Apps de bem-estar abocanham mercado fitness e apertam academias menores no Ceará
Às 5h30, o empresário Vitor Gonçalves abre as portas da academia de musculação One Fitness, em Maracanaú, na Grande Fortaleza, para receber os primeiros alunos. Também antes das 6h, no Dionísio Torres, em Fortaleza, Ciro Giffoni se prepara para ministrar a primeira aula em um box de crosstraining, a Nidum.
Além da rotina que começa na madrugada, da paixão por esportes e dos anos dedicados a proporcionar saúde física e mental por meio da profissão, Vitor e Ciro têm mais em comum: acompanham atentamente as mudanças mercadológicas no setor, intensificadas sobretudo no pós-pandemia com a chegada de grandes redes ao Ceará e a popularização de plataformas como Wellhub (antigo Gympass) e TotalPass.
A One Fitness tem sete anos e há cerca de um ano aderiu ao Wellhub a partir do plano Basic. A decisão de receber alunos com esse benefício veio após Vitor perceber que, com a estratégia, poderia atrair alguns trabalhadores da região.
"O valor (pago pelo Wellhub) é, digamos, aceitável, mas não valeria a pena se todos os planos fossem Wellhub. É mais como um extra", reconhece. Hoje, menos de 10% dos alunos do local são Wellhub.
Além disso, a recente abertura "de uma academia padrão de rede" perto do estabelecimento e que aceita o benefício também deixou o empreendedor atento às necessidades de se manter competitivo.
Se aumentasse o nosso número de alunos Wellhub e diminuísse o meu público-alvo, teria que fazer reajuste nos planos
Hoje, apesar de aceitar alunos com o Wellhub, ele sempre tenta usar estratégias para reter o público com pacotes do próprio estabelecimento, que oferece planos entre R$ 60 e R$ 74,99.
Ciro Giffoni também aderiu ao Wellhub e TotalPass para se manter competitivo em meio a tantos outros estabelecimentos com essa mesma possibilidade.
Neste ano, porém, decidiu manter apenas TotalPass a partir do plano TP4. "A crise econômica faz com que muitas pessoas tenham que de fato seguir rumo a um serviço mais barato e isso tem impactado muito o mercado do cross".
Ele também busca ofertar aos alunos mensalidades compatíveis com os planos para reter os praticantes da modalidade, além de fortalecer o senso de comunidade característico do esporte em questão.
Ciro pondera que, no caso do crosstraining, o limite de atendimento por horário torna a margem de lucro menor. Nesse contexto, "o crescimento dos 'pass' puxou o valor para baixo e, infelizmente, a conta não fecha".
O que os pass vendem para nós é que precisamos reter os clientes, mas eles só nos pagam 12 diárias e aí os números não fecham. No fim, o tíquete médio do usuário pass que frequenta o box é 50% menor do que o tíquete do nosso cliente direto
Para além dos "pass" e das grandes redes, a modalidade enfrenta uma crise própria, segundo o empresário. Se cada esporte tem seus dias de glória (a corrida, por exemplo, se fortaleceu recentemente), o crosstraining talvez já não esteja tão na moda, segundo Ciro.
"O 'hype' do esporte passou, há conflitos internos a resolver (sobretudo envolvendo a marca CrossFit) e é um serviço um pouco mais caro do que as academias convencionais".
'Pass' oferece praticidade ao consumidor
Por outro lado, consumidores defendem a liberdade oferecida pela plataforma. O economista Heitor Gentil é usuário do Wellhub há três anos e acredita que essa é a principal vantagem.
"Hoje, você tem diversas opções de atividades disponíveis, horários diferentes, forma diferentes de você se exercitar. Ter a opção de tudo isso me dá a sensação de liberdade, posso conhecer diferentes academias e fazer alguma atividade diferente no final de semana".
Cadastrada no TotalPass e no Wellhub, a administradora Joice Siqueira afirma se sentir à vontade para praticar vários esportes. "Um dia eu quero fazer CrossFit, uma atividade que eu já estou praticando há quase um ano. Se outro dia eu quiser fazer musculação ou beach tennis, há academias disponíveis com essas modalidades e isso ajuda a manter a motivação no dia a dia".
Em nota, o Wellhub afirma que o modelo de repasse "é flexível e foi desenvolvido para se adequar à diversidade de modalidades e formatos oferecidos pelos nossos mais de 74 mil parceiros globais".
"Levamos em consideração tanto o valor médio praticado no mercado quanto a natureza da atividade oferecida. O objetivo é garantir uma remuneração justa e alinhada com o valor entregue, com o diferencial de atrair novos alunos do público corporativo — sem esforço de venda, risco de inadimplência ou custos operacionais extras para o parceiro", diz a nota. No Ceará, segundo o Wellhub, há "centenas de parceiros".
A reportagem também procurou o TotalPass, mas não houve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Veja a nota completa no fim desta reportagem
Compare os planos (para colaboradores)*
TotalPass
- TP Go: R$ 39,90
- TP1: R$ 59,90
- TP1+: R$ 89,90
- TP2: R$ 119,90
- TP3: R$ 199,90
- TP4: 299,90
- TP5: 399,90
- TP6: R$ 599,90
- TP7: R$ 699,90
Wellhub (Gympass)
- Starter: R$ 35,90
- Basic: R$ 59,90
- Basic+: R$ 89,90
- Silver: R$ 139,90
- Silver+: R$ 189,90
- Gold: R$ 289,90
- Gold+: R$ 339,90
- Platinum: R$ 539,90
- Diamond: R$ 674,90
- Diamond+: R$ 699,90
Fonte: Pesquisa direta nos sites das plataformas Wellhub e TotalPass
*Wellhub e TotalPass são benefícios ofertados por empresas aos seus funcionários
Boxes e academias fechando as portas
Problemas da modalidade crosstraining e do mercado de academias em geral tem provocado vários fechamentos no último ano. Tradicionais boxes de crosstraining/CrossFit em Fortaleza, como Cangaço e Carranca Blue, encerraram as atividades.
