'Família está em pedaços', diz irmã de jovem estuprada após ser abandonada por motorista de app
Suspeito do crime não tinha antecedentes criminais e foi preso em flagrante. Condutor do veículo também é investigado pelo caso
As irmãs de jovem estuprada após ser abandonada desacordada por motorista de aplicativo, em rua de Belo Horizonte, relataram, nesse domingo (6) em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que a família está fragilizada após o crime e pedem Justiça. Um homem de 47 anos, sem antecedentes criminais, foi preso em flagrante suspeito pelo episódio. O condutor do veículo também é investigado.
“Minha família está em pedaços", detalhou Kelly Rodrigues. "Foi de uma covardia, de uma maldade, sem precedentes”, completou Késsia Rodrigues.
O caso aconteceu na madrugada do último dia 30 de julho, quando a vítima, de 22 anos, foi violentada sexualmente após ser deixada inconsciente em frente à porta de casa, pelo motorista que prestava serviço ao aplicativo de transporte. Horas depois, ela foi encontrada desacordada, seminua, em um campo de futebol próximo ao endereço.
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A mulher havia ido a um show com os amigos na noite anterior e, na sequência, seguiu com o grupo para um bar, onde consumiu bebida alcoólica. Ela foi colocada no automóvel por um colega que, segundou contou ao Fantástico, chegou a ser oferecer para acompanhá-la até em casa, mas a estudante teria recusado. Então, ele teria compartilhado o rastreamento do trajeto com o irmão dela. No entanto, o rapaz afirma que dormiu e não percebeu a chegada da familiar.
Ao acordar, o parente percebeu a ausência da mulher e então acionou as outras irmãs. Ao verificarem as imagens da câmeras do prédio, eles assistiram ao momento em que a vítima é abandonada na calçada pelo motorista, por volta das 3h, e em seguida é carregada pelo suspeito.
Quando a gente se deparou com aquela cena de dois homens tirando ela do carro, depois outro homem pegando ela, a gente sabia que alguma coisa muito grave tinha acontecido.”
Outros equipamentos de monitoramento flagraram o homem transportando o corpo da mulher sobre o ombro até um campo de futebol. Ele entra nele e só sai cerca de três horas depois, sozinho.
Uma moradora que se exercitava no local encontrou a vítima, seminua, e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi atendida, mas teria se recusado a ser levada para uma unidade de saúde, segundo o médico e gerente do órgão em Minas, Roger Lage. A família reclamou do atendimento.
Ela chegou [em casa] chorando muito. Não sabia o que tinha acontecido. Contando como ela estava, como a acharam. [Ela] recorda entrando no carro, colocando o cartão no aplicativo para ser pago, e falou que lembra parte pequena do trajeto, depois ela só lembra do momento em que o Samu chegou."
Mais tarde naquele dia, a estudante foi ao Hospital Odilon Behrens, onde realizou exames que constataram o abuso sexual.
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Estupro de vulnerável
Sem histórico de delitos e apenas um suposto transeunte que passava pelo local após a jovem ser abandonada desacordada. Este é o perfil de Wemberson Carvalho da Silva, de 47 anos, preso em flagrante suspeito de estuprar a jovem. Ele foi flagrado carregando a vítima e, depois, deixando o local do crime pela manhã, do dia 30 de julho.
Segundo o sargento da Polícia Militar de Belo Horizonte, Emerson Eustáquio, o indivíduo "falou que realmente estava passando pela rua, encontrou a moça caída, colocou ela nas costas e saiu carregando para levar ela para um lugar seguro".
"Ele não tem passagem criminal e segue custodiado. Ele foi preso em flagrante pela prática de estupro de vulnerável, justamente pela incapacidade dessa jovem de oferecer qualquer tipo de resistência em relação à violência sexual", explicou ao Fantástico a delegada da Polícia Civil, Danúbia Quadros.
Motorista pode ser indiciado
Conforme a titular da Polícia Civil, o condutor do veículo flagrado abandonando a jovem desacordada pode responder pelos crimes de omissão e abandono de incapaz. Defesa dele não se pronunciou à reportagem da TV Globo.
Em depoimento, o homem confirmou que a jovem entrou no carro acordada, mas não parecia bem, e disse que perguntou ao amigo da vítima se ele não iria junto, mas o rapaz teria negado e dito que teria avisado ao irmão dela que a jovem estava a caminho de casa.
Ainda segundo o colaborador do aplicativo, ao chegar ao destino, a passageira estava dormindo. Então ele teria ligado para o colega dela cerca de sete vezes, mas não conseguiu falar com ele. Em seguida, interfonou em três casas do prédio dela, mas não teve resposta.
Após deixar ela sozinha na calçada, ele diz que tentou comprar um isotônico para a passageira, mas que não encontrou nenhuma farmácia aberta próxima à região. Então, retornou ao endereço, por volta das 3h43, mas a estudante não estava mais no local. Conforme o Fantástico, há um hospital a menos de 500 metros da casa da jovem. Unidade é referência em atendimento à mulher.
O motociclista que auxiliou o motorista e o amigo da vítima não são tratados como investigados pelas autoridades, segundo a delegada Danúbia Quadros.
À emissora, o aplicativo 99 relatou que o motorista foi suspenso preventivamente. Na ocasião, a empresa detalhou que o colaborador não entrou em contato com ela através da Central de Ajuda e também não usou o botão de emergência, que aciona a PM.
Tempo sendo carregada gerou doença em vítima
Ainda conforme a entrevista das irmãs ao Fantástico, o longo período sendo carregada de cabeça para baixo e a quantidade de líquido ingerida pela jovem, que nasceu com um problema no esôfago — tubo muscular que conecta a garganta ao estômago —, provocaram uma pneumonia por aspiração e ela teve que retornar ao hospital na semana passada.
A estudante pediu à família para ser levada onde fosse preciso, para que outras pessoas não passem pelo mesmo que ela. Solicitação foi reforçada pela mãe da vítima.