O Conselho Deliberativo do Ceará rejeitou o texto do projeto do novo estatuto do clube nesta quarta-feira (4) por 75 votos contra 11, em votação em Porangabuçu. Assim, a proposta estatutária, que incluía uma participação do sócio-torcedor nas eleições da diretoria executiva, não foi aprovada. Ao Diário do Nordeste, o presidente alvinegro João Paulo ressaltou que não tem culpa pelo resultado da eleição e criticou a atuação de Hebert Santos, presidente do Conselho Deliberativo.
A reportagem apurou que a votação contou com esvaziamento da oposição, que percebeu a baixa possibilidade de aprovação às vésperas da eleição. Um ponto crítico do acirramento foi a alteração do rito da votação, que mudou para cerimônia fechada, sem presença de torcedores, e aprovação de 2/3 dos presentes. O Ceará detém 297 conselheiros aptos, mas só 87 compareceram.
Sem alterações, o atual estatuto do Ceará segue em vigor. No dia 15 de dezembro, o clube terá uma eleição para escolha do novo presidente da diretoria executiva - apenas conselheiros poderão votar.
No geral, essa foi a segunda tentativa de mudança estatutária no Vovô. Em junho, após diversas reuniões, uma Assembleia Geral foi marcada na sede do clube, com a presença do torcedor, e terminou com a rejeição de 112 por 104. Sem tempo hábil até a eleição, não deve existir mais nenhuma movimentação nos bastidores com essa finalidade, até com uma cisão entre as partes.
“Em nenhum momento eu faltei com minha palavra. É verdade, combinamos em convocar juntos, Assembleia Geral e reunião do Conselho para votação do estatuto, mas após a entrega do texto final, 26 conselheiros entraram com um requerimento pedindo prazo para ler o texto. Não tive nada a ver com isso. O comitê, que é presidido pelo Hebert Santos, concordou em dar 20 dias e, no mesmo ato, convocou por conta própria a reunião do conselho para aprovação do texto. Alguns conselheiros me procuraram informando que não seria possível convocar as duas coisas ao mesmo tempo, pois para se convocar uma Assembleia Geral é necessário haver um objeto de convocação, qual seria o objeto de convocação para aprovar? Se o texto sequer tinha passado pelo Conselho? Gerou uma dúvida regimental durante as tratativas.
Além do mais, o edital de convocação para reunião do conselho de ontem deixou os conselheiros muito apreensivos, pois deixou em aberto a possibilidade da entrada da torcida e a repetição dos absurdos da última votação. Os conselheiros não confiam no presidente do Conselho, desta forma 58 conselheiros pediram uma Assembleia para a mudança do rito, para que fosse garantida a segurança de todos, e eu tinha obrigação estatutária e moral em convocá-la.
Eu resolvo as pendências financeiras, estamos trabalhando com foco no futebol, busca pelo acesso, não posso ser o responsável direto por toda a articulação política. Acho que o torcedor tem que votar, sou favorável, mas falei diversas vezes para ele (Hebert) que precisava ter um diálogo maior para além de só falar com a oposição. Ele chegou no clube agora, nós vivemos o conselho faz muito tempo, sabemos o processo, ele não pode se colocar como o salvador da pátria assim.
O nosso conselho é muito conservador, precisa ter cautela, introduzir os temas com calma. Eu mesmo nunca falei de SAF porque é um tema sensível no clube. Não é empurrando goela abaixo que se resolve nada, eu não vou carregar essa responsabilidade para mim. Por que o Hebert também não fala que os conselheiros não confiam totalmente nele? Para mim, o processo foi mal conduzido, sem contar que é um colegiado, não sou eu que decido nada. Avisei três meses antes que esse seria o desfecho se não tivesse um diálogo maior, e foi o que aconteceu”.
“O Conselho Deliberativo, num primeiro momento, agiu em harmonia com a Diretoria Executiva no sentido da aprovação por aclamação do estatuto. Tudo foi dialogado e em consenso, de modo que alguns pontos foram reformados. Não tinha necessidade de apresentação de emendas, tendo em vista que os pontos controversos foram solucionados. O texto seria aprovado por unanimidade. Lamentamos a quebra do compromisso firmado pelo chefe da Executiva e o descumprimento da palavra empenhada por escrito. A rejeição de 2 projetos de estatuto representa um enorme retrocesso para o nosso amado clube e uma verdadeira afronta à democracia e à Nação alvinegra”.