Veterinária internada com Síndrome de Haff, a 'doença da urina preta', morre em Recife
Pryscila Andrade teria contraído a doença a partir do peixe araiabana, conhecido como "olho de boi"
A médica veterinária Pryscila Andrade, 31 anos, morreu, nesta terça-feira (2), por complicações da Síndrome de Haff, conhecida como "doença da urina preta", informou a mãe da paciente em rede social. Acometida pela enfermidade, Pryscila estava internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular desde o dia 17 de fevereiro.
"Priscyla, o céu hoje estará te recebendo com muita luz na casa do pai e aqui jamais esqueceremos a sua humildade, caráter da sua eficiência profissional, meiga, linda, alegre, sorridente e cheia de luz. Seu sorriso vai ficar na minha memória eternamente. Seus pais, irmãos, sobrinhos, Matheus, parentes e amigos. Deus te recebe de braços abertos, minha filha linda", declarou a mãe, Betânia Andrade.
A paciente chegou a publicar informações sobre seu quadro clínico na semana passada, dizendo que conseguira mexer braços e pernas, mas sem muitas forças nos músculos. "Ainda estou na UTI e temos muito que recuperar: função hepática renal, respiratória e motora. Vou sair dessa", escreveu em um story publicado no dia 24, conforme o portal UOL.
Na última postagem publicada nas redes, Pryscila escreveu um texto sobre a coragem de recomeçar na vida. "Esteja pronto pra recomeçar sempre que for preciso. E pra você recomeçar, precisa de coragem. Tenho coragem pra começar, e você?", escreveu em postagem no dia 17 de fevereiro.
Internação
A veterinária deu entrada no Hospital Português, no bairro do Paissandu, na área central de Recife, no último dia 17. Ela teria comido na casa da irmã, a empresária Flávia Andrade, de 36 anos, antes de se sentir mal. No cardápio da refeição, havia o peixe arabaiana, também conhecido como "olho de boi". A irmã Flávia também chegou a ser hospitalizada.
Além das irmãs, a mãe, o filho de Flávia e duas secretárias também se alimentaram com o peixe, mas não há informações sobre cuidados médicos em unidades de saúde.
Outra irmã de Pryscila, a estudante de Medicina Aline Andrade, irmã das pacientes, disse, em vídeo, que o caso estava "aparentemente associado a uma toxina que leva à Síndrome de Haff" — diagnóstico informado pelo hospital no sábado (20), segundo a mãe da vítima.
A empresária Flávia conseguiu alta na manhã do dia 24 de fevereiro, depois de quatro dias internada. "As taxas dela baixaram e o resto da recuperação vai ser em casa", disse a mãe. "Não vai precisar tomar nenhum remédio, mas precisa beber muito líquido e se hidratar bastante".
O que é Síndrome de Haff
Com causas pouco conhecidas, a doença se caracteriza por uma síndrome de rabdomiólise (ruptura de células musculares) sem explicação, a qual predispõe ocorrência súbita de extrema dor e rigidez muscular.
Outros sintomas são
- Urina cor de café;
- Falta de ar;
- Dormência;
- Perda de força no corpo.
“O músculo vai morrendo e criando uma concentração de proteínas que o rim absorve e vai deixando a urina preta, nos casos mais graves. Se a absorção continuar, causa uma lesão no rim e eles param de funcionar", explicou o médico infectologista Filipe Prohaska.
O profissional já atendeu pacientes com a enfermidade em Pernambuco em 2017, e alertou que o tratamento de casos graves é feito com hemodiálise, "para poupar o rim". Ele pontua que a síndrome, se não tratada, pode deixar o paciente em hemodiálise pelo resto da vida, além de ficar com sequelas.
"Pode ter uma lesão muscular muito grave, chamado astenia pela miopatia, quando a pessoa fica como se não tivesse massa muscular, com dificuldades para levantar e exercer atividades comuns", destacou.
O especialista ressaltou ainda que o desenvolvimento da doença não advém de qualquer tipo de peixe. ""Além de arabaiana, o tambaqui também tem essa toxina, que é um produto de degradação do peixe, o que ocorre quando ele não é transportado nem acondicionado em temperaturas ideais", afirmou, acrescentando que a toxina não tem gosto — o que seria um "grande problema".
Tratamento da doença de Haff
Filipe Prohaska recomenda hidratação rigorosa para que a toxina seja eliminada mais rapidamente pela urina. "Nos casos mais graves, com a urina escurecendo ou se parar de urinar, o ideal é procurar logo o hospital", alertou.
Casos em Pernambuco
No dia 22 de fevereiro, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, em nota, que "foi notificada, pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) do Recife, de cinco casos de mialgia aguda, suspeitos para doença de Haff". A Pasta afirmou, na ocasião, que daria apoio técnico à investigação epidemiológica realizada pela secretaria municipal da Saúde da capital pernambucana.
Conforme a Pasta, o estado registrou, entre 2017 e 2021, 15 casos da doença. Desses, dez foram confirmados (quatro em 2017 e seis em 2020) e cinco seguiam em investigação.