Motim da PM coloca Ceará como destaque negativo em relatório internacional sobre violência em 2020

Legenda: Paralisação de policiais e bombeiros militares durou 13 dias, entre 18 de fevereiro e 1º de março deste ano
Foto: José Leomar

A fundação InSight Crime, que se dedica ao estudo do crime organizado na América Latina e Caribe, publicou, nesta segunda-feira (1°), um balanço da violência em 2020, citando o Ceará como um dos destaques negativos do Brasil.

O estudo "InSight Crime’s 2020 Homicide Round-Up" (Relatório da Insight Crime sobre Homicídios de 2020), divulgado no site da organização, captou o impacto do início da pandemia do novo coronavírus, decretada em março do ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nas estatísticas dos países monitorados.

"É muito cedo para afirmar com certeza como exatamente a pandemia pode ter impactado nos níveis de violência, mas há notáveis avanços, incluindo significativas reduções em El Salvador, Guatemala, Honduras e Venezuela, historicamente as nações com mais homicídios na América Latina e no Caribe", cita a InSight Crime, que tem escritórios em Washington, D.C. (EUA) e Medellín, na Colômbia.

Ao analisar os números do Brasil, a fundação sem fins lucrativos de jornalismo investigativo do crime organizado na América Latina e Caribe, criada em abril de 2010 com o apoio financeiro da Open Society Foundation e tendo a American University como patrocinadora, menciona a situação da segurança pública no Ceará em 2020.

"O estado do Ceará foi um foco particular de violência, afetada em parte por um motim entre policiais militares no começo do ano", cita a análise da fundação, assinada por Parker Asmann e Katie Jones. Eles mencionam, com base em informações divulgadas pela imprensa, que o Ceará teve o fevereiro mais violento desde 2013, quando foram registrados 312 homicídios, durante os dias da paralisação dos PMs, contribuindo para um total de 456 homicídios no mês.  

Segundo a InSight Crime, o Nordeste brasileiro foi o principal responsável pelo aumento da violência, enquanto outras regiões registraram queda no número de mortes violentas. Manuas, capital do Amazonas na região Norte, também foi um destaque negativo no relatório internacional devido aos confrontos entre facções criminosas.

A fundação destaca a taxa de homicídios do Brasil de 19,3 mortos a cada 100 mil habitantes, o que torna o País o mais violento da América Latina, com projeção de 40.969 mortos no ano, acima dos 39.377 registrados em 2019. O Monitor da Violência do jornal carioca O Globo é usado pela organização para sua análise sobre o Brasil.

Em julho do ano passado, o governador Camilo Santana (PT) reconheceu, em entrevista ao Diário do Nordeste, o papel do motim da PM para "desorganizar a Polícia", o que resultou em uma piora dos indicadores de segurança pública do Estado. Em setembro, o comando da Pasta foi trocado pelo Palácio da Abolição, com a promessa de fortalecer o combate a facções criminosas nacionais que atuam no Estado.

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