Quem diria que uma criação petista pode ser um dos principais trunfos eleitoreiros para Jair Bolsonaro em 2022?! Na frenética montanha-russa de ironias e reviravoltas da política brasileira, de dar inveja aos mais engenhosos roteiristas ficcionais, este paradoxo nem é tão espantoso assim, mas não deixa de ser inusitado.
Implementado em 2004 pelo então presidente Lula, o Bolsa Família, por anos, foi estigmatizado por alas da direita como um programa de forte DNA eleitoral e rotulado como um apelativo puxador de votos assistencialista.
Lá se vão quase cinco anos desde que o PT saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, e nem o breve Governo de centro-direita de Michel Temer e tampouco o de extrema-direita de Jair Bolsonaro, já no seu terceiro ano, ousaram mexer no programa.
Vez ou outra, especularam-se ideias de mudança de nome, cujo intuito era justamente dissociar a marca Bolsa Família da gestão petista, mas nunca passou disso.
Agora, a pouco mais de um ano das eleições, a ideia do Governo Bolsonaro é turbinar o programa, aumentando significativamente o dinheiro das mensalidades.
Os beneficiários recebem, em média, R$ 192, e o presidente já afirmou que deve ser aplicado um aumento de pelo menos 50% nas parcelas. A ideia é que a engorda no valor ocorra tão logo chegue ao fim o pagamento do auxílio emergencial.
Peso político e econômico
Aliás, não resta dúvida de que a estratégia de robustecimento do Bolsa Família tem amparo no sucesso político do auxílio emergencial que, no ano passado, foi um pilar para a manutenção da popularidade de Bolsonaro em meio à pandemia.
O fortalecimento da musculatura do Bolsa Família não poderia ter um timing econômico e político melhor. Especialistas apontam que os valores estão muito defasados e isto ficou ainda mais evidente com a alta da inflação dos produtos essenciais e a proliferação da pobreza gerada pela pandemia.
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Politicamente, Bolsonaro e equipe correm para emplacar feitos positivos em meio à crescente reprovação ao mandatário e à avalanche de pautas corrosivas que desaba sobre o Governo, com a CPI da Covid capitaneando dia após dia o noticiário e escancarando a horrenda gestão da crise sanitária.
O fôlego extra a ser concedido ao Bolsa Família tem potencial para sensibilizar um contingente significativo de eleitores de baixa renda para o flanco de Bolsonaro, o que numa cajadada só também pode prospectar um público historicamente avizinhado ao petismo.
Na colérica guerra política pelo poder que se desenha entre Bolsonaro e Lula em 2022, pelo que se conhece deles, os dois postulantes, ambos sedentos pela faixa presidencial, deverão usar toda e qualquer medida que os ajude a vencer, pouco importando se, no passado, aquela arma já esteve nas mãos do inimigo.