Duplo atentado mata 38 pessoas em metrô de Moscou

Escrito por Redação ,
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Mulheres-bombas atacaram trens lotados; governo suspeita de grupo separatista do norte do Cáucaso

Moscou. Duas mulheres-bomba mataram pelo menos 38 pessoas e feriram outras 64 em trens lotados do metrô de Moscou no horário do rush, suscitando receios de uma campanha mais ampla contra a capital da Rússia por parte de militantes islâmicos do norte do Cáucaso.

O primeiro atentado aconteceu às 7h57 (0h57 no horário de Brasília) e destruiu um vagão parado na estação Lubianka. A Praça Lubianka abriga a sede do FSB, sucessor da KGB soviética, que neste edifício interrogava e eliminava os dissidentes durante as punições da então União Soviética. O segundo ataque foi executado na estação Park Kultury, na mesma linha do metrô, às 8h40 (1h40 no horário de Brasília). A estação fica próxima ao Parque Gorky.

Testemunhas descreveram o pânico em duas estações centrais de Moscou após as explosões, com passageiros caindo uns sobre os outros em meio a nuvens espessas de fumaça e poeira, enquanto tentavam escapar do pior ataque contra a capital russa nos últimos seis anos. Segundo o chefe do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), Alexander Bortnikov, as bombas estavam repletas de parafusos e varas de ferro.

Nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque imediatamente, mas Bortnikov afirmou que os responsáveis têm ligações com o norte do Cáucaso, região de maioria muçulmana e marcada pela insurgência, cujos líderes já ameaçaram atacar cidades, oleodutos e gasodutos em outras partes da Rússia.

O FSB procura por três supostos cúmplices das duas mulheres-bomba. Os suspeitos são duas mulheres de origem eslava, que acompanhavam as terroristas suicidas até a entrada do metrô e que foram filmadas pelas câmeras de segurança, e um homem, de 1,80 metro de altura e cerca de 30 anos de idade, que também poderia estar relacionado ao atentado. A Interpol (polícia internacional) ofereceu ajuda à Rússia para investigar os responsáveis pelos ataques.

A Polícia de Moscou pode ter tido conhecimento prévio sobre os atentados. Várias testemunhas contaram que, no sábado passado, houve batidas policiais e controles de documentação na mesma linha de metrô.

Reação

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, prometeu "encontrar e destruir" os responsáveis pelos atentados. "Eles são simplesmente bestas", disse Medvedev depois de depositar flores na plataforma de uma das estações de metrô. "A política de repressão do terror e de luta contra o terrorismo continuará. Prosseguiremos contra os terroristas até o fim", ressaltou.

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, também prometeu "aniquilar" os criminosos. "Tenho certeza de que as agências de segurança farão todo o possível para encontrar e punir os criminosos", afirmou Putin, durante uma videoconferência da cidade siberiana de Krasnoyarsk. "Os terroristas serão aniquilados", completou.

Suspeitos

Moscou registrou nos últimos dez anos uma série de explosões reivindicadas por militantes da causa separatista da Tchetchênia, uma república do Cáucaso. Alguns dos grupos militantes recebem apoio moral e financeiro da rede terrorista Al Qaeda e dezenas de seguidores de páginas na Internet ligadas à Al Qaeda escreveram comentários comemorando os ataques.

No entanto, segundo alguns analistas, os ataques de ontem têm a marca das “Viúvas Negras”, grupo que surgiu após uma série de conflitos separatistas na Chechênia, iniciados em 1991, com o desmonte da União Soviética, e é formado por mulheres cujos maridos, pais e outros parentes morreram em combate contra a Rússia.

Ao contrário das mulheres-bombas ligadas a grupos palestinos, as “Viúvas Negras” não recebem apoio familiar e são consideradas pelos chechenos moderados uma vergonha. 

PRECAUÇÃO
Obama oferece ajuda; Nova York reforça segurança

Nova York
. O presidente Barack Obama telefonou para o líder russo, Dmitri Medvedev, para oferecer condolências e dizer que os Estados Unidos estão prontos para cooperar com a Rússia nas investigações dos atentados.

"O povo americano se une ao povo da Rússia em oposição ao extremismo violento e aos ataques terroristas hediondos que demonstram um descaso tão grande pela vida humana. Condenamos esses atos ultrajantes", afirmou Obama.

Líderes da União Europeia e o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual o Brasil faz parte como membro não-permanente, também condenaram os atentados.

Segurança reforçada

A Polícia de Nova York reforçou, ontem, as medidas de segurança no sistema de metrôs da cidade. "Em resposta aos atentados com bomba em Moscou, a Polícia de Nova York está aumentando a cobertura policial no sistema de metrôs da cidade", anunciou o porta-voz do Departamento de Polícia de Nova York, o tenente John Grimpel.

Grimpel explicou que não existe uma ameaça concreta contra Nova York e destacou que as medidas adotadas são apenas uma "precaução".

O porta-voz policial não revelou detalhes das novas medidas de segurança, mas no passado representaram mais agentes nas estações, com aumento das revistas e uso de cães farejadores para detectar explosivos.

No ano passado, as autoridades americanas desbarataram um complô para a execução de atentados no sistema de metrô de Nova York. Um homem que disse ter sido treinado pela rede terrorista Al Qaeda foi declarado culpado e a sentença deve ser anunciada este ano.

Principais atentados

13/09/1999


A explosão de uma bomba em um edifício do sudeste de Moscou mata 118 pessoas.

26/10/2002

Um comando checheno com armas e explosivos faz mais de 800 reféns no teatro Dubrovka, em Moscou. As tropas russas atacam e 130 pessoas morrem, a maioria asfixiada pelos gases usados na operação.

24/08/2004

Duas mulheres camicases conseguem tomar dois aviões após subornar os serviços de segurança aeroportuários e os explodem, ao sul de Moscou e a sudoeste do país. Total de vítimas: 90 mortos.

27/11/2009

Um atentado provoca descarrilamento do trem de passageiros Nevsky Express, que vai de Moscou a São Petersburgo e mata 28 pessoas.

TEMA EM EVIDÊNCIA
Terrorismo domina os debates no G8

Gatineau, Canadá
. Os atentados a bomba no metrô de Moscou colocaram em evidência a urgência da luta contra o terrorismo, um dos principais temas em debate entre os chefes da diplomacia do G8, que se reúnem até amanhã em Gatineau, no Canadá.

Como preparação para a conferência dos chefes de Estado do G8 (países industrializados e a Rússia) em Muskoka (Ontário), nos dias 25 e 26 de junho, os ministros vão tratar de vários temas relativos à segurança global: os programas nucleares do Irã e Coreia do Norte, o terrorismo no Paquistão e Iemên, e as tensões potencialmente desestabilizadoras na América Latina e na Bósnia.

Após o bom sinal recebido com o anúncio do novo acordo de desarmamento russo-americano, os atentados em Moscou obscureceram o horizonte das discussões, fazendo lembrar que um ataque terrorrista segue possível.

Os ministros se dispõem a evocar o terrorismo essencialmente em relação à situação afegã, já que os canadenses querem melhorar a cooperação entre os membros do G8 para estabilizar a situação na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, aumentando o comércio entre ambos os países.