A história de Bitaté, jovem indígena que aprendeu a manejar drones para defender território

Pertencente ao povo Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, ele foi convocado à liderança após o assassinato de um parente. A luta pode ir ao Oscar e entra neste mês na Disney +

Legenda: "O filme vai pro Disney+ no dia 15 de janeiro", me contou Bitaté pelo WhatsApp, em meio a uma viagem pelos Estados Unidos onde vem divulgando o trabalho de seu povo para resguardar a Amazônia
Foto: Divulgação

Bitaté está às margens de um riacho na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Dali, sobe um drone que, a dezenas de metros de altura, desvela em imagens a ilha de floresta cercada de fazendas onde resiste seu povo. 

A cena é do documentário “O Território” - que segue firme na disputa para concorrer ao Oscar deste ano e estará disponível ainda este mês num serviço de streaming.

“O filme vai pro Disney+ no dia 15 de janeiro”, me contou Bitaté pelo Whatsapp, em meio a uma viagem pelos Estados Unidos onde vem divulgando o trabalho de seu povo para resguardar a Amazônia.

A cena do filme se repete com frequência no cotidiano do jovem indígena de 22 anos que mergulhou nas tecnologias para seguir a missão de defender seu povo e a floresta.

Quase todos os meses, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau deixa a aldeia Jamari e segue a pé, adentrando a floresta amazônica com outros “parentes”, como se tratam os indígenas de diversas etnias.

Com drones e GPS, monitoram o que for possível dos quase 19.000 quilômetros quadrados da terra indígena, uma área quase do tamanho de Sergipe. Tentam, eles próprios, fazer frente aos inúmeros grileiros e madeireiros que cobiçam suas terras.

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A história de Bitaté é parte do enredo do documentário “O Território”, que conta o drama dos Uru-Eu-Wau-Wau, uma etnia indígena que viu sua população cair da casa dos milhares para duas centenas desde o contato com os brancos nos anos 1980.

No filme, Bitaté parece inseguro para assumir o posto de liderança que os parentes lhe rogam, mas assume o desafio diante da dor de perder o parente Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Professor e articulador dos Guardiões da Floresta, Ari foi encontrado com lesões no pescoço perto de uma estrada que corta a terra indígena. Sem resposta das autoridades, os uru-eu-wau-waus acreditam que a morte dele é mais uma na conta dos “invasores”. 

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A luta daquele povo é também uma forma de honrar Ari, de quem pouco se fala para respeitar o descanso dos que partiram. Até mesmo quem está imerso nessa realidade, como Bitaté, se surpreende com a destruição que vem engolindo a floresta amazônica.

O impacto veio forte quando ele subiu um drone pela primeira vez, em 2020, e enxergou um desmatamento que se perdia de vista. "A riqueza está do nosso lado. Do outro há destruição”, diz.

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Bitaté conta que tanto no monitoramento quanto na fotografia, trabalha para proteger a floresta que tem uma importância enorme para regular o clima no planeta que já agoniza com a emergência climática. “Sou um defensor do meio ambiente”, define. 

E é nesta missão que o líder indígena hoje viaja por vários países, mostrando o trabalho e a resistência de seu povo. Enquanto o documentário está prestes a estrear no streaming, ele está em Nova York. Sua voz tem ido longe, acumulado prêmios audiovisuais em vários continentes. E a luta pelo seu povo, registrada, poderá trazer um Oscar ao Brasil. A lista oficial sai no fim do mês. Oxalá!