Apesar do mau exemplo de Bolsonaro na ONU, o Brasil quer se vacinar

Enquanto a suspensão da imunização de adolescentes é questionada, Governo Federal protagoniza duas polêmicas desnecessárias quanto à vacinação

Legenda: O presidente Jair Bolsonaro durante discurso na Assembleia-Geral da ONU, em 2019
Foto: Presidência da República
Numa mesma semana, o Governo Federal decidiu suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades contra a Covid-19 enquanto o Brasil corria o risco de não ter a presença da maior autoridade política do País no tradicional discurso de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas porque ela, até agora, não quis se vacinar. A primeira polêmica até surpreendeu. A segunda já era mais do que previsível. Ambas igualmente desnecessárias a esta altura.  
 
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve viajar aos Estados Unidos neste domingo (19) para discursar na Assembleia-Geral, em Nova York, mas só irá porque a própria entidade mudou entendimento sobre as regras de participação no evento.  
 
A Prefeitura de Nova York determinou, primeiro, que todos que fossem participar dos trabalhos precisariam apresentar comprovante de vacinação, o que poderia inviabilizar a participação presencial do presidente. A viagem será possível porque a ONU confirmou, na quinta (16), que não exigirá a prova. 
 
Bolsonaro tem dito que, quando todos os brasileiros estiverem vacinados, pensará se tomará ou não a vacina. O discurso é um desserviço à população. “Estou bem”; “para que eu vou tomar?”, chegou a afirmar durante "live" na quinta, quando também voltou a fazer insinuação irresponsável contra a CoronaVac.
 
A presença garantida na Assembleia-Geral pode ter superado constrangimentos diplomáticos, mas o discurso anti-vacina ainda faz do principal representante do Brasil, hoje, uma vergonha internacional. 

Ministério questionado

Vergonhosa foi também a postura do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no dia em que a Pasta decidiu recomendar que adolescentes sem comorbidades não completassem mais o esquema vacinal contra a Covid. 
 
A mudança de orientação gerou uma sequência de reações negativas. No âmbito político, enquanto o Ministério fala em excesso de doses no Brasil, parlamentares de oposição levantaram a desconfiança de, na verdade, termos poucas vacinas.
 
Outros apontaram que o episódio foi mais uma cortina de fumaça, no qual Queiroga, no apego ao cargo, topou embarcar enquanto vinha à tona o escândalo do grupo Prevent Senior quanto ao uso de pacientes sem consentimento como “cobaias” em um estudo apoiado pelo presidente sobre o “kit Covid” - objeto de propaganda de Bolsonaro e aliados. 

Desorganizar

A comunidade científica também reagiu. O entendimento foi o de que o ministro da Saúde, ao contrariar aprovação da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão ligado ao Governo Federal, atuou na contramão de evidências científicas.
 
Ao usar informações imprecisas – e até completamente equivocadas – para sustentar a decisão, Queiroga se igualou ao presidente para confundir e desorganizar.
 
Fez voltar o desentendimento de estratégia entre União, estados e municípios, ao qual o Governo recorre, de má-fé, para justificar erros e omissões. O Ministério da Saúde se apequenou, mais uma vez, diante de quem o comanda. 
 
Apesar das polêmicas desnecessárias, do mau exemplo do presidente, os brasileiros seguem dando exemplo. Bom exemplo. 
 
Bolsonaro diz não ter decidido, mas o Brasil quer, sim, se vacinar. 
 

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