Farm é criticada por ação após morte de Kathlen Romeu, jovem grávida vítima de bala perdida no RJ
Após assassinato, marca anunciou que reverteria comissão da vendedora da loja em apoio para a família
A marca Farm foi criticada após promover ação em que reverteria a comissão de vendas com o código de Kathlen Romeu, grávida morta durante operação policial no Rio de Janeiro, em apoio para a família. Ela era vendedora da loja na unidade de Ipanema, na Zona Sul do Rio.
Na internet, a Farm foi acusada de oportunismo e de querer lucrar com a morte da vendedora, já que apenas a comissão, destinada aos vendedores, iria para a família. A marca pediu desculpas, tirou o código do ar e editou a publicação que anunciava ação.
"Também estamos disponibilizando suporte psicológico e emocional a todos os que necessitem através do nosso gente & gestão. A partir de hoje, toda a venda feita no código de Kathlen - E957 - terá sua comissão revertida em apoio para sua família, reforçando que nós também vamos apoiá-la de forma independente e paralela. Sabemos que nada que fizermos poderá trazer Kath de volta mas nos comprometemos a acelerar ainda mais nossos processos de inclusão e equidade racial para transformar as cruéis estatísticas que levam vidas jovens negras como a de Kath a cada 23 minutos no nosso país. As vidas de Kath e seu bebê importam. Vidas negras importam. Aqui, hoje, sempre. Transformar é urgente", dizia o post, que lamentava a morte de Kathlen e seu bebê.
Em boa parte dos mais de 17 mil comentários da publicação, a ação foi duramente criticada. "Ou seja, Kathlen vai continuar gerando lucro para vocês até depois de assassinada?", questionou uma internauta.
"Vocês vão converter os menos de 5% de comissão e vão ficar com o lucro? Vocês transformaram isso em ação comercial? É isso mesmo?" pontuou outra. "Uma empresa rica não pode ajudar, tem que promover vendas para isso? Que hipocrisia. Que erro!", diz outro comentário.
Horas depois, a marca publicou um pedido de desculpas e afirmou que tirou o código do ar.
"A Farm vem a público se desculpar pela ação que envolveu o uso do código de vendedora de Kathlen Romeu nesse momento tão difícil. Com vocês, entendemos a gravidade do que representou esse ato, por isso, retiramos o código E957 do ar. Continuaremos dando o apoio e suporte à família, como fizemos desde o primeiro momento em que recebemos a notícia", afirmou a publicação.
Nos comentários, a marca foi cobrada para ajudar financeiramente a família de Kathlen. O perfil da Farm respondeu a um internauta, afirmando que irá reverter 100% do valor das vendas que foram efetuadas com o código, enquanto ele estava no ar.
"Vamos continuar dando todo o apoio necessário e pedimos desculpas a cada um que se sentiu engatilhado pela ação de hoje", afirmou.
Morte trágica
Kathlen morreu de tarde de terça-feira (8), durante suposta troca de tiros entre policiais militares e suspeitos na comunidade do Lins de Vasconcelos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A designer de interiores caminhava na rua com a avó quando recebeu o tiro. As investigações sobre a morte da gestante estão na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que deve ouvir testemunhas e realizar diligências para identificar de onde partiu o disparo.
Os policiais militares afirmaram que deram sete tiros de fuzil durante o tiroteio, segundo o portal G1. Segundo a mãe de Kathlen, a jovem foi morta por um policial.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) afirmou que a operação policial era ilegal. “A gente já sabe que foi uma operação ilegal que vitimou a Kathlen”, disse Rodrigo Mondego, procurador da comissão da Ordem ao portal G1.
Em nota, a PM alegou que não era uma operação e que o confronto começou após suspeitos atacarem agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Lins na localidade conhecida como "Beco da 14". Ainda segundo a corporação, a vítima foi encontrada ferida após a troca de tiros. Ela chegou a ser socorrida para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas veio a óbito.
'Vou vencer por você'
Kathlen já havia escolhido o nome do bebê, a quem chamava de "benção": Maya ou Zyon. Por meio de publicação nas redes sociais, ela disse estar "muito feliz e preenchida" com a gestação, apesar dos sintomas iniciais.
"Acordo as vezes assustada e pensando que não é real, mas aí vem uma fome de leão, uma dor de cabeça, um sono inacabável, uns enjoos incontroláveis e as azias que só Jesus me ajudando", relatou.
O namorado da designer, que aparece no registro, o tatuador Marcelo Ramos, a homenageou e disse estar sem chão com a morte da companheira e do bebê.
"Nunca será esquecida meu amor, você, a Maya/Zayon sempre irão morar dentro de mim, estou completamente sem chão, as vezes é difícil entender a vontade de Deus, mas sei que você está melhor que nós", lamentou.
Marcelo termina o texto ressaltando que Kathlen era a "pessoas mais radiante e animada" e complementou: "Vou vencer por você. Que Deus me dê força".
'Queremos paz'
Moradores do Lins realizaram uma manifestação na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, que liga as zonas Oeste e Norte do Rio. Os dois sentidos da via foram fechados com latas de lixo população ainda na tarde dessa terça-feira.
Um cartaz feito pela população pede "paz" na comunidade.
O Centro de Operações do Rio (COR) comunicou que o trecho interditado foi reaberto às 18h35 (Grajaú) e às 19h (Jacarepaguá".