A Teoria do Big Bang está obsoleta? Veja o que muda com as descobertas do James Webb

Maior telescópio espacial do mundo foi lançado há quatro anos

Escrito por
Ednardo Rodrigues ceara@svm.com.br
(Atualizado às 09:47)
Legenda: Galáxia observada pelo Telescópio Espacial James Webb
Foto: NASA/ESA

O Big Bang tem sido colocado em xeque nos últimos dois anos. O modelo ficou famoso pela proposta do padre católico e professor de Física Georges Lamaître (1894-1966). Pra você ver quem nem todo físico é ateu. Ele utilizou a teoria de Einstein e deduziu que o universo um dia foi muito concentrado e, hoje, deveria estar em expansão. Independentemente, outro físico chegou à mesma interpretação: o russo Alexander Friedmann (1888-1925).

Einstein não gostava muito da ideia: acreditava que o universo era estático e sempre existiu do mesmo modo. Uma força deveria existir para equilibrar a gravidade e impedir que as galáxias caíssem umas em direção às outras.

A ideia de Einstein caiu por terra quando Edwin Hubble (1889-1953) observou que as galáxias estavam se afastando de nós, ou seja, o universo estava se expandindo. Einstein admitiu que estava errado, uma destreza que todo cientista deve possuir em casos como este.

Desta forma, se o universo está em expansão, num passado remoto, as galáxias deveriam estar juntas há 13,8 bilhões de anos atrás. Um evento teria provocado uma grande liberação de energia que fez essas galáxias se separarem. Chamamos este hipotético acontecimento de Big Bang. Alguns teólogos interpretam este momento como sendo ato da criação divina. 

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A teoria do Big Bang continuou ganhando força. Em 1964, dois radioastrônomos, Penzias e Wilson, construíram uma antena enorme. 

Eles perceberam ondas de microondas vindo de todas as direções do universo. Um tipo de radiação fria. Como essa radiação vinha de muito longe, mais longe do que as galáxias, ficou conhecida como radiação cósmica de fundo (porque está ao fundo do que podemos observar).

Essa radiação em microondas indicava que a temperatura do universo era praticamente a mesma, em torno de 2,73 K, independente da direção para a qual a enorme antena apontava. Como poderiam pontos tão distantes do universo terem a mesma temperatura? A melhor explicação é que um dia todo universo estava junto, como supunha a Teoria do Big Bang. Os descobridores nem acreditaram quando ganharam o prêmio Nobel em 1978.

Diversas outras medidas foram realizadas pelo telescópio espacial Hubble. Contudo, sua visão era limitada pelo seu tamanho e pelo seu espectro de observação. Assim, o Hubble não enxergava muito longe. Surgiram então hipóteses de como deveria ser o universo “distante”. Quanto mais distante, mais no passado observaremos o universo.

A luz do Sol demora 8 minutos para chegar até aqui. Se ele se apagasse, só perceberíamos 8 minutos depois. A estrela mais próxima do Sol, Próxima Centauri, está a 4,5 anos-luz de distância. Ou seja, estamos vendo aquela estrela como era 4,5 anos atrás. Imagine como seria observar as galáxias depois do limite do Hubble. Bom, os cientistas imaginaram que as galáxias seriam primitivas, pequenas e com poucos elementos químicos a não ser o hidrogênio e o hélio.

Com o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, na manhã de Natal de 2021, na verdade, dois meses depois do lançamento, foi possível observar as primeiras galáxias.

Para nossa surpresa, as galáxias eram desenvolvidas, grandes e ricas em elementos químicos, como o oxigênio, por exemplo. Houve especulação ao afirmar que a Teoria do Big Bang estava errada porque as galáxias pareciam ser mais velhas do universo. Na verdade, seria o modelo de evolução das galáxias que estaria errado, e não o Big Bang. 

Infográfico da Nasa
Legenda: Esquema de observação das galáxias mais distantes pelo Telescópio Espacial James Webb
Foto: ESA

Até hoje, não surgiu um modelo melhor que não use o Big Bang para explicar o universo como o observamos. O próprio modelo lambda CDM se baseia no Big Bang. Outros modelos que aparecerão continuarão muito provavelmente utilizando o Big Bang, com algumas variações.

Por exemplo: foram encontradas manchas na radiação cósmica de fundo. O cosmólogo Roger Penrose acredita que seja interferência de um outro universo que “tocou” no nosso. Essa pode ser a primeira evidência do Multiverso. Contudo, multiverso é só uma definição. 

Dessa forma, concluo que não é a Teoria do Big Bang que está obsoleta, e sim nossa concepção de universo e nosso conhecimento sobre a evolução das galáxias.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor. 

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