Por que o auxílio emergencial deve ter peso político diferente em 2021

Benefício ainda é um indutor importante para o Governo Federal, mas com valor menor, perde-se no emaranhado de pautas negativas

Legenda: Benefício é pago a apenas um integrante familiar. Maioria recebe R$ 150 ou R$ 250. Mulheres chefes de família recebem R$ 375
Foto: Kid Júnior/Diário do Nordeste

Passado mais de um mês desde o retorno do auxílio emergencial, já é possível identificar uma mudança no peso do programa como influenciador político.

No ano passado, com parcelas que partiam de R$ 600 e poderiam atingir R$ 1.200, as rodadas de pagamentos não só irrigaram fortemente a renda de um contingente gigantesco de vulneráreis como, por efeito, sustentaram a popularidade do presidente Jair Bolsonaro e a imagem do Governo Federal, mesmo em meio à miríade de problemas de 2020.

A força propulsora política do auxílio, no entanto, parece perder vitalidade, na medida em que as parcelas, em 2021, contribuem em escala muito menor para a subsistência das famílias.

Para encaixar o benefício no Orçamento, o Governo Federal traçou uma proposta bem mais austera, limitando o apoio financeiro a um integrante por domicílio. A maioria dos incluídos recebe R$ 150 ou R$ 250.

Inflação corrói versão mini do auxílio

Considerando que a inflação dos alimentos situa-se na estratosfera, esta monta, embora obviamente bem-vinda, é insuficiente para garantir o essencial durante o avanço implacável da segunda onda da pandemia.

O amparo limitadíssimo proporcionado pela União neste ano acaba por ser um fardo político, principalmente quando se tem, à espreita, a alta base comparativa de 2020, quando o auxílio emergencial constituiu um brusco fenômeno de ganho de renda no País, em especial para os autônomos.

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Aliás, a forma quase indiscriminada como o Governo liberou o dinheiro no ano passado é um dos motivos do arrocho no atual ciclo.

Milhões de pessoas experimentaram o sabor suculento deste dinheiro a mais no bolso, e agora não o sentem mais. No imaginário do cidadão comum, pouco importam tecnicismos sobre o quadro do Tesouro Nacional, embora caiba aos intendentes zelar pela sanidade dos cofres públicos.

Fica ainda mais difícil, para o coletivo, digerir a austeridade com os gastos relativos ao auxílio quando este zelo com o dinheiro público não é observado em outras áreas.

De acordo pesquisa do Datafolha, realizada na semana passada, nove em cada dez brasileiros avaliam que o novo valor do auxílio é insuficiente.

Aprovação em queda

Este mesmo instituto indica, em levantamento sobre a popularidade presidencial, que o auxílio não exerce mais a função de sustentáculo de Jair Bolsonaro. O mandatário mantém uma parte dura dos apoiadores, grupo que dificilmente o abandonará, mas viu ruir pilares em outras camadas da sociedade, aponta o Datafolha.

A aprovação ao presidente recuou 6 pontos, para apenas 24%, a pior marca desde o início do mandato. Frise-se: quando o levantamento foi realizado, o auxílio emergencial já estava em plena liberação.

No emaranhado de pautas negativas que pairam sobre o Palácio do Planalto - incluindo a CPI da pandemia, a majoração do custo de vida, denúncias sobre o orçamento paralelo, entre outras -, o auxílio emergencial se apequena.

A esta altura, seriam necessários bem mais de R$ 150 mensais para fazer reluzir a imagem do Governo a uma ampla parcela da população.



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