O que esperar de uma 'frente ampla' após os protestos de domingo (12) contra Bolsonaro?

A junção do MBL com partidos, inclusive de esquerda, para convocar às ruas será capaz de se desdobrar em uma agenda conjunta mais ampla?

Legenda: Protesto pelo impeachment de Dilma em 2016, em São Paulo: MBL foi um dos fiadores das mobilizações
Foto: Agência Brasil

Após conseguir unir o Supremo Tribunal Federal (STF), que reagiu em uníssono aos ataques de 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também é o principal responsável por uma aglutinação até certo tempo improvável de forças políticas nos protestos convocados para este domingo (12). 

A pauta em comum – o pedido de impeachment do chefe do Palácio do Planalto – fará o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, que foram às ruas pela deposição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), marcharem, agora, com partidos de centro e de esquerda, como PCdoB, PDT e PSB. 

Outras legendas, caso de Cidadania, Rede e PSDB, também aderiram à mobilização. 

Ou seja, ela coloca lado a lado movimentos que tiveram participação direta na eleição de Bolsonaro e grupos políticos que sempre foram oposição a ele. 

A sinalização de uma frente democrática que busca dar uma resposta aos recentes ataques do presidente às instituições, porém, precisa dizer que recado quer transmitir para além do domingo.

Agenda conjunta? 

A reivindicação do impeachment do líder do Executivo Federal é uma bandeira clara, mas, diante da postura do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que não demonstra a menor disposição em analisar um dos mais de 120 pedidos já apresentados, a união pregada para convocar às ruas será capaz de se desdobrar em uma agenda conjunta mais ampla? 

Ao contrário de alguns setores de esquerda – PT e Psol, inclusive, não participarão dos atos –, representantes de partidos de oposição que estarão nas manifestações sustentam que o momento exige inversão da ordem de prioridades. 

Parte da direita que, especialmente após 7 de setembro, se colocou contra Bolsonaro, deve dizer a que veio e até onde está disposta a dialogar.  

A defesa da democracia esbarra em um histórico que não se pode ignorar: vai da campanha pela "escola sem partido" à invasão de hospital em meio à pandemia de Covid-19 sob o pretexto de “fiscalização surpresa”. O MBL que hoje se volta contra o presidente já agiu como um típico governista.

Contradições

No que diz respeito às siglas partidárias, a votação da PEC do voto impresso, apesar de página virada com a derrota do Governo, terminou dividida, com votos favoráveis de parte da bancada do PSDB, por exemplo.

Mesmo no centro progressista, é preciso dizer que a defesa da democracia não pode flertar com o conservadorismo ao compactuar com retrocessos relacionados aos direitos das mulheres – para citar um outro exemplo, este local, que gerou críticas ao prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), nos últimos dias.

Os atos previstos para este domingo são uma aposta, sobretudo, das forças políticas que ainda estão longe de emplacar uma “terceira via”. Para que demarquem posição, contudo, será inevitável ter que lidar com contradições. Do contrário, repetirão o que agora criticam, num "recuo" difícil de acreditar.

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