentares com influência no banco é Júnior Mano (PL). Atualmente, o deputado paraibano Welington Roberto, líder do PL na Câmara, é um dos que dava sustentação a Rolim, mas as pressões estavam muito fortes.
Um dos interessados na questão é o atual chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, senador Ciro Nogueira (PP), conforme apurou essa coluna com fontes internas. Inclusive, o interino , Anderson Possa, é alinhado ao cacique piauiense.
Instituição forte, o Banco do Nordeste não pode ficar refém das querelas políticas de baixíssimo nível, por ser uma instituição fundamental ao fomento da economia do Nordeste. Além disso, o furacão político no órgão sepulta de vez a ideia vendida de que as indicações políticas haviam acabado nas instituições no governo Bolsonaro. Apenas miragem.