Telescópio James Webb descobre galáxia mais distante do universo

Novo achado contribui para confirmar que o universo está se expandindo

Escrito por
Ednardo Rodrigues producaodiario@svm.com.br
Legenda: Antes da MoM-z14, a galáxia mais distante conhecida era a JADES-GS-z14-0 (em destaque)
Foto: NASA/ESA/CSA/STScI

O telescópio espacial James Webb (JWST), com sua capacidade incomparável de observar as profundezas do espaço e do tempo, mais uma vez ampliou os limites da exploração cósmica. Os cientistas identificaram agora MoM-z14, a galáxia mais distante já observada, cuja luz foi emitida apenas 280 milhões de anos após o Big Bang.  

O nome MoM-z14 tem um significado baseado na metodologia de identificação de galáxias distantes. "MoM" vem do Mirage or Miracle survey, um estudo espectroscópico focado em confirmar galáxias candidatas de alto desvio para o vermelho. 

O "redshift" é um fenômeno que acontece porque o universo está se expandindo. Conforme as galáxias se afastam de nós, a luz que elas emitem é esticada para comprimentos de onda mais longos, deslocando-se para a região do vermelho do espectro eletromagnético - daí o nome redshift, que significa "desvio para o vermelho".

E z14 refere-se ao redshift da galáxia, que é 14,44, indicando que sua luz foi emitida cerca de 280 milhões de anos após o Big Bang. Nunca tínhamos observado tão longe, e quanto mais longe, mais no passado observamos os astros.

O Big Bang ocorreu no ano zero e universo tem cerca de 13,8 bilhões de anos. Como essa galáxia foi observada quando o universo tinha apenas 280 milhões de anos, o universo era muito jovem.

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Comparação entre MoM-z14 e a predecessora  

Antes de MoM-z14, o recorde de galáxia mais distante pertencia à JADES-GS-z14-0, observada 290 milhões de anos após o Big Bang. Ambas as galáxias apresentam um desvio para o vermelho extremamente alto, com MoM-z14 medindo 14,44, ultrapassando JADES-GS-z14-0, que tem 14,18.

Esse fenômeno ocorre devido à expansão do universo, que estica a luz das galáxias antigas para comprimentos de onda mais longos, tornando-as visíveis apenas por meio dos instrumentos avançados do JWST.  

Apesar da proximidade temporal de suas formações, MoM-z14 se destaca por sua luminosidade intensa e estrutura compacta, medindo apenas 240 anos-luz de diâmetro, o que a torna 400 vezes menor que a Via Láctea. Sua massa é comparável à da Pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia-anã que orbita a nossa.  

Composição química de MoM-z14  

A análise espectroscópica de MoM-z14 revelou uma abundância incomum de nitrogênio em relação ao carbono, um padrão semelhante ao encontrado em enxames globulares da Via Láctea.

Além disso, os cientistas detectaram hidrogênio, oxigênio e carbono, indicando que múltiplas gerações de estrelas já haviam se formado e evoluído dentro dessa galáxia primitiva.  

A presença de oxigênio é particularmente intrigante, pois sugere que a nucleossíntese estelar já estava em andamento em um estágio surpreendentemente precoce da história do universo. Isso desafia modelos existentes que previam uma formação mais lenta dos elementos pesados.  

O instrumento por trás da descoberta  

A identificação de MoM-z14 foi possível graças ao Espectrógrafo de Infravermelho Próximo (NIRSpec) do JWST, um dos seus instrumentos mais sofisticados.

O NIRSpec permite que os cientistas analisem as assinaturas espectrais de objetos distantes, determinando sua composição química e desvio para o vermelho com uma precisão sem precedentes.  

Graças a essa tecnologia, os pesquisadores confirmaram que MoM-z14 não apenas estabeleceu um novo recorde de distância, mas também trouxe insights inesperados sobre a formação das primeiras galáxias.  

O que a nova galáxia significa para a Cosmologia?  

A detecção de MoM-z14 reforça a ideia de que as primeiras galáxias eram mais brilhantes e numerosas do que se esperava, desafiando modelos cosmológicos tradicionais.

Além disso, a presença de elementos pesados tão cedo no universo sugere que a formação estelar ocorreu a uma taxa muito mais rápida do que se pensava.  

O JWST continua a redefinir nossa compreensão do cosmos e, a cada nova descoberta, nos aproximamos um pouco mais de desvendar os mistérios da infância do universo. Até onde conseguiremos enxergar? Essa é uma pergunta que certamente será respondida nos próximos anos.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor. 

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