Silêncio, Ednardo está gravando disco, pense que coisa linda

Legenda: Ednardo está gravando e não tem boa nova que supere a importância dessa hora.
Foto: Alex Costa

O cantor e compositor cearense Ednardo está gravando músicas novas e não tem notícia melhor do que essa neste 2021 tão pesado. Um ano em que morremos tanto, um ano em que morremos como nunca. Deixo a sátira política de lado esta semana. Não há fato ou munganga do presidente bonequeiro que me tire do rumo. Silêncio. Acendeu a luz vermelha no estúdio Jasmin Music, Fortaleza, até o pavão mysterioso ensaiou um rockcordel para a boniteza dessa hora.

Nem precisa mais apostar no carneiro no jogo do bicho, como na canção em parceria com o Augusto Pontes. Tampouco é preciso mudar de mala e cuia para o Rio de Janeiro. O artista tem na sua aldeia toda a modernidade necessária. Os tempos são outros. Pense na mudança! Bem diferente de quando o “Pessoal do Ceará” gravou, no início dos anos 1970, “Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto Na Viagem” — o título mais incrível de uma obra de arte brasileira.

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A relação da dependência do “sul-maravilha”, como era conhecido o eixo Rio-São Paulo, mudou bastante. E não apenas no mundo da música. Lira Neto, vizinho parede-meia de coluna aqui neste Diário do Nordeste, deu a letra: “As coisas não vêm mais de lá. E nem existem mais os tais videoteipes e revistas supercoloridas — fato que, convenhamos, mesmo a menina meio distraída já haverá de ter notado”.

Lira, o cearense que contou a história do samba, de Getúlio Vargas, Padim Ciço e dos judeus “pernambucanos” que fundaram Nova York, tratava de literatura. A música do carneiro vale para tudo. O Nordeste mudou muito. Segue carente em políticas sociais como o país todo, porém já não pode ser resumido às velhas representações dos cactos e das carcaças da seca.

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Silêncio. Chega de teoremas e teorias. Ednardo está gravando e não tem boa nova que supere a importância dessa hora. Só sei que tem a faixa “Bip bip” e tem também “De areia e vento”. Calma, logo mais saberemos de tudo.

Nunca morremos tanto como em 2021, o ano em que mais brasileiros se foram desta para outra. Nunca chegamos tão perto de perder a sanidade mental e o destrambelhamento físico. Psiu. A luz vermelha está acesa no estúdio moderníssimo de Fortaleza. Potência. Precisamos, como nunca, de boas notícias. Ednardo fulora. “Que Deus salve todos nós/ E Deus guarde todos vós”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.