Na musculação, também não é incomum ver estabelecimentos encerrando as atividades. Na última semana, a Academia Espaço Vida, no bairro de Fátima, anunciou o fechamento em seu Instagram. Na conta, alunos e profissionais da área lamentaram o ocorrido.
Em um vídeo, o atleta de artes marciais Christian Marcel publicou uma reflexão sobre a situação. "A gente aqui do bairro de Fátima está entrando em um ciclo muito perigoso, que são as concorrências desleais. A galera aqui do bairro está escolhendo, a força, academias gigantescas. Isso tem lado positivo, como tudo, mas um lado negativo muito maior, que é não ter poder de fala".
"Essa mesma concorrência que vocês estão escolhendo são as empresas que não estão nem aí se você está bem, se uma mulher é assediada, se acontece um acidente na academia", afirma Christian.
"Para eles, perder 20, 30 alunos, não faz diferença". O atleta pondera que, "enquanto isso, academias como a Espaço Vida, com profissionais olhando no olho, avaliando a execução, não tem mais espaço".
Segundo ele, apesar de academias menores como a Espaço Vida cobrarem o mesmo valor das grandes, "o serviço é diferente e a atenção é outra".
"Eu sei que a gente ainda vai sentir falta de não ficar preso a uma mensalidade anual e de ter essa coisa mais humana. Isso vai nos levar para um local de ficar a mercê de grandes empresas, que só vão mudar quando for mais lucrativo para elas".
Plataformas podem ser agregadoras
Segundo a Junta Comercial do Ceará (Jucec), o Ceará teve mais aberturas do que fechamento de academias em 2025. Foram 183 novas constituições de janeiro a maio contra 65 fechamentos no Estado. Em Fortaleza, foram 50 aberturas contra 24 encerramentos.
É o número de academias no Estado registradas no Conselho Regional de Educação Física da 5ª Região (CREF5/CE).
O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Condicionamento Físico do Estado do Ceará (Sindfit-CE) e proprietário da academia EveryLife, Levi Lima, lamenta o recente fechamento de academias e boxes de crosstraining e afirma que alguns pontos como o valor de repasse e o controle de fraudes nesses aplicativos poderiam melhorar. Ele acredita, porém, que é possível aderir ao Wellhub e TotalPass usando essas plataformas como agregadoras.
Para isso, Levi compartilha que, primeiramente, o empreendedor não pode permitir que a renda do negócio seja tão dependente das plataformas. "O aconselhável é que no máximo 30% dos alunos sejam dos agregadores. Porque é complicado, se o aluno adoece ou viaja, o empreendedor não recebe".
Além disso, ele enfatiza a importância de um olhar mais completo dos empresários para o próprio negócio, entendendo quais oportunidades e diversificações é possível fazer, além de uma visão objetiva do público alvo. "A academia pode oferecer outros serviços como nutricionista, diversificar as atividades, tudo de acordo com o público-alvo. É preciso ter uma visão ampla de negócio".
Perfis dos frequentadores
Há, por exemplo, o público que busca uma academia apenas com o objetivo de executar o treino e ir embora. E há também o público que gosta de ter o local como uma opção de lazer e ter senso de pertencimento.
Cabe ao empreendedor identificar com quem ele deseja se comunicar, conforme Levi Lima. "Esse primeiro grupo, que busca apenas treinar e ir embora, geralmente é alcançado pelas grandes redes".
É aí que, de acordo com ele, pode morar a oportunidade de pequenos estabelecimentos. "As pessoas têm buscado muito o bem-estar. Aqui na academia, tem gente que vem principalmente para conversar, tomar um café. O instrutor se torna também um amigo".
NOTA WELLHUB
O Wellhub é uma plataforma de bem-estar corporativo que conecta academias, estúdios e serviços de bem-estar a empresas que desejam oferecer saúde e qualidade de vida aos seus colaboradores. Ao se tornarem parceiras do Wellhub, as academias ganham acesso ao público corporativo, o que representa uma oportunidade de atrair novos alunos, gerar receita incremental e otimizar a utilização do espaço e da estrutura já disponíveis. Mais de 90% dos nossos usuários são novos para as academias parceiras.
O modelo de repasse do Wellhub é flexível e foi desenvolvido para se adequar à diversidade de modalidades e formatos oferecidos pelos nossos mais de 74 mil parceiros globais — de academias a estúdios de dança, pilates, yoga, aulas de beach tennis e futevôlei, além de apps de nutrição, cuidados com o sono, meditação, mindfulness e muito mais. Levamos em consideração tanto o valor médio praticado no mercado quanto a natureza da atividade oferecida. O objetivo é garantir uma remuneração justa e alinhada com o valor entregue, com o diferencial de atrair novos alunos do público corporativo — sem esforço de venda, risco de inadimplência ou custos operacionais extras para o parceiro.
Temos muito orgulho de contribuir para o desenvolvimento do mercado de bem-estar no Brasil e no mundo, ajudando milhares de empreendedores a crescerem seus negócios por meio do canal corporativo. Atuamos com esse modelo ao lado de 74 mil parceiros em 12 países — sendo 34 mil apenas no Brasil, incluindo centenas no Ceará. Juntos, promovemos saúde e bem-estar para o público corporativo e fortalecemos o ecossistema do setor.