Morre arqueóloga Niède Guidon, pesquisadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, aos 92 anos
Ela estava aposentada da carreira profissional desde 2020, após cinco décadas de estudo in loco no Piauí

A arqueóloga Niède Guidon morreu durante a madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos. O falecimento foi anunciado nas redes sociais do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, e da Prefeitura Municipal de Coronel José Dias (PI). A causa do falecimento não foi revelada.
Niède Guidon foi uma das mais destacadas defensoras do patrimônio histórico do Brasil. Ela dedicou a vida à pesquisa e à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, revelando ao mundo pinturas rupestres que transformaram o conhecimento sobre o povoamento das Américas.
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Nascida em Jaú, interior de São Paulo, em 12 de março de 1933, Niède Guidon formou-se em História Natural na Universidade de São Paulo (USP), em 1959, e fez especialização em Arqueologia Pré-Histórica na Universidade Paris-Sorbonne, curso que terminou em 1962.
Concluiu o doutorado em 1975, também na Sorbonne, apresentando tese sobre as pinturas rupestres de Várzea Grande, no Piauí, estado em que passou a maior parte da carreira como cientista.
Pesquisas dela contribuíram para a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1979, território com o maior número de sítios arqueológicos das Américas e considerado um patrimônio cultural da humanidade pela Unesco.
Estudo da presença humana pré-histórica na região do Piauí
A partir da exploração dos sítios arqueológicos no Piauí e das datações realizadas na Serra da Capivara, que indicaram a existência de ossadas humanas de 15 mil anos, pinturas rupestres de 35 mil anos e restos de fogueiras de 48 mil anos, Guidon levantou a hipótese de que os humanos teriam chegado ao continente americano pela África.
A conclusão aconteceu após a equipe liderada por Guidon analisar mais de 1,3 mil registros de presença humana pré-histórica na região do Piauí.
Segundo a pesquisadora, em citação publicada em artigo assinado por Marcos Pivetta, na Revista Pesquisa Fapesp, em abril de 2008, o material arqueológico resgatado no Piauí até o início dos anos 2000 indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos.
Em 2020, após cinco décadas de estudo in loco no Piauí, a pesquisadora se aposentou. A carreira premiada foi concluída com o recebimento do Prêmio Almirante Álvaro Alberto.
Cidade natal declara luto de três dias
A Prefeitura Municipal de Coronel José Dias lamentou a partida da pesquisadora e declarou luto oficial de três dias.
"Com coragem, visão e dedicação incansável, Dra. Niède foi a grande responsável por revelar ao mundo a grandiosidade arqueológica do nosso território, lutando com firmeza pela criação, preservação e valorização do Parque Nacional Serra da Capivara, patrimônio que transformou Coronel José Dias em referência turística. Seu trabalho ultrapassou os limites da ciência e da arqueologia. Seu legado permanecerá vivo entre nós, nas trilhas do Parque, nas mãos dos artesãos e operadores do turismo, no saber transmitido às novas gerações", informou o município de Coronel José Dias por nota.
A direção do Parque Nacional da Serra da Capivara também usou as redes sociais para homenagear Guidon:
"Niède foi uma das maiores defensoras do patrimônio histórico brasileiro. Dedicou sua vida à pesquisa e à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí — onde revelou ao mundo pinturas rupestres que mudaram o que se sabia sobre o povoamento das Américas. Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil", declarou a instituição.