Em entrevista exclusiva, presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueirêdo, afirma que empresas interessadas em produzir hidrogênio no Ceará deverão confirmar investimentos em 2024
Com tratativas avançadas com três potenciais investidores, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) está mirando o ano de 2026 como marco para o início da produção industrial de hidrogênio verde (H2V) no Ceará. O potencial de geração de empregos dessa nova matriz de energia no Ceará é estimado em 80 mil vagas nos próximos anos.
Em entrevista exclusiva ao Sistema Verdes Mares, o presidente do Cipp, Hugo Figueirêdo, afirmou que aguarda para 2024 uma resposta definitiva das empresas interessadas sobre a concretização dos investimentos. O cronograma prevê a construção das usinas no intervalo de dois anos.
"Nosso plano é exportar a primeira molécula de hidrogênio em 2026", projeta Figueirêdo, que assumiu o comando executivo do conglomerado em janeiro.
Os três grupos com pré-contratos assinados são a Fortescue, gigante australiana da mineração; a AES, multinacional de energia; e a Casa dos Ventos, ícone nacional da energia eólica, fundada pelo cearense Mário Araripe.
Investimentos
Além destes, há 21 memorandos assinados para investimentos na cadeia de hidrogênio e outros a serem firmados. Tais protocolos são manifestações oficiais da intenção em erguer os empreendimentos, mas não garantem a materialização destes.
Segundo Figueirêdo — que passou por um período de aclimatação para conhecer a fundo o cenário da empresa, e agora imprime seu próprio ritmo de gestão — o Pecém prevê investir R$ 5 bilhões nos próximos 5 anos. Desse montante, R$ 700 milhões serão reservados apenas para adequações necessárias à produção de H2V. Além disso, informa, empresas de utilidades (que atuam eletricidade, fornecimento de água e armazenagem de amônia) injetarão R$ 1,2 bilhão.
O presidente do Cipp avalia que, inicialmente, a Alemanha deverá ser a protagonista deste mercado consumidor. O país vem capitaneando as principais discussões globais sobre o hidrogênio, principalmente após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, que afetou sobremaneira o setor energético europeu.
"Nós estamos nos preparando para alcançar esse mercado através do Porto de Roterdã, que é nosso parceiro. A expectativa é que tenhamos em torno de 1,3 milhão de toneladas de hidrogênio verde em 2030 passando por Roterdã. Isso representa 25% da demanda total europeia", detalha o executivo.
Geração de empregos
Figueirêdo antevê uma revolução no mercado de trabalho cearense a partir dessa nova indústria energética. Conforme explica, as 28 empresas que compõem o Complexo do Pecém hoje geram 80 mil empregos diretos e indiretos. Com a operação das plantas de H2V, ele acredita que esse número poderá dobrar.
"Se nós imaginarmos que através dessas empresas [os três projetos supracitados] de hidrogênio verde, teremos um investimento de R$ 8 bilhões, não seria absurdo dizer que a gente consegue duplicar o impacto em termos de geração de emprego", projeta.
Muitas dessas oportunidades serão para a construção civil, durante o período de obras das indústrias, mas, evidentemente, haverá vagas para funções especializadas quando as unidades estiverem em operação.
"O que está acontecendo no mundo é um processo de transição energética que acaba se refletindo em mudanças na capacitação e no mercado de trabalho. Quando você observa a possibilidade de produção de energia solar e eólica no interior do Estado, podendo integrar essas pessoas à cadeia produtiva do hidrogênio, é uma enorme vantagem", comenta.
O esforço agora é para capacitar a mão de obra local para a demanda futura, em parceria com agentes como a Fiec (Federação das Indústrias do Ceará), o Senai, a UFC (Universidade Federal do Ceará) e outros.