A importância de um bom pai

Filhos exigem trilhar um caminho para reelaborar os papéis e seu lugar no mundo

Legenda: Entenderá as marcas que atravessam sua função paterna enquanto junções de história, desejos, cultura e sociedade?
Foto: Freepik

Quando nascemos, estamos à mercê do nosso desamparo e entregues a que possam cuidar de nós. Muito se fala sobre a importância da maternidade, mas a presença paterna para cuidar dessa maternagem, e da parceria nos cuidados de um filho, é fundamental. Tal presença se exerce em diferentes possibilidades e multiplicidades de configurações familiares que possam existir.

Infelizmente, inúmeras vezes, esse lugar falha, seja por omissão, hipocrisia, desconhecimento, traumas, vazios outros. O vazio da paternidade impacta. E tal vazio, infelizmente, pode se dar mesmo na existência da presença física. O que atravessa uma relação entre pais e filhos? Quantas dúvidas e certezas podem marcar essa relação?

Será que esse pai irá me acolher quando decepcionar? Quando eu não atender às expectativas? Quando meus desejos não corresponderem aos padrões ansiados? Quais os momentos e memórias que serão só nossos? Colocar-me-á nos braços, contará  histórias? Assistirá às partidas que jogarei, verá as apresentações na escola? Colocará seu nome na certidão de nascimento e se comprometerá com meus cuidados? Será cúmplice em me ajudar a ir para o mundo, em ler o mundo, compreender as regras e me ajudará a sentir seguro o suficiente para desafiá-las?

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Ajudará a entender e falar sobre amor? Temerá emoções? Oferecerá braços acolhedores diante das tempestades, do medo, da solidão, da vergonha, dos fracassos? Será capaz de olhar e me ver? Seus olhos brilharão mesmo que eu não tenha boas notas, que tenha algum problema genético ou de saúde? Quando a porta da casa se abrir, esperarei feliz pela sua chegada ou entrará a violência, o torpor?

Aceitará que posso repetir os erros que não admite em si? Verá minhas potências? Aplaudirá a estreia dos meus desejos? Oferecerá colo e me defenderá quando eu não tiver mais escudos para me proteger? Acreditará na minha palavra? Velará o meu sono contra os monstros reais e imaginários? Ensinará a pedir perdão, reconhecer erros? Irá às reuniões da escola? Conhecerá meus amigos? Saberá a data do meu aniversário?

Colherá minhas primeiras palavras e me ajudará a pensar e a sentir? Aceitará que outras pessoas possam fazer  na minha vida, o papel que não foi possível que fizesse? Permitirá que me diferencie?

Quando eu não encontrar repostas, partilhará o vivido da sua própria história antecipando lições do tempo pelo laço da cumplicidade? Entenderá as marcas que atravessam sua função paterna enquanto junções de história, desejos, cultura e sociedade? Quando não tiver conhecimento formal,  possuirá uma sabedoria amorosa que acolherá e oferecerá compreensão ancestral?

Pais falham, erram, se perdem, se confundem, muitas vezes pela impossibilidade de lidar com as falhas da própria relação com seus pais, reeditadas quando nasce um filho; ou na dificuldade em reelaborar os papéis e seu lugar no mundo, que diante de um filho precisará conter o afeto, o medo, as responsabilidades e as inseguranças; temas que muitas vezes passam distantes da educação do masculino.

Educação tantas vezes atravessada por um patriarcado que oprime afetos, desrespeita as diferenças, incentiva violência, desvaloriza a intimidade e o diálogo e falha em um pensar crítico, amplo e complexo. Entretanto, mesmo que no início ou em muitos momentos da vida, essa presença não seja possível, conseguirá em algum momento, procurar seu filho e tentar novamente?

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