Você talvez já tenha ouvido falar do Oitão Preto, mas será que o conhece? Oitão é o apelido do bairro Moura Brasil e fica logo ali, entre o centro e a praia da Leste, em Fortaleza. Herdou este nome de uma pensão que virou boate. É muito maior do que costuma sair no noticiário policial ou nas notícias de fofoca por ficar nas proximidades do famigerado hotel onde acontece a viral farofa da Gkay.
O Oitão é terra de migrantes do interior e de pescadores, que ocuparam o território com garra e luta, do Trilho ao Santo Inácio. É o bairro de Seu Zezé, um fotógrafo que documentou diferentes gerações com retratos de família. É o chão de dona Chica Lora, mulher sertaneja que vê no cuidado com as flores e sepulturas do cemitério São João Batista uma forma de reconexão espiritual.
O Moura — outro apelido carinhoso do bairro — é onde fica a Praça da Muriçoca e o Bar do Peixe. Quem nunca provou o pratim de dona Mazé não sabe o que está perdendo. Dona Lúcia vive lá há 60 anos e não tem quem a faça querer deixar seu lugar. O amor dela pelo bairro é o mesmo de Réu, um pescador de 73 anos que chegou ali aos 8 anos, sozinho, e construiu uma chance de viver em paz.
Moura Brasil é um bairro de memória, mas também de futuro. É lá que Karloff e Hyago estão iniciando suas trajetórias na música sob influência do rap nacional. Ou que Kaleb, de 13 anos, sonha em se tornar um MC do funk. Ou que Sarah Luana, miss plus size, deseja virar cantora. São artistas fazendo seu corre.
Oitão Preto também é terra de lendas, de diversidade. E pulsa vida. Quem conta tudo isso não sou eu, mas Débora Soares, Ester Sousa, Marília Sales, Regilane Patrício, Thyago Nunes e Wagner Filho. Eles são contadores de histórias, guardiões da cultura, comunicadores. Criaram a Rede Oitão, um jornal comunitário, para mostrar ao resto da cidade o que é o Moura Brasil. Vale lê-los.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.