A Organização Mundial de Saúde aponta que os maiores índices de depressão e tentativa de suicídio encontram-se nas mulheres. Apesar das mulheres possuírem maior rede de apoio, e geralmente terem mais recursos para falar sobre suas emoções (que muitas vezes, restringe-se entretanto em poder expor somente entre as próprias mulheres, não encontrando muito espaço para expor o que sentem com os homens) são cotidianamente impactadas pelo massacre de padrões culturais e sociais o que pode levar a uma rigidez entre o que deveria ser uma mulher: santa, mãe ou esposa, mantendo dissociadas todas as outras possibilidades.
Para todas as outras, que não se encaixem nesse perfil que envolve sutis e também brutais jogos de poder e sanções, resta a liberação do ódio e julgamento social: bruxas, putas, vadias e todas as demais nomenclaturas que possam autorizar o escárnio, a violência e a discriminação por fugirem do estereótipo do que deve ser uma mulher dentro de expectativas que não são naturais e sim, construções históricas e culturais.
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Muitas mulheres se sentem identificadas, confortáveis e respeitadas no lugar de esposa e mãe. Entretanto, para muitas, a submissão na rigidez de se sacrificar pela família, não dispor de recursos próprios, não ser ouvida, ser alvo constante de desqualificação e abandono, fingir risos complacentes enquanto o coração sangra de desrespeito, ser colocada eternamente em papel de coadjuvante, ouvir assédios sem poder confrontar, não poder trabalhar nem estudar, mesmo desejando; ocupando postos de trabalho com salários menores mesmo com competências maiores, assumindo a responsabilidade de sustentar o casamento a despeito de traições e violências, pode ser devastador para a sensação de respeito e conforto consigo.
Quando essas vivências passam a ser constantes na vida das mulheres, a sensação de insegurança, dúvida sobre suas capacidades, desconhecimento de suas ideias e desejos, culpa em relação ao corpo e suas escolhas, podem produzir sofrimentos, que acumulados, aumentam a probabilidade de adoecer.
As mulheres, que existem em pluralidade e diversidade, incomodam, principalmente quando confrontam, quando pensam; quando ocupam lugares que fogem da tradição (que muitas vezes encontra-se aliada a um discurso de poder e dominação), quando desejam, quando tomam posse do seu corpo, quando se permitem a sexualidade, quando revelam a impotência e o desamparo que nos constituem, quando expõem a fragilidade dos que não sabem amar nem cuidar, elas podem ser assustadoras. Talvez por isso sejam contidas (química, discursiva, simbólica, econômica, política, socialmente) com discursos, medicações, ameaças, violências.
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Nascida em uma estrutura patriarcal, a educação de muitas mulheres é a de preparo para o silêncio, para a obediência, para a invisibilidade, ou para a fala do que é permitido, para mostrar o que for autorizado. Muitas mulheres rompem com o que lhe seria destinado enquanto estrutura e alcançam lugares de fala e visibilidade. Mas para muitas, a realidade é de medo, silêncio e submissão que se expressam em dores no corpo e na alma.
Existem produções discursivas sutis, que envolvem produções de “marketing”, lógica de consumo e de poder, que cobram muito caro pelo lugar de produto e objeto posto a uma mulher. E que muitas vezes, sem nem perceber, são internalizados e tornam-se parte das identificações, tornando-se estas defensoras da lógica patriarcal e da violência e silenciamento destinados a outras mulheres e a si mesmas.
Sem se darem conta, começam a adoecer, deprimir, ficarem ansiosas, por se perderem na miragem impossível de estarem atreladas a quererem ser aquilo que fantasiam que desejam dela: o chefe, o esposo, os filhos, as instituições, as outras mulheres, distanciando-se da possibilidade de apropriarem-se de sua própria voz e desejo.
Por muito tempo não tínhamos direito a voto, direitos, orgasmos, a fala. Quando uma mulher se expressa com sua própria voz, quebra o uníssono e aponta a riqueza e complexidade da diferença, rompe estruturas de milênios, pode denunciar opressões e injustiças, e revela que desejo tem que ser conquistado e não imposto, demarcando o poder do não para o narcisismo.
Embora possa parecer uma questão que importa somente às mulheres, não o é. Essa discussão envolver a boa parceria entre todos que compõem o laço social, diz sobre a forma como equacionamos respeito, ética, justiça social e qual a distância e altura com a qual olhamos uns para os outros.
Quando uma mulher se empodera e liberta, quais os medos que ela aciona em você?