O dia que eu fui tomar vacina com Juan Pablo Vojvoda
Tudo aconteceu em fevereiro de 2022
O título é literal: tomei vacina com o técnico Juan Pablo Vojvoda. Essa história já surgiu nos corredores da redação, mas hoje quebro o protocolo desse espaço de leitura para resgatá-la, de modo breve, mas com uma certeza: o argentino que desembarcou aqui é o mesmo que está saindo.
No dia 7 de fevereiro de 2022, eu vivia a ansiedade pelo fim absoluto da pandemia de Covid-19. Assim, a vacinação era um alento. Fui em um dos shoppings de Fortaleza para o atendimento, cheguei cedo, queria resolver tudo logo, só não imaginava que o técnico teria a mesma ideia que eu.
Uma curiosidade: nasci em 12 de janeiro, Vojvoda em 13. Não sei se o encontro existiu por isso, na verdade. Ele chegou sem alarde, de máscara, acompanhado dos auxiliares Gastón Liendo e Nahuel Martínez. E se posicionou próximo de mim na fila - o idioma “enrolado” encerrou quaisquer dúvidas.
Como todo jornalista, não poderia passar despercebido. Eu queria saber mais daquele estrangeiro, que já era histórico: levou o Fortaleza ao G-4 da Série A em 2021, com vaga inédita na Libertadores, além da semifinal da Copa do Brasil. O que eu não sabia era que Vojvoda se tornaria uma lenda.
Assim, sem maiores alardes, só perguntei: “E aí, Vojvoda? Tudo bem?”. Depois disso, uma breve conversa da vida, a adaptação e também a seleção da Argentina, que ainda seria campeã mundial.
O discurso era tímido e repleto de carisma. Refletindo sobre a saída, lembro bem da frase que ouvi, logo após um torcedor pedir uma foto: “Não sou uma estrela, não sei ser, sou um homem simples, entende? Que ama o seu trabalho, prefiro aparecer lá. Não imaginei que seria conhecido nas ruas”. E pensar que ele ganhou foi um mosaico.
Sobre a saudade do país natal, Vojvoda foi direto: “Sinto falta da minha casa, da minha família, mas sei que isso faz parte do futebol, estamos longe. Vamos voltar ao normal em breve (pós-pandemia)”.
Depois de um tempo de prosa, precisei admitir que era um jornalista. E recebi de volta, quase de imediato: “Se você falar de futebol, entreviste Nahuel e Gastón. No futebol, se fala muito do treinador, mas não estamos sozinhos, eles também são parte disso tudo, eles vivem o futebol comigo, então entreviste eles também, certo? Vocês dois vão falar, certo?”, disse rindo ao apontar para a comissão.
Nahuel respondeu que só falaria ao lado de Gastón e então fizeram um acordo: “vamos falar juntos”.
De tudo que foi dito, um ponto que prevaleceu foi sobre o sentimento de ser Fortaleza. É curioso, o treinador nem imaginava tudo que iria acontecer depois, mas já falava: “Eu gosto muito da cidade, mas principalmente da torcida. Me sinto acolhido aqui, vocês respiram futebol, e a torcida do Fortaleza é muito bonita, especial. Foram dias incríveis em 2021, só que o futebol me exige mais e temos de trabalhar com humildade, confiando em todos, para seguir com esse trabalho. Sabia que estou conhecendo mais a história do clube? Sempre falo com os funcionários, eles ensinam muito”.
Depois disso, passamos por um portão e nos despedimos. Fui pra casa, conversei com colegas de trabalho e não cansava de pensar como esse cara era humilde, de trato fácil, gentil e respeitoso. Vojvoda era realmente “gente como a gente”, como já falavam dentro dos muros do Pici. Agora, em 2025, o estrangeiro que não queria ser notado se despede como o maior treinador da história do Fortaleza.
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