Para aqueles que conseguem poupar parte da renda mensal, o desafio é escolher onde alocar esses recursos. Mesmo com a ampla variedade de aplicações oferecida pelos bancos, a caderneta de poupança ainda é a preferida do brasileiro, apesar da rentabilidade. Os produtos de renda fixa, que até pouco tempo atrás rendiam cerca de 1% ao mês, hoje, após as sucessivas quedas da taxa básica de juros (Selic), rendem menos de 4% ao ano. E, se considerarmos a inflação, a rentabilidade real é praticamente zero. Ainda assim, para poupadores que desejam começar a aplicar seus recursos, o ideal é buscar opções mais conservadoras, que possam, antes de tudo, preservar o capital aplicado, em vez de mirar ativos com maior potencial de valorização, que são mais voláteis. "Sugiro que o iniciante comece colocando um pouco em renda fixa para o curtíssimo prazo para uma reserva de emergência que não terá muita rentabilidade, mas ele teria mais liquidez, como em títulos do tesouro direto ou CDB, por exemplo", diz o economista Luiz Viana.
Para quem já tem algum recurso alocado em renda fixa, Viana, que também é professor de mercado de capitais, diz que ativos de renda variável podem complementar a carteira do investidor. "Ele pode alocar em renda variável para geração de riqueza no longo prazo tipo fundos imobiliários e fundos de ações. Mas ele precisa estar ciente que na renda variável o patrimônio pode variar ao longo do tempo, mas a tendência é que no longo prazo ele consiga uma rentabilidade mais atrativa", aconselha. Em todo caso, Viana ressalta que é preciso buscar informação e fazer um planejamento financeiro antes de aplicar qualquer recurso. "Esse é o principal cuidado e onde o iniciante deve concentrar todas as atenções iniciais. Por exemplo, não adianta pensar em investir sem antes ter feito o dever de casa e colocar o orçamento doméstico sob controle. Neste caso o investidor poderia começar até a perder dinheiro porque precisaria ficar sacando da conta de investimento para cobrir os 'buracos' no orçamento doméstico. Então, a primeira dica é colocar o orçamento doméstica em ordem".
Opções de aplicações
Entre as opções mais acessíveis disponíveis nos bancos estão as aplicações em renda fixa. Mas é importante lembrar que a taxa Selic influencia diretamente na rentabilidade dessas aplicações tais como LCI (Letra de Crédito Imobiliário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), caderneta de poupança e CDB (Certificado de Depósito Bancário). Por outro lado, elas são isentas de imposto de renda, com exceção do CDB. Tanto a caderneta como o CDB, LCI e LCA são aplicações nas quais o investidor empresta dinheiro para o banco durante determinado período e recebe os juros correspondentes.
Quem aplicar, por exemplo, R$ 1 mil em LCIs e LCAs poderá ter um rendimento líquido em torno de 4% em 12 meses, o que representaria um acréscimo de R$ 40 ao fim de um ano. Na poupança, o valor seria de aproximadamente R$ 30. Por ser um investimento mais tradicional e mais conhecido pelos brasileiros, o economista Alex Araújo diz que a caderneta de poupança, apesar da baixa rentabilidade, continua sendo o melhor instrumento para preservação de capital para o iniciante.
"Nos últimos anos, nós tivemos dois movimentos concorrentes no mercado financeiro: de um lado a estabilidade inflacionária, que derrubou a taxas de juro - então mecanismos muito sofisticados tiveram uma queda de remuneração e, quando se considera o Imposto de Renda, muitos deles perdem para a poupança -, e do outro lado você teve a tecnologia aplicada à oferta desses produtos e serviços financeiros que levou à maioria das pessoas o acesso à aplicações muito sofisticadas", diz Araújo. "Mas para aquele poupador que está entrando no mercado, que ainda não tem conhecimento e segurança suficiente para testar esses instrumentos mais sofisticados, a poupança permanece sendo o mecanismo de investimento mais indicado", diz.
Diversificação
Uma das máximas sobre aplicações de recursos diz que o investidor não deve concentrar seus investimentos para reduzir o risco de eventuais perdas. "Embora no início, como a destinação de recursos é pequena, seja um pouco mais difícil de diversificar, é sempre bom lembrar da importância da diversificação. E hoje, nós temos uma gama de produtos financeiros disponíveis", diz o economista Ricardo Eleutério. "Outra coisa importante é que o investidor identifique o seu perfil de risco. Se ele é conservador, ele não vai investir em ações ou moedas, por exemplo, vai ficar sempre em aplicações que pagam taxas de juros", completa.
Para perfis moderados, é possível conjugar uma parcela em torno de 80% em renda fixa e 20% em ativos mais arriscados. "Então, é importante pensar na segurança e fazer aplicações financeiras que deem proteção do dinheiro que a pessoa ganha no trabalho. Para isso, há produtos, como os títulos do Tesouro Direto, que vão proteger contra a inflação, com um rendimento adicional de 3% ou 4% ao ano", diz Eleutério. Outra opção de diversificação são os fundos de investimentos, que permitem que mesmo com uma pequena aplicação, a pessoa esteja exposta a uma ampla variedade de classes de ativos, como renda fixa, renda variável e títulos públicos.
"Os fundos de investimentos têm um gestor que vai escolher os papéis da carteira do fundo, balanceando a rentabilidade e o risco. São profissionais que vão fazer essa alocação de recursos por você", diz Eleutério. Nesse caso, é preciso observar as taxas cobradas, bem como a alíquota de imposto de renda e se há cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que cobre até R$ 250 mil por CPF, caso a instituição financeira quebre.
Informação
Mesmo diante de tantas opções, a aquisição de conhecimentos básicos sobre o mercado financeiro é fundamental para quem deseja aplicar, ainda que a pessoa tenha disponível algum serviço de assessoria financeira, como gerente bancário, assessor de investimento ou consultor, diz Luiz Viana. "É muito importante entender como funcionam os principais produtos financeiros. Não precisa se tornar especialista, mas minimamente entender as diferenças entre renda fixa e renda variável e quais as características dos principais produtos em termos de risco, rentabilidade e tributação que ajudarão o pequeno poupador na escolha", diz.