O que pensam os economistas sobre o cenário eleitoral de 2022

Contornos do tabuleiro eleitoral preliminar já dão alguns indícios sobre a perspectiva de condução econômica. Confira a visão dos economistas

Foto: Shutterstock

Faltam oito meses para o 1º turno, mas o tabuleiro eleitoral que se desenha já fornece sinais preliminares sobre as perspectivas econômicas.

Economistas consultados por esta Coluna têm visões distintas sobre os possíveis impactos do pleito no mercado, mas são unânimes ao criticar a severa polarização das principais forças políticas. O previsível acirramento que virá com a aproximação da votação é apontado como uma cortina de fumaça para os debates realmente importantes para a área econômica.

Entre os especialistas, há quem avalie que o mercado já está em processo de inclinação para um lado; e também há quem pondere que ainda é cedo para isso. Veja abaixo o que pensam 5 economistas — todos eles recém-empossados na Academia Cearense de Economia — sobre o cenário eleitoral.

Ricardo Eleutério

Professor da Unifor e membro da Academia Cearense de Economia

"Esse cenário eleitoral é bastante desafiador. Como tem uma polarização muito grande entre os dois candidatos que se revelam à frente nas pesquisas, Bolsonaro e Lula, nós esperamos que isso não se transforme em agressões, fake news e vale-tudo, deixando a questão econômica, social, estratégica, de planejamento em um plano secundário.

O ano eleitoral é sempre um período para repensar os problemas nacionais e a construção de propostas para superarmos os problemas.

E ainda não se materializaram as propostas econômicas dos candidatos.

Nós temos um desafio de projeto econômico para o País. Há um acirramento político e ideológico muito forte, mas as questões fundamentais, de futuro da economia do Brasil, têm ficado num plano secundário. E vale lembrar que economia ganha eleição e também faz perder eleição."

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Lauro Chaves Neto

Assessor econômico da Fiec e presidente da Academia Cearense de Economia

"A economia tem uma variável que é muito importante, que é a percepção de incerteza. Quanto maior a incerteza, maior o risco e isso afeta consumo, investimento, etc.

Sempre que se tem um cenário eleitoral, existe um potencial de gerar incertezas. Talvez neste ano, esse potencial seja menor, porque já se sabe que dentre os principais candidatos, aparentemente nenhum fará alguma irresponsabilidade econômica ou fiscal.

Nós tivemos mais de três anos do Governo Bolsonaro, onde na área econômica houve uma série de medidas de controle fiscal; no Governo Lula, também houve controle fiscal, principalmente no começo; onde o Ciro Gomes teve gestão, como ministro, governador e prefeito, também teve gestão fiscal, então são elementos que reduzem a incerteza.

Mas como a gente não sabe que tipo de acirramento vai ter no debate eleitoral, não se sabe também o efeito que terá na economia.

Nós podemos adicionar também a variável da geopolítica mundial. Temos um conflito iminente (Rússia x Ucrânia) e esse tipo de conflito influencia muito na economia."

Silvana Parente

Presidente do Corecon e membro da Academia Cearense de Economia

"A ambiência federal vai ser muito turbulenta pela disputa, pela conotação ideológica de polarização. Isso não faz bem para o País.

Nós tivemos quase quatro anos em que imperou muito o interesse do capitalismo financeiro e não da produção e do desenvolvimento. Então, acho que esse debate vai acontecer, do ponto de vista da economia: de quais políticas de desenvolvimento o Brasil precisa para sair dessa estagnação para recuperar a indústria, o emprego.

A questão do trabalho e da renda é muito importante. Esse Governo prometeu e não cumpriu. Criou-se toda uma ambiência tumultuada pelas inseguranças dos posicionamentos do presidente, diante do mundo, das questões sociais. Isso tudo tem influência na economia e no mercado. Sem falar nas questões específicas, de descontrole fiscal, de não transparência nas políticas monetária e fiscal, gerando mais incerteza no mercado.

As lideranças empresariais já sentiram que o caminho do atual Governo não surtiu efeito, mas elas estão muito receosas com as propostas dos outros candidatos, em função dessa polarização ideológica. Ainda é cedo para haver um posicionamento em relação a um candidato ou outro.

Então, eu espero que o debate de cunho científico, com o qual nós economistas podemos contribuir, coloque na mesa essas opções. Não importa se é candidato da esquerda, do centro ou direita, mas é preciso discutir quais são as propostas para a economia do País."

Ricardo Coimbra

Conselheiro do Corecon e membro da Academia Cearense de Economia

"Hoje tem dois cenários mais ou menos desenhados, com Bolsonaro e Lula. Até o ano passado, o mercado estava muito mais propenso a buscar uma terceira via, mas neste momento, parte significativa do mercado acha que é muito difícil a viabilidade dessa terceira via.

A aproximação entre o Lula e o Alckmin está gerando essa nova perspectiva para o mercado, uma guinada. Essa chapa saindo da esquerda para centro-esquerda ou centro, onde o Alckmin seria um fio condutor desse processo com o próprio mercado. Esse cenário começa a se fortalecer. O mercado enxerga que esse (eventual) Governo teria uma gestão preocupada com economia e social.

Pensando pelo lado do Bolsonaro e o porquê do distanciamento do mercado, isso se deve a movimentações populistas, como a possibilidade de criar quebra de teto (de gastos); e movimentos bruscos em relação à democracia, como no 7 de setembro, quando a Bolsa caiu de forma significativa, gerando instabilidade."

Henrique Marinho

Consultor financeiro e membro da Academia Cearense de Economia

"As eleições têm um papel fundamental na definição do rumo econômico. No nível federal, neste ano, não consigo encontrar um horizonte a não ser o Governo tropeçando para tentar resolver problema de inflação, de desemprego, do cumprimento da política fiscal.

O mercado não está mais se inclinando para o lado do atual Governo, porque a forma como ele (presidente Jair Bolsonaro) conduziu a economia não deixou os empresários nada confortáveis em continuar seus projetos.

Os outros candidatos ainda não conseguiram mostrar uma terceira via. Eu vejo a disputa entre Bolsonaro e Lula, e o atual presidente vai ter muita dificuldade em sustentar esse projeto."

 



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