Entenda a ascensão das categorias de base do Fortaleza: investimento, metodologia e Sub-20

O time cearense realiza uma campanha histórica no Brasileirão Sub-20

Legenda: O Fortaleza está na semifinal do Brasileirão Sub-20, marca recorde para o futebol cearense
Foto: João Moura / Fortaleza

O Fortaleza faz uma campanha histórica no Brasileirão Sub-20. Pela primeira vez, um time cearense chegou tão longe na competição, agora com o sonho da final. Nesta quinta-feira (12), às 16h30, no Independência/MG, recebe o Cruzeiro em jogo único pela semifinal. E essa categoria é apenas a ponta de um grande trabalho protagonizado pelas categorias de base.

Em processo de reestrutura e definição de novas diretrizes, o clube se estabeleceu no cenário regional e nacional para permitir maior integração com o profissional, além de captar joias de alto nível, como o volante Kauan e o meia venezuelano Kervin Andrade. Tudo isso com um trabalho coletivo, feito por muitos agentes, com um investimento: o Diário do Nordeste apurou que o custo de funcionamento do CT Ribamar Bezerra é R$ 700 mil/mês.

Imagem aérea do CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú
Legenda: O Fortaleza concentra o trabalho da base no CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú
Foto: divulgação / Fortaleza

A casa da base em Maracanaú não detém agora apenas estrutura, mas autonomia aos gestores, um Departamento de Inteligência próprio para mapeamento do mercado e, hoje, 250 atletas no clube. Outro ponto também trabalhado foi a expansão de categorias, com Sub-8, Sub-9, Sub-10, Sub-11, Sub-12, Sub-13, Sub-14, Sub-15, Sub-16, Sub-17 e Sub-20 - com a inclusão do futsal nesse plano.

"São 11 categorias no CT. O futsal, nós iniciamos a partir do Sub-8, com Sub-9 e Sub-10. Depois disso, temos transição com integração de futsal e futebol: Sub-10, Sub-11, Sub-12 e Sub-13. No Sub-14, o foco é total no futebol. Essa foi uma das mudanças, com a criação das categorias pares. Isso porque há um estudo mundial em que os atletas se perdem no meio do processo, pois jogam menos, ficam pelo meio do caminho. E criamos as pares porque o calendário nacional é ímpar. Tirando a Sub-20, tem Sub-17, Sub-15 e Sub-11”.
Erisson Matias
Gerente das categorias de base do Fortaleza

A mudança ampliou o leque de atletas avaliados pela base, inseriu o clube em novas competições e também permitiu uma aceleração no processo de lapidação e desenvolvimento do jogador, uma vez que atletas mais jovens são utilizados em torneios de categorias maiores para ampliar a maturação. Um exemplo é a Copa Atlântico Sub-20, que o Fortaleza irá utilizar uma equipe Sub-17 durante 2024.

A decisão estratégica também é motivada pelo próprio calendário do Sub-20, que serve como vitrine final da base e parâmetro da evolução do trabalho. Até o fim da temporada, o time Sub-20 vai participar do: Brasileirão Sub-20, Estadual, Copa Fares Lopes (torneio profissional), Campeonato Brasileiro de Aspirantes (categoria até Sub-23), além da vaga na Copa São Paulo de Futebol Júnior.

No Brasileirão, já fez história ao ser o 1º clube cearense a avançar para o mata-mata da competição. Na 1ª fase, com 20 times, ficou na 7ª posição, com 32 pontos, dentro do G-8 que garante a classificação. Já no mata-mata, superou o Flamengo, fora de casa, por 1 a 0, em jogo único válido pelas quartas de final. Agora, se prepara para encarar o Cruzeiro na semi, sendo detentor da melhor defesa da competição. 

