Os embates do envelhecer

Legenda: O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistiu de tentar a reeleição para o cargo. O comunicado foi no domingo, 21 de julho
Foto: Evan Vucci / POOL / AFP

Todo ser vivo tem seu ciclo de vida. Nasce, cresce e morre. Cada etapa tem suas necessidades, suas exigências e precisa de cuidados especiais. A criança precisa da proteção e cuidados dos pais. A educação familiar e escolar deve estar pautada nos valores humanos, estimulando princípios de vida, para estimular o esforço de cada um, em benefício de todos.

Não podemos deixar que os jovens e adultos tenham, como base de referência, apenas os valores da sociedade de consumo, marcada pela competição, no lugar de cooperação; pelo TER, em detrimento do SER; pelo individualismo, no lugar do coletivo; pelo egoísmo, em vez da solidariedade. Nos cabe oferecer valores, princípios de vida, que permitam romper com a falta de perspectivas, para podermos ter outras opções e formas de convívio social.

Trata-se de educar para superar seus próprios limites, e não superar, competir e destruir os outros. Hoje tenho que ser melhor do que fui ontem e amanhã, melhor do que sou hoje. Caso contrário, predominarão a competição e a negação constante do valor do outro. Cada um tentará dominar o outro, descartar o outro, como forma de se impor, de ser aceito. Isso nos faria retroceder na história. Seria o retorno da lei da selva. Vence o mais forte fisicamente.

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Toda criança sente necessidade de prestar serviços, de ser útil, como forma de dar um sentido à sua vida. Somente assim descobre o outro e se descobre como pertencente a uma família regida pela reciprocidade. É o sentido de sua utilidade pelo serviço que a criança pode amar os mais fracos, apoiar os mais sensíveis e respeitar os diferentes ritmos e ciclos. Este estímulo ao serviço favorece o altruísmo, a solidariedade, a abertura de espírito e a formação do sentido do público, do universal.

Estes princípios são bússolas que nos permitem viver, respeitar e ser respeitado durante os ciclos de nossas vidas. Nascemos, como todo animal, movidos, pelo instinto de sobreviver. Somos EGOCÊNTRICOS. Tudo gira em torno de nós. E é verdade. Na infância, se eu choro, todos se desdobram para me consolar; se peço algo, logo me dão. Me sinto o centro do mundo. É pela educação que nos tornamos pessoas, que aprendemos a conviver em sociedade.

Educar é estimular o crescimento do indivíduo de maneira ECO-CÊNTRICA, ou seja, levando em consideração as necessidades do contexto familiar e social onde vivemos. O meu direito termina quando começa o do outro. É aqui onde as regras são importantes. Elas devem ser a garantia do respeito com todas as pessoas com as quais nos relacionamos, agir eticamente, manter a empatia e o respeito aos direitos individuais e coletivos. Tudo tem limites.

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É como as leis do trânsito, não posso ultrapassar o sinal vermelho sem arriscar matar ou morrer. Por isso sou punido para me desencorajar a avançar o sinal vermelho. Essa é a única maneira de salvaguardar a circulação que garante o ir e vir no território regido pelo direito da coletividade.

A evolução de nossas sociedades conduz ao isolamento, intolerância, sectarismo, estresse, medo, agravado por um modelo econômico neoliberal marcado pela avidez de lucros e benefícios. Ela tem destruído recursos socioculturais, comprometido o vínculo social e atinge a saúde mental de todos, tornando precária a existência física, psíquica, econômica e social.

A lógica da cultura do consumismo é a percepção de que tudo deve estar obsoleto e ser descartado o tempo todo. Ela tem alimentado a cultura da intolerância, despertando um ódio fratricida jamais vivenciado, agravado e provocado fraturas nas relações familiares e sociais. Tem provocado frustração profunda e descrença nas instituições e seus representantes.

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O processo eleitoral em muitos países tem se tornado o palco onde pessoas se digladiam para vencer, outros envenenam seus concorrentes, querem vencer a todo custo: mentir, atentar contra a dignidade e a vida do outro, ridicularizar. Outros ainda se apropriam de uma cadeira provisória transformando em trono definitivo.

Parece até com cenas da Roma antiga, onde o mais forte destruía fisicamente os mais fraco para deleito de uma plateia ávida de sangue e vingança. Seria um grande retrocesso para toda a humanidade. O Coliseu é um escombro do que restou desta época de barbárie. Virou peça de museu.

Na campanha eleitoral americana se tentou eliminar à bala um candidato e outro foi afastado por ser velho e não ter a fúria de um conquistador sanguinário, não tinha músculos de um gladiador, tinha passos lentos de um idoso, com voz pausada e determinado a lutar pela democracia.

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Nessa arena moderna, nesse Coliseu midiático, o vale tudo para conquistar o poder contrasta com os valores de nossa civilização cristã. Os valores civilizatórios são substituídos pela barbárie que não respeita as leis que salvaguardam o convívio pacífico em um mundo cada vez mais plural.

A velhice nos aguarda e a fila é grande. Ela não é um passo para a morte e nem sinal de inutilidade, e sim uma etapa da existência humana. Temos muito a aprender com os mais velhos. Eles são guardiões de experiências acumuladas e muita sabedoria.

Muitos idosos, isolados do convívio familiar, enfrentam discriminação, estereótipos negativos e são excluídos da vida social, experimentam a solidão e a depressão. São descartados como se descarta objetos usados. Muitas vezes, a fraqueza muscular contrasta com uma força, uma sabedoria adquirida ao longo de uma vida.

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Será pelo reconhecimento destas diferenças, pelo respeito aos cabelos brancos e pela gratidão aos nossos avós, que poderemos construir novos alicerces para o futuro de nossa sociedade.

O momento é de reflexão. Que tipo de governantes minha cidade está precisando, meu país necessita e o mundo precisa? Precisamos de gladiadores implacáveis ou líderes sensíveis e comprometidos com o desenvolvimento humano e social?

Aqui precisamos estar atentos para distinguir o cordeiro do lobo vestido de cordeiro. Somente o senso crítico pode nos ajudar a distinguir o joio do trigo. As palavras seduzem, mas as atitudes revelam o caráter e desmascara o lobo vestido de cordeiro.

Nessas eleições, cada um de nós tem uma grande responsabilidade. Meu voto tem valor e só ele pode mudar o destino de nossas vidas, de nossa cidade e de nosso País. Pense nisso!



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