Em menos de três meses, o Banco do Nordeste do Brasil, maior instituição de fomento ao crédito ao pequeno empreendedor na região e um dos bancos públicos com papel social mais estratégicos do País, volta a ter seu ambiente interno conturbado por conta da politicagem. O BNB deve passar por nova mudança de comando, afirmam fontes internas do Banco a esta Coluna.
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Na manhã desta segunda-feira (3), deverá haver uma reunião do Conselho de Administração do BNB e, a partir dela, mais mudanças na parte de gestão para atender a pedidos políticos, inclusive a substituição do atual presidente, Anderson Possa.
A ambição dos caciques do chamado “Centrão”, um grupo de partidos políticos que se agrupa com o objetivo de ocupar espaços políticos de governo em troca de governabilidade no Congresso Nacional, parece não ter cessado.
De acordo com as fontes desta coluna, a indicação feita no fim de setembro do ano passado que levou Anderson Possa à Presidência, mas de maneira interina, não foi suficiente para acomodar os interesses políticos.
Naquele momento, o pano de fundo da crise forjada pelos agentes políticos era um contrato de prestação de serviço do BNB com uma organização social cujos dirigentes são taxados de “petistas” pelos novos aliados do presidente Jair Bolsonaro.
Trata-se do Inec (Instituto Nordeste Cidadania), que desde a época do governo Lula, mantém contrato de gestão de programas de microcrédito, com uma carteira de clientes que dá extrema capilaridade política a quem se apossar. Vale lembrar, estamos começando um ano eleitoral.
É exatamente este o epicentro do furacão político que volta a varrer a instituição. O ano é novo, mas a motivação para a possível troca de comando é velha. A tal gestão dos programas de microcréditos do BNB, a joia da coroa, volta a gerar a divergências.
Em entrevista a este Colunista, no último dia 21 de dezembro, o presidente Anderson Possa negou as pressões políticas com viés partidário em relação ao governo federal. Entretanto, os caciques do Centrão nunca fizeram questão de esconder seus interesses.
Pressionado pela narrativa de retirar urgentemente o Inec da operação, Possa abriu uma concorrência pública que acabou fracassando, com todos os concorrentes desclassificados.
Para alguns, uma prova de que o Inec poderia ser qualificado para a tarefa. Para outros, um conjunto de exigências que inviabilizaria a participação de qualquer empresa.
Além disso, o novo presidente detalhou a adoção de políticas de governança pública para devolver ao banco o domínio sobre questões que estavam mais na mão da empresa contratada para o serviço. Na ocasião, o presidente deixou bem claro que, a respeito do assunto, estava dando o critério técnico.
“Fizeram ilações. Agora, em relação a governança, não é salutar que um programa de R$ 15 bilhões seja gerido por uma mesma empresa, por contratação direta, durante 18 anos. Por isso, abrimos um credenciamento, até para conhecermos o mercado”, detalhou o gestor na oportunidade.
Segundo ele, é preciso “proteger” a instituição e por isso, disse que iria se recusar a entregar o microcrédito a uma empresa sem a devida qualificação para “ter responsabilidade” com a população.
A bola da vez das especulações é o nome de José Gomes da Costa, diretor financeiro e de crédito da Instituição indicado ao cargo no início deste mês. Ele chegou a ocupar o comando do BNB na Bahia, antes de ir ao cargo em que está atualmente.
A indicação do cargo de comando da Instituição caberia ao PL, partido ao qual o presidente Bolsonaro está filiado.
Esta coluna apurou que a chegada de Anderson Possa ao comando passou pelo crivo do ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil de Bolsonaro.
O embate, ao que se percebe, é de cachorro grande. Há fortes indícios de que haverá mudanças no banco ainda nesta semana. Entretanto, mesmo que não haja, ter uma instituição do peso para a população mais pobre do Nordeste como o BNB envolta em uma permanente disputa política mostra como mudam os governos e as velhas práticas continuam.
Enfraquecer o BNB é uma derrota do nordestino e de todo o legado que a Instituição construiu no microcrédito ao longo de 20 anos de atuação no seguimento. O governo Bolsonaro não faz absolutamente nada para evitar a apropriação indevida dos políticos nas instituições nacionais.