Do fim da Troller à montadora multimarcas: Ceará abre nova era automotiva

Polo automotivo do Ceará vira realidade no dia 3 de dezembro, com início da produção do SUV elétrico Spark.

Escrito por
Victor Ximenes producaodiario@svm.com.br
Legenda: Montadora exibiu veículo no Salão do Automóvel, neste mês de novembro.
Foto: Divulgação

Nos próximos dias, a economia do Ceará receberá uma adição de peso, com o início oficial das operações do Polo Automotivo, onde serão fabricados, inicialmente, unidades do SUV elétrico Spark, da General Motors (GM).

O pontapé inicial será dado no dia 3 de dezembro, em solenidade que contará com o presidente Lula e diversas autoridades; mas a articulação para prospectar um empreendimento dessa magnitude começou bem antes.

Sonho antigo

O sonho cearense de ter uma montadora de grande porte foi nutrido ao longo de várias gestões. Historicamente, fábricas de veículos são projetos cobiçados nos campos econômico e político, comumente associados a uma cadeia de crescimento e emprego ao seu redor. Por mais que a era dourada desse formato tenha ficado no retrovisor, as montadoras ainda carregam potencial para gerar riqueza aos locais onde se instalam.

Para o Ceará, essa ambição acabou sendo frustrada por décadas. Ver Bahia e Pernambuco sendo escolhidos para abrigar grandes empreendimentos automotivos agravou o amargor. O estopim veio com a perda da Troller, marca abandonada pela Ford em sua debandada do Brasil.

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Da Troller à Chevrolet

Ironicamente, no mesmo local onde eram produzidos os veículos off-road legitimamente cearenses, idealizados pelo mega empresário Mario Araripe, serão fabricados agora os elétricos da Chevrolet.

Dessa vez, quem toca o negócio é a Comexport, gigante brasileira de comércio exterior, com a expectativa de entregar 6 mil unidades do Spark em 2026 — para efeitos comparativos, a Troller produzia em torno de 1.200 modelos por ano (5 vezes menos). A empresa será responsável pela primeira planta automotiva multimarcas do Brasil.

Como funciona o modelo

Trata-se de indústria onde uma mesma infraestrutura é utilizada para a produção de carros de marcas diversas. O modelo é praticado em outros países, como o Uruguai. Por lá, a Nordex produz carros da Kia, Peugeot, Citroen, Ford, Geely, Renault, entre outras. Essa planta, aliás, serviu de inspiração para o projeto do Ceará.

Embora possa soar estranho, quem produzirá efetivamente os carros não será a GM, e sim a própria Comexport, principal investidora. As peças virão da China em kits a serem montados na fábrica de Horizonte. Na prática, a GM encomenda os veículos e os adquire da Comexport.

Próximos passos

O desafio seguinte será confirmar outras marcas e fortalecer a musculatura do empreendimento. As tratativas com diversas empresas são intensas, envolvendo executivos da Comexport e integrantes do governo cearense.

Para além da montadora em si, a expectativa é que o novo polo industrial atraia um cluster de negócios e serviços conectados com o setor automotivo.

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