Touro e urso são coadjuvantes; o dragão é o ator principal

Legenda: A B3, local onde funciona a negociação eletrônica da bolsa de valores do Brasil, na semana passada, inaugurou uma estátua do touro, remetendo a figura pujante de alta nos investimentos
Foto: Shutterstock

O mercado financeiro tem sua aura. Além da mística dos grandes investidores e suas fortunas, existem algumas particularidades que chamam atenção.

Entre suas idiossincrasias, o mercado financeiro associa a performance da bolsa de valores ao touro e ao urso. Trata-se de mais uma invenção do sistema financeiro. Esta analogia de touro e urso nos resultados das ações é muita estranha para nós brasileiros.

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Já pensou, algum dia, você entrar em contato com sua instituição financeira e a pessoa lhe dizer com ressonância na voz e brilho no olhar: “o mercado está touro pra você!!!”. Seria, digamos, um momento singular, em que a reação poderia ser das risadas às palavras nada amistosas.

TOURO E URSO NOS INVESTIMENTOS

O touro, segundo a lenda, é algo positivo. Representa a coragem, força e resistência. É o que os americanos chamam de Bull Market! O touro ao realizar o ataque, seu golpe é jogar para o alto sua presa. Dessa forma, a analogia é que o mercado está em momento de alta.

A B3, local onde funciona a negociação eletrônica da bolsa de valores do Brasil, na semana passada, inaugurou uma estátua do touro, remetendo a figura pujante de alta nos investimentos. Bem... ainda não funcionou. Na semana passada, Ibovespa, principal índice de performance das ações no Brasil, caiu 3,1%.

Exatamente quando a bolsa está em baixa, é que surge o urso. Segundo a lenda, o ataque do urso à presa é desferir golpes jogando a vítima ao chão. Assim, entende-se que o urso é aquele que joga o mercado para baixo. É o chamado Bear Market! É um momento de ameaça para os investimentos no mercado de capitais.

O DRAGÃO ESTÁ EM CENA

Atualmente, na economia e nos investimentos, touro e urso são meros coadjuvantes. O dragão é o ator principal. Apesar do perigo do urso, é o dragão que vem assustando. Quando tratamos de dragão, estamos falando de inflação.

O dragão com suas baforadas de fogo provoca atualmente aumento nos preços, fruto de uma complexa combinação de variáveis econômicas, que passam desde as dificuldades na retomada da produção nas cadeias produtivas globais, elevação dos preços das commodities, crise energética, entre outras.

A inflação, no caso o dragão, é que está em maior evidência. Alimentos, energia e combustíveis são os vetores inflacionários. No Brasil, enquanto a bolsa de valores está abraçada com o urso, amargando queda de 13,4% em 2021(*), o dragão inflacionário voa à toda velocidade, deixando rastro de destruição na capacidade de consumo das famílias e nas margens de lucros das empresas.

QUAL O IMPACTO DA INFLAÇÃO NOS INVESTIMENTOS?

Nos investimentos, o dragão também provoca estragos. O investidor que apresenta performance superior ao mercado, mesmo estando no terreno positivo, tem que vencer outra batalha, a inflação.

Nos últimos doze meses, os principais índices de inflação do Brasil, IPCA e IGP-M, registram alta de 10,67% e 21,74%, respectivamente. Qual o impacto disso? Seus investimentos têm que apresentar performance superior a estes índices, para ter o chamado ganho real. Se não for maior que a inflação, você estará na ilusão do rendimento nominal.

Sinceramente, me preocupo com a escala de preços. É hora de utilizarmos todo o arsenal econômico, nas searas macro e microeconômicas. Apelar também para forças superiores é válido. São Jorge, para vencer o dragão, esteja convidado!

Grande abraço e até a próxima semana!

*queda da bolsa até 19/11/2021

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.