Os economistas, em diversas vezes, são criticados por suas previsões econômicas, sobretudo quando as nuvens negras da instabilidade econômica pairam sob nossas cabeças e as estimativas não se concretizam perfeitamente.
Acredito que os economistas são os profissionais mais cobrados para estimar (e acertar) do que qualquer outra profissão. Nós economistas, no pesado encargo de analisar a conjuntura econômica, temos de ser sinceros, fazer previsões não é fácil.
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Na sala de aula, quando abordo sobre previsões econômicas, faço uma analogia com o futebol, mais precisamente com um pênalti. Na penalidade máxima do futebol, o cobrador tem a missão de fazer o gol! Nós economistas, nas previsões econômicas, também temos de acertar.
Acredito que existam dois grupos de previsões, sendo uma técnica, que utiliza a ciência econômica como sustentação, e outra, o teorema de chutágoras.
Vamos a analogia do futebol.
O jogador de futebol, ao cobrar o pênalti, se não deter uma carga de treino suficiente, chutar com a perna direita (sendo ele canhoto), fechando o olho no momento da cobrança, não colocando o pé de apoio na forma correta, tudo isto com baixa velocidade em direção a bola, qual a probabilidade do gol?
Improvável ou mesmo nenhuma chance. Este é o adepto do teorema de chutágoras.
Em outro cenário, sob a ótica técnica, para o pênalti, o jogador treinou de forma suficiente, utiliza a perna direita (sendo ele destro), com olhos abertos, atento ao movimento do goleiro, com o pé de apoio na forma correta, na velocidade correta em direção a bola, e qual a probabilidade do gol?
É gol!!!
Bem, não é inteiramente verdade. A probabilidade de gol é bem maior, mas do outro lado, o goleiro pode defender, mesmo com toda técnica colocada pelo jogador.
Nós economistas, sabemos que quanto menos técnica empregada, as previsões viram um enorme chute sem técnica, a qual atribuo como teorema de chutágoras na economia. Os leigos no assunto e os tudólogos de plantão são mestres nesta “metodologia”.
O “tudólogo”, especialista em nada, comentarista de tudo, interessante coluna do Lira Neto, aborda esse interessante tema, de forma que atualmente pessoas sem preparo, especialmente nas redes sociais e eventos “técnicos”, se arriscam a fazer previsões do alface à bomba atômica, cometem erros crassos, e por diversas vezes, deixam o ambiente econômico ainda mais confuso.
Quanto mais técnica empregada, reforço, maior probabilidade é o acerto, entretanto, mudanças nos cenários, como guerras repentinas, pandemia, rupturas políticas e sociais, entre outros, colocam as previsões em xeque. O cenário muda, novas análises devem ser realizadas.
As técnicas de previsões não se restringem apenas aos modelos econométricos e sofisticados recursos computacionais. Pois se assim fosse, bastava-nos às máquinas e os modelos, assim, os economistas seriam dispensados. O background e a sensibilidade do profissional são absolutamente necessários.
Outro ponto relevante é que muitas vezes os economistas são criticados por não acertar precisamente o câmbio ou o preço da gasolina. Quando na verdade, o mais importante é saber a tendência da variável econômica, do que propriamente cravar bem no alvo o preço da gasolina ou o PIB na terceira casa decimal.
O que importa é o gol (a tendência e os impactos econômicos) e não prever se a bola vai entrar no ângulo superior direito da trave (preço da gasolina ou as casas decimais do PIB).
Acredito que o leitor deve estar se perguntando se este colunista, faz previsões técnicas ou é adepto do teorema de chutágoras. Convido você para ler a coluna publicada 9 dias antes do conflito Rússia e Ucrânia , a qual em grande parte, as previsões já se materializaram. E também a coluna “Inflação de Fortaleza será a mais alta em quase 20 anos” — a qual já está em curso e veremos nos próximos meses o resultado das previsões.
Grande abraço e até a próxima semana.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.