Sem parar

Afrânio Barreira, proprietário do Coco Bambu, expõe alguns dos segredos de sua trajetória empresarial e traz conselhos valiosos para quem pretende empreender.

Legenda: “Eu dou pitaco em tudo. Não palpito se quebrou uma torneira e vão trocá-la, mas nas decisões estratégicas e operacionais, participo de tudo. Novidades no cardápio, casos trabalhistas, avaliações... é o dia todo. São 14 horas de trabalho”, pontua Afrânio Barreira, proprietário do Coco Bambu.
Foto: Agência Diário

Foram R$ 780 milhões de faturamento em 2018. Até 2020, a previsão é de que essa cifra alcance a marca de R$ 1 bilhão. Aproximando-se de 40 unidades em funcionamento – em 15 Estados brasileiros e no Distrito Federal – e cerca de 6 mil funcionários, os números deixam claro o sucesso alcançado pelo empresário Afrânio Barreira, à frente da rede de restaurantes Coco Bambu. No entanto, ele não se acomoda, e continua fortalecendo seu negócio – sem levar em conta os fatores externos. “Nunca deixamos de fazer o que era para ser feito, apesar dos planos econômicos do governo e das circunstâncias políticas. Nunca parei de trabalhar e pegar o que ganho e reinvestir na própria empresa”, ensina.

Confiante, Afrânio Barreira ainda vê muito espaço para crescer e planeja a diversificação dos negócios. “De acordo com um estudo feito por uma empresa de pesquisa, o Coco Bambu pode chegar até a 120 unidades. Então, chegamos mais ou menos a um terço do projeto”, explica. “Em breve, vamos abrir nossa primeira casa especializada em carnes nobres, com os equipamentos mais modernos do País”, antecipa o empresário.

Nesta entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o proprietário do Coco Bambu expõe alguns dos segredos de sua trajetória empresarial e traz conselhos valiosos para quem pretende empreender.

DIÁRIO DO NORDESTE: Na sua visão, de que forma os fatores políticos e econômicos do país podem interferir nos negócios?
AFRÂNIO BARREIRA:
Eu nunca levei muito em consideração os fatores externos pra trilhar minha vida empresarial. Porque parece que nunca é o momento de fazer nada no Brasil. No governo passado, havia receio de fazer investimento e nós seguimos nosso curso normal. Nunca deixamos de fazer o que era para ser feito. Seguimos em frente, e foi bom, porque acho que hoje existe uma estabilidade maior, as instituições estão funcionando. Desde que eu comecei a empreender, foram vários planos econômicos e nunca parei de trabalhar e pegar tudo o que ganho e reinvestir no próprio negócio. Eu fiz isso a vida toda e agora, com 60 anos de idade, cheguei à conclusão de que valeu muito a pena. O Coco Bambu nunca pegou dinheiro emprestado, temos endividamento zero. Isso demonstra que somos muito organizados. Eu não relaxo.

Quanto o Coco Bambu ainda pode crescer?
De acordo com um estudo feito por uma empresa de pesquisa, o Coco Bambu pode chegar até a 120 unidades. Então, chegamos mais ou menos a um terço do projeto. Nos próximos 10 anos, queremos chegar nos 100%, se imaginar que estamos abrindo de 6 a 7 lojas por ano. Projetamos fechar o ano com 40 lojas, com mais 60, são 100. Mas tenho outros planos na minha vida: o projeto saúde, com a prática diária de exercícios e cuidados com a alimentação; outro projeto é o de escrever um livro sobre a minha trajetória como empresário. Quero deixar isso registrado para os meus netos. Quero ser sempre o melhor, seguir em frente e manter minha família unida.

Estar presente no negócio todos os dias é um dos seus segredos?
Eu dou pitaco em tudo. Não palpito se quebrou uma torneira e vão trocá-la, mas nas decisões estratégicas e operacionais, participo de tudo. Aprovo investimentos em campanhas de mídia e nos novos projetos. Por exemplo, estamos com um projeto novo, o CB Steak, de carnes nobres do Coco Bambu. Esse restaurante já está com o prédio locado, em Brasília, já começamos a obra, e vamos abrir esse novo blend, um novo segmento que queremos explorar. Pesquisamos no exterior os melhores equipamentos para esse empreendimento. Então, eu acompanho tudo de perto: novidades no cardápio, casos trabalhistas, avaliações... é o dia todo. São 14 horas de trabalho.

Na gastronomia, como fazer para manter a qualidade do que já é oferecido ao cliente e também trazer novidades?
Mais ou menos duas vezes por ano fazemos um levantamento dos pratos que não foram muito solicitados naquele período, tiramos do cardápio e acrescentamos quatro ou cinco itens. Essa mudança não pode ser muito forte. E quando tem um prato novo, faço a degustação pessoalmente. A coisa mais importante para um restaurante é a qualidade dos pratos. No Coco Bambu, é regra só usar os produtos de melhor qualidade. Por exemplo, pode haver dez marcas de óleo de cozinha no mercado, mas só validamos duas para serem usadas nas nossas receitas. Não pode usar outra. E quem determina isso é minha esposa, Daniela Barreira, responsável pelo cardápio dos restaurantes. Mas para se ter sucesso é uma gama de itens: manutenção,atendimento, fardamento, mesa, mobiliário, decoração, gestão de cozinha etc. Não é brincadeira: são 365 dias por ano, almoço e jantar. Começa de manhã e vai até de madrugada, atendendo cerca de 60 mil pessoas todo dia. A responsabilidade é grande.

Qual é a percepção de vocês com relação às exigências do consumidor, ao longo do tempo?
O Coco Bambu é extremamente democrático. A pessoa pode ir a uma das nossas lojas, pedir um prato no almoço, dividir o custo e gastar R$ 25 por pessoa. E vai comer bem. E, se tiver disponibilidade, também pode pedir uma lagosta grelhada e um champanhe e gastar até R$ 4 mil. Nós pegamos todos os públicos. Por termos restaurantes muito grandes, com uma média de 700 lugares cada, temos que servir bem e caber no bolso de muita gente. Com relação às exigências dos clientes, temos  acompanhado isso ao longo dos anos. Nós fomos os primeiros em Fortaleza – talvez no Brasil – a oferecer um espaço infantil, com parquinho e brinquedo, dentro das lojas. Hoje isso é muito copiado.

Se for possível resumir todos os seus conselhos para os empreendedores em apenas um, qual seria?
Um amigo do meu filho estava abrindo uma tapiocaria e me ligou para pedir conselhos. Eu respondi a ele: ‘você só vai dar certo como empreendedor se a tapiocaria for seu time de futebol, a sua religião, o seu lazer e seu trabalho’. Empreender, pelo menos no Brasil, é isso: é uma dedicação, um sacerdócio. É assim que eu me comporto até hoje. Se a pessoa quiser ser empreendedor mas ter uma vida social intensa, participar de eventos, ter vários compromissos sociais, não dá certo por muito tempo, não é sustentável. É trabalhar com qualidade, tentar oferecer o melhor serviço que você puder. Apesar das dificuldades e dos desafios, eu sou otimista com o Brasil, nunca deixei de seguir meu caminho e seguir em frente. Temos empreendedores brilhantes no Ceará, nas áreas de educação e saúde, e precisamos incentivar essa nova geração de estudantes a serem empreendedores, incentivar o desenvolvimento de ideias e gerar novos negócios.

Números
- R$ 1 bilhão é a previsão de faturamento do Coco Bambu até 2020;
- 60 mil pessoas são atendidas todos os dias nos restaurantes da rede;
- 40 unidades é a previsão de lojas do Coco Bambu até o final do ano.