Profissionais superam desafios durante a pandemia

Em entrevista, Ricardo Catunda aborda os desafios e as possibilidades de intervenção pedagógica pelos profissionais de Educação Física nas escolas.

Legenda: Surgiram debates sobre aulas online, dificuldades para a prática de atividades físicas e o próprio ensino da Educação Física.
Foto: Banco de Imagens

Como diversos ramos de atuação, os profissionais de Educação Física também se depararam e continuam se deparando com desafios durante a pandemia do novo coronavírus. E não apenas em razão do isolamento social e do fechamento momentâneo das academias: nesse período surgiram debates sobre aulas online, dificuldades para a prática de atividades físicas e o próprio ensino da Educação Física. “Mesmo que no ambiente escolar já se verifique o esforço por parte de professores e gestores, a visão de ‘recreio orientado’ para as aulas é um empecilho. A Educação Física, como todas as  disciplinas, precisa manter o rigor do ensino e avaliar a aprendizagem para que os alunos possam progredir”, comenta Ricardo Catunda, Conselheiro Federal do CREF5 e profissional de Educação Física. Nesta entrevista exclusiva, ele detalha outros aspectos e desafios enfrentados pela categoria na atualidade.

Diário do Nordeste: Durante a pandemia, quais são os principais desafios para o ensino da Educação Física?
Ricardo Catunda:
Entender e resolver a ausência da interação presencial. Essa questão é um desafio aos professores, haja vista a Educação Física ter como característica a relação por meio das atividades práticas. Outra questão é ser criativo para romper com o distanciamento e trazer os alunos para a responsabilidade compartilhada com a aprendizagem. Por fim, os professores precisam ser criativos e ousados em situações de tanta interação, buscando a proposição de atividades não convencionais e desafiadoras.

E durante o processo de retomada, de que forma fica essa questão do ensino da Educação Física?
Devemos atentar para os procedimentos sanitários, mas também pedagógicos para a retomada das aulas. Importa preservar a integridade física e estar atento à saúde mental. O emocional de alunos e professores está abalado, e precisamos reforçar o que a ciência já comprovou, para além do aumento da imunidade, a necessidade de atividades físicas regulares para a manutenção da saúde. Fatores relacionados às recomendações sanitárias são fundamentais, como higienizar materiais e equipamentos antes e após as aulas, reorganizar os espaços para as práticas, reduzir o número de alunos e controlar o distanciamento entre eles. 

“Devemos atentar para os procedimentos sanitários, mas também pedagógicos para a retomada das aulas. Importa preservar a integridade física e estar atento à saúde mental.” Ricardo Catunda, profissional de Educação Física e Conselheiro do CREF5.

A sociedade (alunos, instituições de ensino, professores, pais etc.) já perceberam a relevância do ensino da Educação Física? Em que pontos falta avançarmos?
Existe um senso comum em relação às aulas de Educação Física. Organismos internacionais, como Unesco, PNUD, OMS, e o Sistema CONFEF/ CREFs, têm defendido o valor da Educação Física escolar para o pleno desenvolvimento humano. No entanto, mesmo que no ambiente escolar já se verifique o esforço por parte de professores e gestores, a visão de “recreio orientado” para as aulas é um empecilho. A Educação Física, como todas as disciplinas, precisa manter o rigor do ensino e avaliar a aprendizagem para que os alunos possam progredir. Para tal, poderá fazer uso de metodologias ativas, com  motivação, desafio, criatividade e protagonismo dos alunos sob orientação dos professores. 

De que forma o ensino da Educação Física se apropriou das aulas online durante a pandemia? Qual é a visão do CREF5 a respeito?
Os professores estão se saindo bem, fazendo esforço para atualização de conhecimentos, e sendo criativos para apresentarem aulas capazes de motivar os alunos por meio remoto. É momento de reflexão sobre as implicações para o trabalho docente de qualidade. É preciso equipar as escolas, qualificar os professores e pensar um ensino que atenda as novas exigências do século XXI. O CREF5 tem atuado de forma a defender as recomendações sanitárias, participar das decisões governamentais e apoiar  webinários em eventos e cursos de atualização para professores.

Como será o “novo normal” para o ensino da Educação Física?
Considero que o aprendizado com base nas tecnologias digitais será consolidado. É sabido que temos uma baixa carga horária nas escolas, e a valorização do tempo de prática deverá passar por uma reengenharia. Não se concebe trabalhar os conteúdos teóricos de forma enfadonha. Esse conhecimento será antecipado aos alunos por meios digitais e levado para discussão, ampliação de informações e experimentação. Pensar também nos saberes que emergiram da pandemia e podem nos tornar melhores, como aprender a lidar com dificuldades, praticar a empatia, valorizar o encontro. Sejamos acolhedores e inspiradores de vidas que passam por nossas mãos.