A forte tensão geopolítica do momento, onde Rússia e Ucrânia são os protagonistas de possível conflito armado, e acompanhados de perto pela Europa, Estados Unidos e China, tem gerado preocupações em diferentes vertentes, entre eles estão os efeitos econômicos.
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O fluxo de bens e serviços, recursos financeiros, mão-de-obra, matérias-primas, insumos, tecnologia, entre outros fatores, têm elevada conexão global, e por estarmos em complexa e sofisticada cadeia de produção e consumo, é imprescindível a cenarização dos impactos econômicos, inclusive local, de uma provável guerra.
A corrente de comércio exterior, que representa a soma das exportações e importações, do Ceará com a Rússia e Ucrânia em 2021 foi de US$ 130,4 milhões, o que representa em reais o montante de R$ 677,9 milhões.
Em termos relativos, ou seja, se comparar com o total, o comércio exterior cearense com Rússia e Ucrânia é de “apenas” 2,0%. Aqui tem um grave problema.
Quando se tem uma guerra literalmente no radar, é inevitável a ocorrência de diversos efeitos subsequentes, a exemplo de retaliações e embargos econômicos, para os atores principais e também para aliados.
No caso Rússia e Ucrânia, pairam logo na largada sanções financeiras, como a exclusão da Rússia ao sistema de transferência financeiras internacionais (Sistema SWIFT*), o que provocaria repercussões negativas na negociação de petróleo (leia-se: preço em alta dos combustíveis e mais inflação), e por outro lado, a resposta russa via menor oferta (ou mesmo interrupção) de gás à Europa é altamente provável, com impactos severos na economia europeia.
No caso da Europa entrar em dificuldades energéticas, prejudicando o consumo das famílias e a atividade empresarial, as consequências econômicas seriam preocupante, na medida em que a corrente de comércio exterior em 2021 com o Ceará foi na ordem de US$ 850 milhões, o que representa em torno 12,8% do total.
No acumulado dos últimos três anos (2019 a 2021) a relação comercial Europa e Ceará alcançou 17,8%, como volume negociado de R$ 80,6 bilhões de reais no período. Logo, é para ficarmos preocupados e torcer para uma solução rápida e pacífica para a situação.
O valor exportado, nos anos de 2019 a 2021, do Ceará para Rússia e Ucrânia foi de US$ 6,9 milhões e US$ 2,5 milhões, respectivamente. Os calçados cearenses representam o maior peso nas exportações locais para os dois países, 79,1%.
Outros produtos cearenses também figuraram na pauta exportadora nos últimos três anos para os países em análise, a exemplo de banana, cera, melancia, granito e melão.
Pela ótica da importação, no acumulado de 2019 a 2021, o valor importado da Rússia foi de US$ 264,1 milhões, com destaque para a hulha betuminosa, importante para a produção de ferro e aço aqui no Ceará, que representou mais da metade da importação oriundo de solo russo. Já da Ucrânia, importamos bens nos últimos 3 anos o montante de US$ 30,1 milhões, principalmente bens intermediários para a produção de ferro e aço.
Acompanhemos de perto o desenrolar dessa crise, pois tudo, e todos, estão conectados.
Grande abraço e até a próxima semana.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
* Society for Worldwide Interbank Financial Telecomunication – SWIFT