Campanha do Fortaleza no Brasileirão Sub-20

  • Jogos: 20
  • Vitórias: 10
  • Empates: 5
  • Derrotas: 5
  • Gols marcados: 25
  • Gols sofridos: 16
  • Aproveitamento: 58,3%

Montagem do Sub-20

O Sub-20 do Fortaleza faz parte de um perfil de investimento diferente no Fortaleza. As demais categorias seguem o escopo da maturação da safra do atleta, com maior lapidação e cuidado na transição. No caso do Sub-20, no entanto, o clube se permite utilizar mais o mercado para montar um perfil de equipe competitivo e com jovens que tenham maior potencial de utilização pelo profissional.

Assim, a equipe busca resultados e peças pontuais que sirvam para o técnico argentino Juan Pablo Vojvoda. O próprio treinador do Sub-20 é Léo Porto, auxiliar da comissão técnica fixa do Fortaleza. E o modelo tático de jogo adotado também é similar com as preferências da equipe principal leonina.

Kauê Canela em ação pelo Fortaleza
Legenda: O atacante Kauê Canela chegou ao Fortaleza em 2024 e se tornou um dos destaques do Sub-20
Foto: João Moura / Fortaleza

"Desse time, de todos os atletas que vieram de fora, 95% que chegaram já estavam mapeados desde o início do ano passado, com a Copa São Paulo. Todos os jogos são vistos, então Cauê Canela, Tavinho, Mancha, Fabrício entre outros nomes, todos foram monitorados na Copinha, ainda em 2023. Tentamos alguns e, esse ano, conseguimos trazer. É assim que é feito", explicou Erisson.

Na avaliação interna, esse é um estágio necessário para o desenvolvimento do clube, mas também passageiro. Há uma meta firmada na base de que, em dois anos, o Sub-20 seja formado por 85% de atletas cearenses/nordestinos. Logo, o processo formativo iria se sobrepor a busca por mais reforços.

Fortaleza mais internacional também na base

O movimento de expansão da marca, com novos mercados estabelecidos, também é parte da linha de trabalho das categorias de base do Fortaleza. Kervin Andrade é o principal case de sucesso nesse sentido ao chegar no time para o Sub-20, após negociação com o Deportivo La Guaira-VEN, passar um período na equipe, até disputando a Copinha, até ascender para o profissional.

Michael Quarcoo em ação pelo Fortaleza
Legenda: O atacante ganês Michael Quarcoo brilhou na Copinha de 2024
Foto: divulgação / Fortaleza

Tal exemplo não é o único. No Sub-20 atual, um dos principais atacantes é o ganês Michael Quarcoo. No início de setembro, o clube também fechou a contratação do volante Jairo Reyes, tido como uma das grandes promessas do futebol do Equador e uma presença constante na seleção da categoria.

"É importante dizer que, primeiro, temos uma preocupação de mapear a nossa região, com a cidade, Região Metropolitana de Fortaleza e o Estado, e depois expandir para o Brasil. Já fora, o foco é a América do Sul. Quais os motivos? A parte financeira e o fato da marca do clube viver um momento forte no exterior. Na América do Sul, temos mapeamento de quase todos os países. Na América Central, temos também. O Kervin é um atleta que estava mapeado antes e agora conseguimos. O Jairo Reyes também. Hoje, a base tem firmado como uma condição de investimento a possibilidade de fazer uma ou duas contratações de maior peso, joias da base que defendem seleções, por ano”, revelou Erisson Matias, gerente das categorias de base do Fortaleza.

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Além das Américas, o clube também trabalha uma maior presença no continente africano. O Diário do Nordeste apurou que o Fortaleza firmou uma parceira com uma instituição de Angola para intercâmbio de atletas. Deste modo, jovens africanos serão cedidos ao time cearense para testes e avaliações.

No fim, a base segue os passos de sucesso do profissional. Ao torcedor, a necessidade de compreender que o imediatismo não faz parte da revelação, mas a paciência e a constância do processo. É assim que o Leão espera retornos esportivos e financeiros com novos talentos forjados.

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