Funcionária muda rotina do Vapt Vupt Fortaleza ao fazer fantoches para melhorar atendimento infantil
Com percepção sensível e atuação carinhosa, Edilvânia Costa faz das próprias habilidades um motivo a mais para fazer com que crianças e famílias se sintam acolhidas até num momento tão corriqueiro
Nada tem potencial de mudança se permanecer parado. Fantoches, por exemplo, podem ser só fantoches. Mas Edilvânia Costa enxerga mais longe: utiliza esses pequenos brinquedos como ferramentas de transformação. Funcionária do Vapt Vupt em Fortaleza, a colaboradora modifica diariamente a rotina das diferentes unidades do serviço a partir desse detalhe tão simples quanto poderoso. Movimenta as mãos em prol do bem maior.
Esse “bem” diz respeito a fazer com que crianças se sintam mais seguras e acolhidas no momento de emitir documentos. O processo pode não ser fácil. Elas chegam eufóricas, inquietas, desejosas apenas de brincar. Crianças sendo crianças. Até ficarem na posição exigida para o registro necessário, conforme padrões pré-estabelecidos, é peleja.
Então, com muita agilidade e sorriso, Edilvânia saca da parte inferior do balcão um pedaço de pano que começa a falar com os pequenos. Eles têm vozes engraçadas e interagem de forma a fazê-las menos agitadas. Incorporam peixes, patos, sapos e toda sorte de personagens dos filmes e desenhos animados. De repente, não há mais choro, grito nem insatisfação. Há, sim, uma bela fotografia documental e uma nova história para contar dali.
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“A reação da criança geralmente é achar graça ou sorrir. Coloco o fantoche na mãozinha dela e digo, ‘fica com o fantoche nesta mão pra deixar a outra livre’. Então consigo fazer o meu trabalho no que diz respeito às digitais, por exemplo. Já quando é na hora de bater a foto, acontece o mesmo: aproximo o fantoche da câmera para elas sorrirem e ficarem quietinhas”.
Tem dado certo. O retorno é mais que positivo. Edilvânia sente no olhar dos pais, na alegria incontida dos pimpolhos. E, claro, no resultado do ofício também: tudo fica mais bem feito e apurado porque exibe as cores da sensibilidade. Até mesmo quando o uso do fantoche não funciona, a colaboradora dá um jeito.
Sim, há que se considerar: devido a neurodivergências ou a questões semelhantes, algumas crianças sentem medo dos paninhos na mão – repulsa percebida na própria linguagem corporal. Então prontamente guarda-se esse recurso e vai em busca de outro. Geralmente, é por meio de diálogo paciente e carinho desmedido que as coisas acontecem.
Sempre foi assim no passo a passo de Edilvânia. Cresceu envolta por gente e cuidado. Cria do bairro Lagoa Redonda, recorda o fácil convívio com os vizinhos desde muito cedo. “Você pode imaginar como é o contexto de periferia: não temos apenas vizinhos, temos amigos”. Não sem motivo, era comum o compartilhar de artigos alimentícios a produtos de limpeza, passando por roupas, objetos e itens de toda sorte. Ruas capazes de ser famílias inteiras.
A própria mãe da administradora também refletia esse espírito. Já chegou a ser presidente de associação comunitária. No semblante, o gosto por ajudar a si e aos outros. Edilvânia recolheu tudo isso e faz da vida um relato semelhante: gosta de ser útil, de colaborar no que for preciso. Utilizar as próprias habilidades em prol de algo maior.
A confecção dos fantoches tem a ver com a mãe também. Ainda grávida da filha, Maria Isabela, Edilvânia foi estimulada pela matriarca a ocupar o tempo entre feltros, linhas, agulhas e tesouras. Assistia a programas de artesanato e aprendia aos poucos. De repente, fazia de fantoches e livros coloridos para Maria Isabel até bonecos personalizados para festas de aniversário, extraindo até renda considerável.
Ao iniciar os trabalhos no Vapt Vupt da Messejana, em 2018, não se conteve: levou a própria expertise para o cotidiano laboral. Primeiro observou que já existia um recurso semelhante na empresa – um coelhinho de pelúcia bolando entre 10 guichês. Depois, mediante estímulo da gerência para que funcionários explorassem os próprios talentos em oficinas, começou a criar para si e a ensinar também os demais a fabricarem com as próprias mãos.
Deu tão certo que a ideia extrapolou a unidade. Hoje, quem for ao Vapt Vupt de qualquer local de Fortaleza contará com esse recurso a mais para otimizar o atendimento infantil. E não apenas em um setor específico, mas em vários. A própria Edilvânia, mesmo atuando hoje em uma área diferente de quando entrou na empresa, vez ou outra repete a dinâmica de sacar os bonecos da mesa e fazê-los mudar a realidade dos pequenos.
“Além de ficar muito feliz, tenho a sensação de missão cumprida. Que aquilo que a gente pensou realmente dá certo. O fato de outras unidades buscarem o mesmo recurso mostra que não só eu, mas todo o Vapt Vupt tem essa visão de buscar um atendimento mais acolhedor e humanizado”, celebra a funcionária. Os motivos guiam os próximos passos.
Edilvânia quer fazer com que os instrumentos utilizados na Sala Sensorial dos Vapt Vupts – espaço projetado para oferecer estímulos sensoriais controlados, a exemplo de luzes, texturas e equipamentos específicos, com o objetivo de contribuir para a regulação emocional e ajudar a reduzir o estresse durante os atendimentos – possam ganhar também os guichês.
“Eu já tinha feito um livro sensorial para a minha filha há anos atrás, e fiquei com a perspectiva de fazer mais, além de umas placas soltas, para as crianças ficarem brincando durante o atendimento. Esse é o meu plano. Faço parte do Comitê da Sustentabilidade, então vou aproveitar os recursos disponíveis para fazer esse material – além do que tenho em casa”.
Em resumo: não parar de criar modos possíveis de cuidar e acolher. Para talvez se conectar àquela menina da Lagoa Redonda que percebia o mundo se esticar quando enxergava nos outros solidariedade. “Às vezes você acha que um detalhe não faz diferença. Mas, pra quem chega, aquele momento de atendimento no guichê pode ser especial. Quero participar disso”.
Esta é a história de amor de Edilvânia Costa pelo prazer de melhorar a vida de pessoas. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor.