Uma fotografia de família completa 100 anos e será recriada em festa por descendentes no sertão do CE

Numa mistura de passado e presente, a reunião em Várzea Alegre contará com uma criptomoeda planejada para angariar fundos destinados ao grande evento

Legenda: Família Batista registrada por um fotógrafo japonês em 1923, em Várzea Alegre, no Ceará
Foto: Arquivo pessoal

Quase tudo o que se sabe sobre a clássica fotografia da família Batista está nela mesma. Era início dos anos 1920 quando um fotógrafo itinerante japonês sugeriu aos patriarcas Papai André e Mãe Dondon a chance de fotografá-los em uma época de registros raros. Ele colocou um lençol para cobrir parte da casa de taipa desta família de agricultores que morava no sítio Mocotó, na cidade cearense de Várzea Alegre, e fez o clique.

Todos vestiam suas melhores roupas para estrelar aquela imagem que fatalmente adormeceria na memória das gerações seguintes e desbotaria com o tempo. Foi assim por longas décadas, até que descendentes da sexta geração redescobriram a imagem e decidiram fazer de seu centenário uma grande festa no interior, com direito à criptomoeda própria e a expectativa de reunir cerca de 300 descendentes para refazer o histórico registro familiar.

Tudo começou quando o promotor de Justiça Flávio Costa Cavalcante, um amante da fotografia, decidiu pesquisar sobre os fotógrafos itinerantes renegados ao anonimato em sua terra natal. Enquanto levantava imagens antigas em Várzea Alegre e conversava com parentes sobre elas, descobriu a famigerada foto de 100 anos da família Batista na qual estava seu trisavô. "A gente vai deixar passar em branco? Vamos comemorar", instigou um primo. Ele topou.

Legenda: Flávio Costa é um dos organizadores do encontro da família Batista
Foto: Arquivo pessoal

No início, a ideia era apenas reunir descendentes mais próximos e refazer o registro. Mas aí uns seis primos criaram um grupo no Whatsapp para compartilhar uma verdadeira saga em busca das ramificações dos parentes pela internet.

De repente, o número de participantes do grupo chegou à casa das dezenas. A história se espalhou e cerca de 300 descendentes de vários estados já manifestaram interesse em participar do reencontro no próximo dia 26 de agosto.

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"A fotografia tem um poder inestimável. Ela conta a nossa história, traz lembranças e até muda vidas. Uma simples imagem em preto e branco do século passado continua poderosa, com a força de trazer de volta tanta gente e tanta história", diz Flávio, que precisou tirar férias do trabalho como promotor de Justiça no Amapá para se dedicar ao megaevento familiar.

Diretamente do Banco Central dos Batistas, uma criptomoeda chamada Mocotó em homenagem ao rincão da família foi criada para angariar fundos para a grande festa. É simples: o parente faz um pix de 10 a 1.000 reais e recebe cédulas digitais com a imagem dos patriarcas, além da satisfação de contribuir para celebrar a memória da família em um centro social da cidade. "A contribuição é voluntária", avisa Flávio.

Foto: Arquivo pessoal

O aniversário da fotografia que eternizou a numerosa família Batista serviu para uma grande mobilização. A árvore genealógica que mostra as descendências dos 13 filhos de Papai André e Mãe Dondon ganhou uma planilha que funciona como uma espécie de mapa para entender os parentescos.

Amigos estão neste momento trabalhando em poesias e escritos para compartilhar memórias. E um QG familiar foi montado para organizar cada detalhe do encontro. Nos crachás dos organizadores, nome e parentesco com os patriarcas.

O fotógrafo japonês que congelou aquela tarde ensolarada numa imagem formal de família provavelmente nunca imaginou o que seu trabalho geraria um século depois: um reencontro entre gerações afastadas pela vida para honrar a história de seus antepassados sertanejos, agricultores e donos de engenho. Uma festa para evocar o poder da memória e da fotografia.

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