Nos últimos dias um pacto foi formalizado entre os partidos MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania – a chamada terceira via – para um debate prévio de definição de um nome em comum para a disputa presidencial em outubro.
A ideia é que as siglas do centro reúnam forças para lançar uma candidatura competitiva e que seja uma alternativa para quem não deseja votar no ex-presidente Lula (PT) nem no presidente Jair Bolsonaro (PL).
O problema para esse grupo, porém, é que quase todos os nomes cotados para encabeçar a candidatura alternativa estiveram lado a lado com o presidente Jair Bolsonaro seja na campanha, há quatro anos, ou na gestão. A exceção é de Simone Tebet (MDB), apesar de o partido ter integrado o governo.
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Sergio Moro (União Brasil), que havia desistido de concorrer à presidência, agora se diz vivo na disputa. Ele foi nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro e exerceu a função desde janeiro de 2019 até abril de 2020.
Na última pesquisa Datafolha publicada em 24 de março, e a última que inseria o nome do ex-ministro na disputa, os números indicavam que Moro tinha 8% das intenções de voto. Entre os nomes da centro-direita, ele é quem tem se mostrado mais competitivo, apesar da alta rejeição.
Oscilando entre 2% e 3% das intenções de voto para a sucessão presidencial, o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), venceu uma disputa acirrada pelo governo estadual em 2018 na esteira do bolsonarismo. A famosa dobradinha "BolsoDoria" ganhou repercussão nacional.
Eduardo Leite (PSDB), que renunciou ao mandato de governador do Rio Grande do Sul ainda sonhando com uma indicação presidencial do partido, apoiou oficialmente o nome do então candidato Jair Bolsonaro no segundo turno, em 2018. O tucano não tem pontuado bem nos levantamentos dos institutos de pesquisa, marcando cerca de 1%.
Ainda entre os nomes do centro, a senadora Simone Tebet (MDB) também tem pontuado apenas com 1% nas pesquisas. Não havia segurança do próprio MDB em bancar a candidatura da senadora por não acreditar na viabilidade eleitoral. A expectativa agora é que a senadora ganhe força com o grupo. A parlamentar tem se colocado como "independente" nas ações do Senado.
Se não houver surpresas nas próximas semanas, o nome de consenso deverá sair desse grupo. Porém, há uma preocupação que o centro precisa discutir: como justificar ao eleitor que a terceira via teve participação na eleição e no governo do presidente Jair Bolsonaro?
PSDB, com Rogério Marinho, e MDB, com Osmar Terra, indicaram nomes para compor o primeiro escalão do governo Bolsonaro ainda em 2019, logo depois que o então deputado venceu a eleição.
O União Brasil é a fusão do PSL, partido em que Bolsonaro foi eleito em 2018, e o DEM, que sustentou as pautas bolsonaristas no Congresso Nacional.
Será preciso uma engenharia discursiva bastante ousada para convencer o eleitor de que não há de fato uma ligação com a presidência da República.
Além disso, o grupo precisará tirar votos de Lula e Bolsonaro se quiser romper a polarização. Somando grosseiramente as intenções de voto desse grupo (algo que não é indicado fazer do ponto de vista da pesquisa estatística), essa candidatura ainda estaria longe do segundo turno.
Pelo que apontam os institutos de pesquisa, há uma consolidação das intenções de voto em Lula e no presidente Bolsonaro. O desafio é enorme para os adversários.
Agora é saber qual a estratégia será utilizada até 18 de maio (data fixada para a definição da indicação) para que a chamada terceira via se torne vivável eleitoralmente e não seja apenas uma retórica fora do contexto político brasileiro.